Um lugar tranquilo
Quando a gente olha de longe, parece tudo lento, sem vida. Mas de perto é diferente. O lugar é apenas tranquilo.
Os pássaros, como gente que caminha macio, voam silenciosos num céu de um cinza-chumbo. E cantam melodiosos. E o vento nos galhos das árvores retorcidas sobre as águas do rio, e uma canoa longe, muito longe... E do outro lado da margem, garotos pulam de uma ribanceira entre risos e conversas de futebol.
As águas ainda barrentas das chuvas deste ano tomam a cor do céu e dão a impressão de que vai chover. Porém para o nascente, um arco-íris pincela com cores vivas e alegres a tarde. E é um deslumbramento para os olhos, que me sinto muito distante das chaminés das fábricas.
Na areia úmida, uma minhoca resolve se aventurar, mas a luz ainda do sol a faz abrigar-se novamente. Vezes são as ramas das árvores dançando nas águas, vezes é o vento correndo quase dentro do rio. Até os peixes parecem saltar na superfície do rio. Tudo com graça e harmonia.
De repente, um peixe acanhado salta. Depois o nado para debaixo de umas pedras semiencobertas pelas águas e o movimento destas. Uma a uma as ondas vão morrer na areia. Caem a meus pés numa queda morna! – Ping, ping, ping... Que delicia!
Talvez o rio estivesse me convidando a um banho, talvez fossem as lembranças de minha infância...
Talvez eu morasse numa cidade barulhenta e sonhasse com um final de semana num sítio às margens do rio Piracuruca...
O certo é que o lugar era muito tranquilo... Porque minha alma teve vontade de cantar.