CAMINHOS DE MINHA INFÂNCIA!!!!

Linha 853 – Bangú-Barra da Tijuca, uma viagem longa. Fazendo o caminho inverso, subo a Grota Funda e volto aos lugares de minha infância/adolescência. Me chegam os cheiros, imagens, recordações saudosas. Um Amigo me dizia sempre que “podemos viajar no tempo, quando relembramos os fatos de nossa vida”. Hoje, nesse caminho, dou razão à ele. E do alto da serra, na estrada cheia de curvas e de perigos outrora, vislumbro a planície verde, plácida, deslumbrante e, diferente! Já não há tanto espaço vazio, muitos vieram para cá e dá para ver a mudança. Cada kilómetro percorrido, mais as lembranças chegam ao meu corpo cinqüentão. Era nosso caminho da praia, Grumari!

O motel na esquina, lugar de pecado, do proibido, mas mesmo assim freqüentado! Hoje está desativado e sobram ruínas. A reserva ecológica do Exército, um alagado sem fim, mas com “entrada proibida”, despertando desejos de saber o que havia lá. A Fazenda Modelo, tão misteriosa às nossas almas infantis. Nos diziam que os mendigos do Rio iam pra lá. Até hoje não sei se é verdade. A Igrejinha perto dela, tão interior, tão igual até hoje! A Estrada da Ilha, estreita e cheia de curvas, nos levava à Praia da Barra de Guaratiba nas poucas permissões de meu pai português! E os ônibus que nos levavam até lá eram um sobressalto constante e o medo nos acompanhava em todo o percurso. Motoristas loucos, nas numerosas curvas da estrada e pensávamos: será que vai virar? Terror e angústia nos acompanhavam nesse prazer tão raro.

Agora estamos na Estrada do Magarça, hoje povoada. O verde tão cheiroso e belo no passado deu lugar ao cimento de casas não acabadas, tijolos aparentes faltando emboço, muros, cercas e paredes a terminar. Os bichos deram lugar às pessoas que vieram de longe, para viverem em paz, e no “que é meu”.

Percorro com os olhos os caminhos mais rudes, beirando a estrada que trouxe o progresso. Ainda há ruas que são caminhos de terra batida e lamaçal em dias de chuva. Nessa lama enfiávamos os pés para que ela transpassasse nos dedos, com a sensação de meleca. Ainda hoje suja os sapatos, ou então se leva os mesmos nas mãos até o asfalto, andando pela lama com as sandálias de casa ou algum outro mais velho para trocar ao final da caminhada. Na bolsa a sacola plástica para guardar para o caminho de volta. Os quintais se confundem uns com os outros, pois a cerca de arama farpado não se fixa em pé com força!

Estamos quase no bairro “lá fora”, como muitos dos habitantes da área chama “Campo Grande”, cercado de novos mini-bairros com o crescimento da população. São tantos! E a certeza de estar chegando surge quando a Igrejinha do Mendanha, na bifurcação de duas estradas, me lembra os parentes que eu tinha ali e visitava como programa de domingo, todo mundo junto. Agora cada pedaço desses “caminhos de minha infância” são estranhos para mim. Não os vi crescerem, fui para longe ao casar e assim volto ao meu estado adulto, cinquentona! Estou chegando ao meu destino final, Bangu, a infância e suas recordações ficaram pelos caminhos.

Irene Freitas

09/05/2011

irenefreitas
Enviado por irenefreitas em 06/05/2011
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