Casa imortal...

No fundo da minha casa há montanhas. Algumas mais baixas que as outras. Do lado direito a vegetação e baixa e com algumas arvores altas. Altas em relação a minha altura. Sou uma criança de sete anos. Do lado esquerdo a vegetação é mais densa e se vê um enorme Jatobá. Vivo muito feliz nesta casa. Ela é de madeira e tem um fogão que funciona de uma maneira que pouca gente conhece: ele funciona com pó de serra.

Meus avós nunca se esquecem de manter o depósito de pó de serra cheio. É lá que passo a maior parte do tempo. Gosto de brincar lá. Faço túneis e copio as montanhas com o pó de serra.

No quintal atrás da casa é um lugar legal. Plantaram chuchu. Chuchu é uma planta que se alastra como pé de abóboras. Na panela, feito pela minha avó é uma delicia. Muitas vezes brinco debaixo de suas ramas, suspensas por um quadrado de estacas feito pelo meu avô.

Ele não é de falar muito. Gosta de ficar atendendo na vendinha que temos na frente da casa, que por sua vez, fica em frente ao colégio. Muitos garotos tomam café com leite e pão com manteiga na nossa venda.

Vou contar um segredo muito particular. De noite costumo levantar com todo cuidado para não fazer barulho e roubar umas colheradas de nata que se forma em cima do leite guardado em grandes caldeirões. É uma delicia. É mais que deliciosa. É divina...

Certa vez meu pai que morava muito longe. Tão longe que não sei dizer aonde veio me buscar. Achei meio estranho aquele homem enorme e fardado estar tão interessado em mim.

Acostumara-me em ser apenas neto e não filho. Nunca tinha vivido nem com pai e nem com mãe. Avós já era suficiente.

Mas ele veio armado até os dentes. Sorriso nos lábios e um brinquedo inesquecível. Um trenzinho com trilho e tudo que se tem direito. Estação e as cores mais lindas num material que hoje sei que é plástico. Vermelho, Amarelo e azul – cores para não esquecer jamais.

Não resisti: fui. Ele era um aventureiro num estado que abria suas portas para homens ousados e empreendedores. Tentou a lavoura. Plantar feijão. Muitas vezes fui levar marmitas com o pão nosso dos trabalhadores nos campos de trabalho, alguns chamavam de roça.

Fiquei com eles por pouco tempo. Não deu certo: uma madrasta sem alma não me aceitou.

Voltei para as ramas de chuchu, as montanhas verdes do fundo da minha única casa.

Não sei que fim teve um trenzinho, mas continuei fazendo túneis para os automóveis cada vez mais novos - que tinham uma única coisa em comum com meu velho trem, o material de que eram feitos...

Mas será sempre minha casa e será sempre uma casa imortal...

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jaeder wiler
Enviado por jaeder wiler em 06/12/2006
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