Purgatório
Aproximadamente, em torno de 3(três) horas, estarei me preparando para ir diretamente ao purgatório mas com a companhia de Deus, que vai me confortando , ouvindo algumas músicas sertanejas em tom bem alto e cantando.
Por ser a primeira a chegar em frente a um portão 'automático', pois não funciona direito, empregarei toda a minha força da mão esquerda para poder entrar, mesmo usando o controle remoto.
O primeiro a chegar tem uma enorme tarefa de destravar o portão para que os demais entrem com facilidade.
Sempre confiante, sorridente e de cabeça erguida, estacionarei o carro que pertence a meu filho, pararei, olharei para o céu e perceberei que não estarei sozinha, respirarei fundo(engolirei o choro), pegarei minha chave e entrarei, sem minha maleta.
Ontem, percebi que não poderei confiar em todos que possuem uma sala reservada; deixei minha maleta sobre a mesa dessa sala e enquanto andava por todos os lados, confiava nos educadores.
Ao ir embora, percebi que havia sumido R$ 20,00 (vinte reais) da minha maleta , mas não dei importância a esse sumiço pois poderia ser que alguém estivesse passando por dificuldades financeiras.
Maleta essa que ,normalmente, deixo dentro do carro, mas ontem era conselho de classe e não havendo acesso de alunos, por ser uma sala reservada a educadores, confiei; normalmente deixo-a dentro do carro.
Hoje, não poderei nem pensar em levar minha maleta para a sala, prefiro deixá-la dentro do carro.
Abrirei a porta e darei um alegre sorriso sincero às duas funcionárias da limpeza : Arlete e Ritinha(como costumo chamar) e as verei ,profundamente, com sorrisos amargos e dolorosos, devido ao cansaço, pois sei que sempre chamam à atenção delas, fazem fofocas e brigam com essas duas pessoas que possuem a responsabilidade de varrerem 18 salas das 6h às 6h45; mas que ao me verem abrem um belo sorriso e me dão um enorme :"Bom dia, Professora Regina".
Subirei alguns degraus e gritarei "Bom dia" e que Deus abençoe a todos.
Estarei exatamente no páteo, olharei para o palco onde, a minha frente verei a imagem de uma menina, Charles Chaplin e uma bailarina; na lateral esquerda, o desenho de um rosto encoberto com duas máscaras e ao lado direito , pararei e refletirei; pois estarei, exatamente , vendo a imagem de uma mulher, representando uma palhaça...
Pararei por um instante e ficarei olhando para esse palco que me levará a viajar pela minha infância e adolescência: uma criança(que desde pequena , ía para a Praça dos Professores, às cinco 5h,com 9 anos, e seu irmão de 7 anos-in memorian, com o carrinho de engraxate nas costas e caminhávamos sorridentes, para exercer nosso digno trabalho.
Todos, os executivos, naquela época, gostavam de engraxar seus sapatos conosco, pois tínhamos técnicas especiais para deixar seus sapatos brilhando.
Em torno das 7h, íamos à padaria com os trocados recebidos e, contentes, chegávamos em casa, com bengalas-pães; como eram chamadas naquela época e com um saquinho de leite.
Lembranças essas ,difíceis de esquecer; Charles Chaplin, um artista que fazia todos rirem com seu teatro mudo e enfim, uma linda bailarina (eu que adorava dançar e cantar).
Em seguida, correrei para a cantina e darei um grande abraço à Luzia(que costumo chamar de Lu) e perguntarei-a se tem um simples cafézinho; pois colaboramos na compra de pó de café e açúcar, e lá virá aquela senhora sorridente , me dará, como sempre; um abraço carinhoso, me chamará de menina e falará : "Espera um pouquinho, que já, já, estará pronto".
Em seguida, chegará, sempre correndo, o Sr. Adilson (São Pedro); pois as chaves das portas estarão em suas mãos e tem a responsabilidade de estar preparado para abrir todas as portas, antes das 7h.
Momento este, que o gostoso cafézinho da Lu, estará sendo preparado e servirá a mim ,com todo prazer.
Agradecerei-a, darei um abraço bem apertado e voltarei , pois os professores(militantes,partidos da oposição, partidos da situação e partidos da acomodação) já estarão chegando.
Entrarei na sala e darei um Bom dia, de coração verdadeiro, mas logo sairei e começarei a andar pelos espaços escolares.
Alguns me olharão de rabo de olho e darão, como sempre, aquele bom dia forçado;porém quatro, se estiverem presentes (Lourdes, Jaqueline, Malu e meu querido 'filho' Ewerson), falarão : "Oi , Re, tudo bem?" e sorridente lhes darei um abraço bem forte e sincero.
Chamo o Professor Ewerson, de filho, pois sendo um professora(jovem), é moderno, e por ser da mesma área que a minha, é um professor-educador-internauta e, em períodos de afastamento por licença-médica, sempre me substituiu.
Não poderia me esquecer de uma loira, chamada Lúcia, muito querida, que por ser eventual, às vezes, está no período da manhã, tarde ou da noite, e que também me substituiu quando estive em licença médica, mas é Professora de Geografia( mas sempre dava-a instruções sobre a página da apostila de Português que deveria vistar, pois o aluno- já informado antecipadamente sobre minha ausência, deveria fazer) e o Professor Ewerson está, atualmente, dando aulas como eventual e fazendo pós- graduação.
Enfim, o tempo está se passando e terei de estar firme e forte, de cabeça erguida, pois é Conselho Participativo(e estarei fazendo plantão das 7h às 12h20, cumprindo meu horário) e o conselho das minhas salas serão amanhã, sexta-feira, 13.05.2011.
Dia este que será ,forçadamente, o dia do meu juízo final.
Bom dia!
Beijos mil,