Pequena tragédia urbana
Por: Valdeck Almeida de Jesus
Viagem para o carnaval para descansar. Levei comigo minha secretária, para curtir umas férias de sete dias. Ela gostou, pois aproveitaria esse tempo para visitar a família e reencontrar amigos. Foram seis horas de viagem, de Salvador a Jequié, passando por Santo Amaro, onde peguei minha irmã Ivonete Almeida de Jesus. De lá, segui direto para Cachoeira, São Félix, Muritiba, BR-101 e algumas cidades ao longo da mesma como Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus, até entroncamento de Lage.
Na BR-420 passei por Lage, Mutuípe, Jiquiriçá, Ubaíra, Santa Inês, Itaquara, Jaguaquara e cheguei à BR-116. Dali, mais 43 quilômetros, chegamos a Jequié. Feliz por chegar e louco pra fugir da cidade. O calor estava em 45 graus de temperatura sufocante, escaldante e insuportável. Dei um pulo em Vitória da Conquista, onde o “calor” estava tão gostoso que eu dormi de edredon. Na volta pra Jequié, trouxe comigo outra irmã: Valdecy. No carro, além de mim e Ivonete, estava também a secretária, Andrea.
Brincamos muito no asfalto, contamos piadas e tiramos sarro uns com os outros. Ao chegarmos em Jequié, três horas depois da partida, fomos supreendido por um fedor infernal. Deinha, como é conhecida Andrea, tinha cagado, literalmente, nas calças. Uma mulher de dezenove anos de idade, tinha ficado “tímida”, envergonhada de dizer que queria ir ao sanitário e saiu de Conquista com vontade de se livrar de uma dor de barriga que lhe tinha atacado. Isso foi motivo de piadas e gozações por três dias. Mas passou.
Ao chegar a Salvador, de volta por Santo Amaro, uma tragédia nos aguardava. Conosco, no carro, vieram Ivonete e Xanda, para curtir a terça-feira de carnaval. Por causa da chuva, resolveram dar um tempinho em minha casa. Azar nosso. Ao abrir a porta, fomos bombardeados por um enxame de bichos de moscas por toda a casa, uma fedentina que não se pode nominar, um mal cheiro tão violento que me fez nausear e vomitar. Pensei logo: Deinha cagou de novo; melhor, cagou e não deu descarga. Entrei em casa correndo, quase cego, com uma camisa tampando o nariz e corri ao sanitário. A tampa estava baixada. Não quiz me certificar: apertei o botão da descarga e aguardei aquele odor se dissipar.
Segundos, minutos e nada! Vomitei feito louco na pia, tomei um banho apressado e corri para o quarto, onde me tranquei, na tentativa de escapar da tragédia. Mas o bodum me acompanhou. Pior: estava instalado nas paredes, nos móveis, nas roupas, no chão, por todo canto. Não havia como escapar. Parecia que eu estava em meio a uma guerra bacteriológica.
Meu Deus. Passado o susto eu imaginei: E se o meu apartamento não fosse no último andar? A vizinhança teria dado queixa na polícia, os bombeiros teriam arrombado a porta a machadada em busca de um defunto em “adiantado estado de decomposição”, ou, literalmente, podre. E a decepção seria grande, pois a carniça era uma panela de carne dentro do forno, de onde jorravam rios de larvas se arrastando pela casa, empestiando todos os cômodos. Gastei uma pequena fortuna comprando detergentes, desinfetantes, águas sanitárias e outros produtos de limpeza. Após a via crucis, joguei todas as panelas no lixo, junto com panos de prato e panos de chão, bem como pratos, talheres, vasos, vasilhames etc que tiveram contato ou estavam perto da fonte de podridão…
Só o tempo vai levar embora a lembrança daquele pesadelo. O fedor, aos poucos, já se esvai. Dos males, o menor.