POR QUE A “FUGA” DA EDUCAÇÃO PÚBLICA?

As pessoas assustam quando digo que sou professor. Meus alunos também não entendem porque me dedico à educação e mais irônico ainda, são meus colegas de trabalho que sempre me dizem para largar essa vida. Digo que tentei, fui aprimorar meus conhecimentos em outros setores que as pessoas diziam serem melhores remunerados e conceituados do que lecionar. Foi um grande erro.

Não que eu não poderia me enriquecer nesses ramos, mas sempre sentia falta de algo. Esse algo era estudar, preparar aulas e expor meus conhecimentos para meus alunos e aprimorar-los. A dinâmica entre professor e aluno é algo intenso e imprevisível, isso pode parecer o caos, e algumas vezes o é, porque não temos apoio de nossos chefes, principalmente, os governantes que nos vêem apenas como profissionais que tentam sugar os cofres públicos toda vez que pedimos aumento, além de incompetentes. Porém é um verdadeiro e periódico aprendizado de paciência, determinação e luta.

CARREIRA NA EDUCAÇÃO

Que a educação pública está ruim, isso é fato e aqui apenas reafirmo o que minha colega Amanda Gurgel vem declarando nos últimos meses. Chamo a atenção no caso específico de São Paulo que a vida dos docentes ACTs ou OFAs (os não concursados que podem estar a anos no Estado ou serem recém ingressos), hoje é dividida em classificações que seguem a maioria das letras do alfabeto. Letras que distinguem, em linhas gerais, a época do ingresso dos professores e o sistema previdenciário, podendo ser INSS, para os mais recentes, e estadual, aos mais antigos.

Com a criação da prova para os não concursados que tinha a intenção de melhorar a pontuação dos professores de acordo com seu desempenho na avaliação, acaba também, prejudicando-os. As categorias inscritas no alfabeto limitam uma boa classificação dos professores com pontuação mediana ou alta na prova, pois, soma-se o de tempo de serviço e classifica-os ainda quanto aos que passaram ou não na avaliação. Os professores ACTs ainda podem ser impedidos de realizar as provas por mérito. Assim é óbvio que muitos professores estão saindo do seu ramo de atuação, não porque querem, mas por desestímulo e necessidade.

Avaliação por mérito chama a atenção dos professores e chamou da mídia, pois promete um aumento substancial no salário, porém limita o acesso a prova aos professores que não conseguem lecionar em uma mesma escola por mais de 3 (três) anos. Agora pergunte a um professor ACT se ele gostaria de lecionar em uma mesma escola por mais tempo. Com certeza ele gostaria desde que tivesse apoio da direção e coordenação e, principalmente, a maior dificuldade é a existência de aulas na mesma unidade escolar para ele dar continuidade em seu trabalho.

A partir da categoria O dos OFAs a coisa piorou, você é considerado contratado e entra em um regime de “duzentena”, ou seja, só pode dar aulas por 200 dias letivos (um Ano) e no ano letivo seguinte você não pode ter aulas atribuídas, isto é, o Estado quer se certificar de que você não vai criar laços empregatícios com ele.

Esses são os maiores fatores de descontentamento e, assim, “fuga” dos professores da rede pública de Ensino do Estado de São Paulo, quando pensamos em carreira. Excluo, por ora, o fator das dificuldades nas salas de aulas. Assim nosso trabalho é classificado, julgado e bonificado utilizando como critérios a prova, a retenção e abandono dos alunos e tempo de trabalho, porém não acredito que essas sejam as melhores formas de mesurar a eficiência de um professor nem determinar sua renda e evolução funcional.

NA SALA DE AULA

A dinâmica da educação me entusiasma, empolga e me faz refletir condutas e experiências, porém na sala de aula não é fácil envolver os alunos. Acredito que as dificuldades estão relacionadas a um contexto que envolve os problemas profissionais dito acima, formação do professor, que penso não deveria ter apenas estágio, mas um período de residência, então, remunerado e após a graduação, onde seria acompanhado de perto por professores cadastrados em universidades para auxiliar o residente a preparar suas aulas, lecionar e preencher seus diários.

Na sala de aula, além de enfrentarmos as diferenças de geração e tentarmos superá-las, temos de enfrentar a indisciplina que pode estar relacionada ao momento histórico que estamos vivendo, onde poucas pessoas sabem como dar limites aos seus filhos, como também, as direções e coordenações ao corpo discente e os professores aos seus alunos. Assim essas são as minhas principais perguntas e acredito que ecoa em muitos colegas: Como agir sem causar um “trauma” psicológico no aluno? Como minimizar os “traumas” já existentes? Como lidar com as diferentes limitações cognitivas? Como multiplicar uma aula para 40 alunos ou mais por sala e tentar superar as dificuldades particulares ou de pequenos grupos? Principalmente quando apenas temos 1 (uma) aula por semana? Quanto tempo seria necessário para conseguirmos preparar essas quantidades de aulas atendendo as dificuldades específicas? As universidades estão preparadas para atender a preparação de seus graduandos nessas realidades? O Estado nos auxilia a enfrentar essas dificuldades com cursos de extensão ou pós-graduação em horários viáveis? Quando encaminho um aluno ao psicólogo, psicopedagogo ou assistente social o maior desafio é enfrentar o preconceito da família e a burocracia, além da dificuldade que a família tem de encontrar a disponibilidade do profissional para atender o aluno. E quando marcada a primeira consulta, dificilmente consegue dar continuidade na terapia de forma eficiente. Lógico que essa realidade é bem divergente da escola particular onde temos apoio dos pais, da direção e coordenação, além de um número reduzido de alunos e com menos disparidades.

Sim, me preocupo com meus alunos, e muitos colegas também, mas não precisamos apenas da eficiência de nosso trabalho, precisamos do apoio do governo, dos alunos quererem estudar, dos pais incentivarem a frenquência nas aulas, participarem da Associação de Pais e Mestres (APM) e o mais importante, estimularem o estudo dos filhos em casa.