ENSINAR É DOAR-SE (NOVAMENTE AOS PROFESSORES)

ENSINAR É DOAR-SE

Essa é uma perspectiva que não me tinha passado ainda pela cabeça. Aliás, já sim, mas não com toda essa amplitude que permite abrir o horizonte do ser humano. É uma doação, mas não uma simples entrega. Ela se faz de modo consciente, perpétuo, desprendido, transcendental. O educador não faz um trabalho, não possui um emprego, mas sim uma opção de vida. Ensinar é antes de tudo, aprender. Não se pode ensinar o que não se sabe, da mesma forma que não se ensina quando não se quer ver no outro uma pessoa não só capaz de assimilar os novos conhecimentos, mas também, por mais limitado que seja, é portador de um conhecimento que vai ser assimilado por quem ensina. No fundo, não há aquele que só ensina e aquele que só aprende. Estou aprendendo muito mais ao ensinar do que ao me dedicar individualmente aos meus estudos. Ensinar é diferente mesmo de aprender, mas supõe a arte de saber doar-se, de saber entregar-se ao outro, deixar que ele sugue sua energia, sua experiência e seu conhecimento para que ele possa crescer.

O ser humano enquanto indivíduo é também um ser social por natureza. Não se pode querer pensar em viver isolado. Precisa aprender a conviver e aprender sobre si mesmo, sua vida e seu mundo. Aliás, em primeiro lugar temos que aprender a nos conhecermos. Não se pode ensinar aquilo que não se vivenciou, aquilo que não está consolidado e sedimentado dentro de si. Conhecer-se a si mesmo é penetrar em suas capacidades e limitações, próprias de cada ser humano. Tendo ultrapassado esta fase, o homem pode aventurar-se pelo mundo da aprendizagem e do ensino. Não se ensina sem aprender e não se aprende sem ensinar. Como educador estou aprendendo a cada dia um novo horizonte e uma nova perspectiva. E é realmente interessante notar que, quando mais se ensina, mais se aprende, e na mesma lógica, mais se percebe ignorante, sabendo que não se sabe e percebendo que aprender é uma constante, que nos acompanhará até a morte. O mundo é o espaço a ser compreendido em sua totalidade e plena dimensão. Aprender convivendo e ensinar experimentando dá-nos a dimensão que necessitamos para não nos tornarmos apenas repetidores de fórmulas antigas e imutáveis, mas de conceitos que se renovam e se atualizam com a mesma velocidade com que caminha a humanidade.

Ensinar é então se doar numa cumplicidade com quem aprende. É saber que seu trabalho forma uma nação, forma pessoas e não as deixa excluídas e sem um lugar dentro de seu país. As crianças, o alvo principal, o futuro. Tranqüilas e livre das maldades humanas, são elas que devem ter a nossa atenção especial. É deixar que elas sejam elas mesmas, mas dentro dos níveis de convivência e harmonia que requer a vida social.

Embora sejam duas atitudes diferentes, entregar-se no processo de aprendizagem é uma arte que não está, assim como as demais, disponíveis para todos. Há um dom de ensinar e um dom de ser educador. É de uma nobreza espontânea saber conduzir o outro no caminho do novo e faze-lo aprender. Levar o outro ao desconhecido, ainda inexplorado e talvez nem imaginado. É preciso para isso ter a paciência dos santos e a disciplina de um monge. Os outros têm seus ritmos próprios e cada um caminha de acordo com o tamanho dos seus passos. Ao educador a missão de perceber o ritmo de cada um e aprender com sua rapidez ou com sua lentidão necessárias ao seu processo de assimilação e sedimentação do conhecimento. Quem não está disposto a doar sua vida em favor do outro não aprendeu direito toda a plenitude do homem. O outro é mais importante no processo de ensino-aprendizagem. O outro é o sujeito principal e vai-se ampliando à mesma medida em que o que ensina vai cedendo seu espaço. Outros virão com a mesma sede de conhecimento e crescimento.

O educador se educa e se supera no processo de ensinar. Tudo o que ele ensina, que dele se esvai, para ele mesmo retorna em forma de aprendizado sobre si mesmo. A partir de sua prática, são multiplicadas as possibilidades de rever seus conceitos e refazer-se para as novas tarefas de sua vocação de ensinar. A amplitude do papel do educador então, se compara ao infinito do horizonte. Sempre há algo novo, algo a se aprender e assimilar, e depois algo a ensinar. Assim a humanidade se constrói e se forma. Aprendendo e ensinando. Doando-se sem cessar. Dar-se ao outro tudo de si, esvaziar-se e encher-se para depois se esvaziar novamente num ciclo constante da arte de aprender e ensinar. Até o dia em que restarem apenas suas lições, perpetuadas na memória de centenas de seres humanos agradecidos. Eternamente agradecidos por ter havido aquele que se doou.

LUCAS FERREIRA MG
Enviado por LUCAS FERREIRA MG em 10/05/2011
Reeditado em 15/10/2011
Código do texto: T2961108
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