Eu e a Copa do Mundo

Vamos começar assim: Eu não sou nenhum tipo de patriota fanática. Então, se você acha que todo mundo tem de honrar sua nacionalidade assoprando cornetas, gritando ou torcendo para ricaços durante duas horas de jogo de futebol, está no lugar errado. Vire a página e vai ler meus poemas de amor.

Pra inicio de conversa, eu não sabia que o Brasil jogava hoje. Mas comecei a gostar da ideia quando soube que todos sairiam mais cedo do trabalho. Eu por exemplo, cumpriria apenas uma hora de toda minha carga horária diária. Só de contente, cheguei mais cedo no escritório para editar uns vídeos sobre música que colocaria no youtube. Mas por motivos “baterísticos” não foi possível fazer a transição dos vídeos para o computador.

Havia sido convidada para uma concentração de pessoas e comida e chá, e um lindo telão que claro, deu muito trabalho antes de começar a funcionar para assistir “Brasil x Coréia do Norte”. Eu fui. Aquela coisa de que, o que vale é a diversão. Compartilhar com os amigos as alegrias deles, as vitórias. Essas coisas. Claro que, super descolada do jeito que sou, essas pessoas eram meu pai, minha mãe e um grupo de idosos. Cheguei lá. Ajudei nos preparativos por alguns instantes, sentei. Várias cadeiras. Uma senhora devia estar tão ansiosa, mas tão ansiosa para assistir sua nação em jogo, que de vez em quando adormecia e em alguns espasmos de susto, acordava. Também tinha uma senhora ao meu lado que estava de olho nos cubinhos de queijo e fatias de “pizza de colégio”. Mas não se animou a levantar e beliscar os petiscos. Eu carregava uma mochila pesada com os meus passa-tempo dentro. Não que livros de bolso do Bukowski ou uma edição pequena das crônicas do Fernando Veríssimo, ou até uma barata, em preço e qualidade, edição da Mad faça tanto peso. Acho que o que pesava era a ironia que compunha cada um desses componentes. Dei-me conta de que não precisava ficar ali. Levantei, descolei dois reais e segui rumo à minha residência. Passei por uns lugares bobos, com pessoas bobas, ou ocupadas com nada. Passei em frente ao bar/prostíbulo da cidade. Estava enfeitado com balões verdes e balões amarelos. Os gritos que vinham lá de dentro eram femininos. Talvez os homens que costumam freqüentar-lo estivessem em casa com suas respectivas esposas a lhes servir bolinhos, cerveja e a mesma cara de nostalgia de sempre. Não foi uma caminhada longa. Com certeza eu compraria um Milk Shake na ida para casa. Depois que o Milk Shake terminasse, decidiria em que me distrair enquanto a cidade estava parada.

Havia um casal que não encerrou suas vendas na feira. Alguém realmente precisava trabalhar.

Não tinha dinheiro o suficiente para meu milkshake então resolvi comprar um máster, tander, super sundey de chocolate com cobertura de morango e desnecessários chocolates granulados. Subi. Abri a porta de casa. O meu cachorro me viu e prontamente se espreguiçou. Não sei que significado tinha a minha chegada para ele. Mas ele me pareceu muito feliz.

Sentei na cama. Levantei pra buscar uma colher que não quebrasse. A colher de metal deu outro sabor a toda aquela meleca que eu estava comendo. Alguma coisa respingou no meu queixo. O Otto lambeu. Eu disse para ele não fazer mais aquilo. (Mentira. Só disse isso porque normalmente as pessoas ficam estarrecidas quando vêem esse contato físico entre homem e cachorro.) Liguei a TV num canal legal. Onde estava passando “Cocoricó”. Um programa que eu costumava assistir quando criança. Aquilo tinha um bom sabor. Era confortante. Eu, meu cachorro e minha infância.

Acabei pegando no sono. Mas fui acordada uma hora depois por gritos que vinham da rua e invadiram meu quarto e meu sono e meus tímpanos e meu cansaço. Gritos de comemoração. Ainda sonolenta, senti um pequeno aperto no peito por ouvir aquela algazarra e me sentir sozinha. Daí percebi que é apenas um estímulo auditivo. É como no ano novo. Temos motivos o bastante para não gostar dos barulhos dos fogos. Do jeito em que parecem que vão cair sobre nossas cabeças. E o resto dos animais, que costuma sentir muito medo. Mas as cores são um grande estímulo visual. O brilho, o formato. Então você acaba sempre em grupo estourando bebidas e embasbacado com os fogos de artifício. Você não fica em casa refletindo o que é o tempo e o quanto ele influencia em toda a nossa vida. Era apenas um estímulo auditivo. Responder a minha angústia com aquela lógica, me fez sentir confortável. Dormi novamente.

Um segundo estímulo auditivo. Agora não tinha mais importância. Fiz carinho no Otto. Dormi.

Acordei. Liguei a TV. Nada de interessante, e em um ato falho me peguei colocando no canal em que transmitiam o motivo da coisa toda. Foi daí que o time adversário (do meu país, não meu) fez um gol. Nada mais de estímulos auditivos. A cidade estava parada e quieta.

Saí de casa para encontrar minha mãe. Passou um carro cheio de bandeirinhas e meninas com o rosto pintado de verde e amarelo. Todos alegres. Em picos de excitação. Eu séria, segurando as calças enormes, pois esqueci de colocar uma cinta.

Encontrei minha mãe, meu pai. Uma amiga da minha mãe estava usando umas roupas de palhaço. Como um palhaço torcedor.

Saí com eles para uma reunião do partido. Foi legal. Mas não me vejo atuando naquilo. Prefiro só assistir.

As pessoas ainda estavam comemorando na rua. Seu time havia levado um gol. Mas o que valia era a comemoração. Imagino que tivessem comemorado mesmo que seu time tivesse perdido a partida. Pois quatro anos de espera por uma Copa...

Foi muito bobo, não liguei muito.

Gostei mais da parte em que comprei um Pancho e fui para casa escrever essa história, que para que não fique entediante, vou transformar no seguinte:

Daí, todos estavam felizes com seu time e sua televisão de plasma. Resolvi fugir com o circo e nunca mais voltei para esse planeta.

Óli
Enviado por Óli em 03/08/2011
Código do texto: T3136935