UM ARGUMENTO CONTRA O NATURALISMO

O que pode parecer uma simples característica humana entre tantas outras, há quem interprete como um fato que justifique a crença no deus pessoal: a capacidade humana para a liberdade e transcendência . Por liberdade conceituaremos a capacidade de tomar decisões, fazer escolhas por vontade e não necessidades biológicas provenientes do curso natural. Por transcendência, definiremos como a capacidade de desprender-se do momento imediato/meio, livrando-se do “aqui” e do “agora” por meio do universo simbólico criado através da linguagem.

Primeiramente, faz-se necessário comentar sobre o que seria a “necessidade natural”.

É fato que, por estar na natureza e admitindo a explicação evolucionista, o homem evoluiu através da seleção natural com comportamento adaptativo. Essa explicação diz que o comportamento de nossa espécie foi conduzido, no seu meio, à sobrevivência e à reprodução. O fim é a perpetuação da espécie, através da sobrevivência do mais apto. Diante disso, pode-se conceituar necessidade como o conjunto de fatores que possibilitam o acontecimento dessa evolução, permitindo a sobrevivência.

No entanto, o ser humano apresenta características volitivas que podem interromper o curso natural. O suicídio é o exemplo mais extremo que encontramos. De acordo com dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Mesmo estando fisicamente bem, mesmo seu corpo estando em boas condições, o homem ESCOLHE tirar a sua vida e , paradoxalmente, põe um fim justamente no processo natural que o trouxe aqui. Argumenta-se possíveis causas naturais para esse ato , tais como aflição, depressão, etc... obviamente, haverá alguns motivos físico-naturais que influenciarão no suicídio, o que não justifica afirmar que tais motivos determinam-no por completo. Até porque, muitas pessoas passam por sérios e graves problemas e mesmo assim não se matam. As mesmas chamadas “causas” geram efeitos diferentes nas pessoas, devido a individualidade. Outras ações, como fumar, se alimentar de coisas não saudáveis , se embriagar, usar preservativos( impossibilitando assim, por escolha, a reprodução) fazem do homem um ser que tem controle sobre o ciclo natural. Por motivos muitas vezes banais e chulos, o ser humano rompe com o processo demorado e rígido evolutivo que o trouxe aqui. Não estamos falando aqui de coisas do tipo anormalidades devido a ajustes transitórios , casos biológicos particulares, mas de atitudes extremamente comuns no cotidiano de qualquer pessoa ( quando comemos algo que sabemos que não é saudável, por exemplo, estamos interrompendo o curso natural).

O que se pretende discutir aqui é, obviamente, a explicação filosófica que podemos tirar disso. Se o naturalismo for verdade, então não há nada fora da natureza e a realidade se limita ao natural : toda coisa/ evento, é produto do sistema total (sistema interligado da natureza. Para isso, seria necessário pressupor que o homem possui um núcleo biológico que o permitiu desenvolver tais habilidades. Mas não se sabe como e porque tal núcleo existe, e somente no homem.

Em algum lugar de seu livro "O Deus de Dawkins", o biofísico e teólogo Alister McGrath concluiu:

“Portanto há algo de diferente na humanidade, afinal de contas. Parece que evoluímos a ponto de poder nos rebelar precisamente contra o processo que, a princípio, nos trouxe aqui”.

O filósofo C. S. Lewis disse ,em seu livro " Milagres", que sempre que identificarmos em alguma coisa qualquer grau de independência do sistema total, temos um argumento contra o naturalismo.

A sobrevivência e perpetuação das espécies constituem expressão do caráter da natureza como um todo, em sua organização viva. Através dos dados observados, sabemos que todo e qualquer ser vivo, independente de suas variadas características adaptativas, vive determinado por seu meio, pelo seu ambiente. Seu comportamento é verificado como determinado por seus genes, comportamento que encerra na sobrevivência e perpetuação da espécie.

É válido ressaltar que o nosso DNA favorece determinados comportamentos, mas não determina nada. O ser humano tem controle sobre suas ações e o curso natural . O exemplo superior que temos é o suicídio. Nenhuma outra espécie o comete, apenas o homem. Temos aí um dado que, aparentemente, não possui relação com o sistema total da natureza. Por que o homem tem essa capacidade?Cabe mencionar agora que , frequentemente, essa pergunta gera a possibilidade de duas respostas. A primeira seria a científica, na qual seriam buscadas as causas naturais para tais atitudes. Mas a resposta científica encerra em alguma lei natural ou arranjo de coisas, não podendo assim explicar porque existe tal lei ou arranjo, em primeiro lugar.

Então abordaremos uma explicação filosófica:

Temos tais capacidades (liberdade e transcendência ) pois a existência da própria natureza é um ato mediante escolha livre por um agente transcendente: Deus criou o mundo porque quis, e não por necessidade. Como Deus transcende a realidade natural e doa ao homem a capacidade para a liberdade, este tem a capacidade de controlar o curso natural. O homem possui um espírito livre que pode agir livremente contra o curso natural. Essa explicação nos parece aceitável racionalmente dado o seguinte silogismo:

1: Sempre que identificarmos em alguma coisa qualquer grau de independência do sistema total da natureza, temos um argumento contra o naturalismo.

2: O homem tem a capacidade de agir independentemente do sistema total da natureza, no que diz respeito à sua organização viva.

Logo: Temos um argumento contra o naturalismo.

Se as premissas forem verdadeiras, então de fato temos um argumento contra o naturalismo.

Vanessa Patrícia
Enviado por Vanessa Patrícia em 11/04/2011
Reeditado em 22/06/2015
Código do texto: T2901824
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