(des)aventura Segunda
Por tantos anos segui rastros teus sem percerber que tu deixavas no caminho o veneno da rejeição e do desprezo. O sol embassava com ódio a minha visão de ti, mas este eu sei, era pura vigança por deus não lhe permitir saber o que é a noite, que eu tanto venero. Calejei meus pés, e podia-se ver sangue até em meus joelhos, vez ou outra apoiados no chão. Morri tantas vezes que nem me lembro mais, e não foi por você que ressuscitei tantas destas vezes, e sim pelo fato de que um dia talvez eu percebesse que este não era o meu caminho. Por tantas vezes quis me desviar, sair correndo para qualquer direção (que não fosse a sua), mas havia sempre a força maior. As esperanças já se esbarravam em sonhos a tal ponto que eu conseguia sorrir, me parecia que na medida em que eu lhe seguia, você se afastava mais, até que o meu dia chegou e eu te perdi de vista. Você não sabe o quanto foi bom pra mim saber que você não teria mais oportunidade de ver a a lua e se sentir nas estrelas ao meu lado. Há um pedaço em mim que está vazio hoje, mas eu consegui ver que ao seguir o teu caminho estava me desprezando como jamais deixei alguém fazer. Nesta história eu fui o Rei que perdeu a filha para um soldado qualquer, mas com a idéia de que às vezes é melhor jogar algo à correnteza e esperar que nunca mais volte, mesmo que, voltando ao castelo, sinta a falta de alguém na mesa de jantar e tempere a comida com lágrimas de libertação. Você saiu e deixou a porta aberta de modo que entrassem as doenças mais horrendas que eu já pude presenciar. Pude então sentir mais uma vez a morte, mas desta vez eu pude ser o assassino.