Amor Branco

"Abri os olhos e não acreditei no que vi". O jeito era olhar direito e o tempo todo sem poder mudar o foco. Era tudo igual, todas as paredes brancas, todas fofas, cansativas... Minha cabeça explodiria em segundos, ou seria horas, dias? Quanto tempo eu estou aqui?

Lembro-me de que em meu pequeno refúgio poucos objetos eram brancos, gostava do tom bege. Era bom o tempo em que conseguia preservá-lo em minha mente antes de o branco tomar conta.

Não fazia sentido, não fiz nada. Ou será mesmo esse o motivo: o nada.

- O que lhe dá o direito de me prender dentro desta gaiola? Fazer nada é o que tenho, não podes mudar isso. - perguntei à ****.

O tempo que passara não importava mais, não sabia quanto era. Para que me preocupar? Até aqui melhor que minha vida anterior. O único problema são essas faixas em meus braços...

Ao entrar aqui senti um 'baque'. Foi a última vez que vi alguém, esse alguém fechava a porta. Quem fechava a porta em minha antiga moradia era o vento. Ninguém fazia nada por mim, só me usavam. Não sinto falta disso, não tinha amor, eu nunca fui amada, mas amei muito.

Foi um sonho quando descobri que ele era rico, dono de banco. Vinha me econtrar, gostava do meu trabalho, sabia que eu era sua. Mas um dia, descobri. O cafajeste me trocou pela magricela do 312, não deixei passar. Devia saber que acontecia isso nesse "emprego", mas eu estava gostando dele, e ele me traiu. Não queria ser tratada como mais uma, queria ser admirada, cuidada... amada.

Esperei o dia em que ele subia para o quarto dela, a escada de metal emitia muito bem o som de seus passos, descalça eu o segui. Ela esperava ele bater na porta primeiro antes de abrir, só que por um motivo i-nes-pli-ca-vel, ele não chegou até lá. Eu escutei o 'baque'.

Porque sentir pena dele, se depois conseguiram me pegar. Eu tinha arranjado meu amor. Ele perdeu a vida mas eu salvei a minha. Não merecia essas cenas, não podia continuar acontecendo diante dos meus olhos.

Fui despejada, arrancaram-me tudo, prenderam-me no branco sem fim. A loucura me possuía, para mim foi amor. Amar seria tocar o coração, dar carinho, cuidar da pessoa, desejar seu bem, sofrer junto, pensar que tudo poderá ficar melhor com o tempo. Se alguém me amasse, eu nao estaria nesse branco, e como não sei quanto tempo, não muda nada. Não faz a menor diferença.

Comecei a sangrar, o branco se tingiu de vermelho. Seria meu amor se manifestando? Chegou minha hora, a calmaria foi substituída pela dor e afição. Por um momento pensei estar no lugar dele, lá em baixo. Remorso não senti, lágrimas chorei, o amor não fazia mais parte da minha vida.

Liddell
Enviado por Liddell em 07/08/2011
Código do texto: T3145430
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