Estrangeiro

Ser estrangeiro muda totalmente o rumo de uma vida. O estrangeiro é alguém que constrói seu mundo. Quando alguém nasce, ele se encontra numa determinada comunidade, uma determinada cultura, com determinados valores e tradições. E se esse alguém sai da sua própria cultura, se encontra com que o mundo é muito maior, e conhece outras culturas, outras tradições, e começa a construir sua própria cultura, e seu mundo não é mais determinado por nacionalidade ou por tradições, mas pela sua própria eleição, seus próprios gostos.

Ser estrangeiro significa que se está dividido em dois, sentindo saudades da terra natal, e sentindo amor pela terra na qual se está vivendo, a qual tem muitas coisas interessantes e novas para oferecer. O estrangeiro não é mais cidadão de um lugar determinado, mas cidadão do seu mundo. E ele sabe que mesmo quando volte à terra da sua origem será uma pessoa diferente, com pensamentos diferentes e formas novas de ver as coisas. Ser estrangeiro é ter a saudade morando para sempre no peito:saudade da família, dos amigos, da cidade em que se morou, de comidas que não há em outros lugares. Mas é uma saudade boa, que faz valorar muito mais o que se tinha, que faz com que, ao voltar, se desfrutem as coisas com mais intensidade. Porém, ao voltar, o estrangeiro sabe que muitos na sua terra não vão compreender, que alguns vão dizer, assim como quem não quer, que "eles nunca deixariam sua amada terra". Que vai ter pessoas que julgarão a decisão que um dia o fez deixar tudo o que lhe era conhecido, empacotar as coisas que pôde em uma mala e partir rumo ao desconhecido.

Ser estrangeiro é aprender línguas novas, conhecer gente nova e desenvolver um sentido diferente de "se virar" na vida. Deve estar aberto a aprender dos próprios erros para melhorar sua comunicação com os outros, deve perder a timidez para perguntar as coisas que não sabe, os endereços aonde deve ir, os ônibus que deve tomar, os nomes das coisas. Deve saber que muitos vão encará-lo com receio, que alguns vão ser preconceituosos e racistas, enquanto outros vão querer conhece-lo de verdade, vão querer ouvi-lo falar de forma engraçada, perguntar sobre sua terra de origem, fazer as perguntas tantas vezes repetidas: "Está gostando daqui?" "O que você acha, é melhor aqui o a sua terra?". E vai conhecer pessoas que virarão seus amigos, sua família no mundo novo que está descobrindo, pessoas que o valorarão, que lhe ensinarão e que aprenderão também com ele.

As pessoas viram estrangeiras por muitos motivos: vontade de descobrir o mundo, desejos de procurar uma vida melhor, um futuro melhor para a família, uma oportunidade que não se pode perder.

E ser estrangeiro é fazer diversas culturas entrar em contato, dar a conhecer o melhor do próprio lar, e aprender as coisas boas que o mundo tem para oferecer, apreciar diversas comidas, diversas formas de se viver. É compreender que somos pequenos em um mundo enorme, e que não somos o centro deste mundo, como alguns, que nunca saíram nem da sua cidade, acreditam ser. E sabendo isto, tomando o que de melhor há nas culturas que se conheceu, o estrangeiro pode ser um melhor cidadão do mundo, mais tolerante, mais consciente de que o mundo é um lugar de diversidade, que não há um valor superior em determinada cultura, determinada raça ou determinado credo, mas que todos são iguais, pessoas vivendo suas vidas, sofrendo suas dores, compartilhando com a sua comunidade.

Talvez o que falte no mundo é um pouco de estrangeirismo. Talvez em algum momento da vida todos deveriam ser estrangeiros, saber o que é se sentir diferente, sentir que não se está no topo do mundo, que não se é donos da verdade, porque no mundo afora há muitas outras verdades, muitas formas de se enxergar a vida. Vale a pena conhecer os outros mundos que existem na Terra. Faz a gente abrir os olhos e se descobrir simplesmente humano, sem restrições culturais, ideológicas, raciais. Faz a gente aprender a ser humilde.

Viviana Carolina
Enviado por Viviana Carolina em 31/07/2011
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