A viagem ao fim mas não ao esquecimento!

Finalmente decidimos visitar o litoral, eu e meu irmão mais velho. Estávamos entusiasmados com a ideia e acima de tudo felizes pois aquela viagem representava para nós a confiança que mamãe nos depositava, meu irmão era muito responsável na minha opinião, na dela eu já não sei. Viagem calma, se não fosse o destino, frio e como sempre surpreendente. Seguíamos viagem falando sobre o nosso futuro, aonde íamos morar, o que íamos fazer e, no meio da conversa ele faz uma pausa para me dizer o quanto sou importante na sua vida, o quanto era essencial para ele, ter- me perto. Pediu- me desculpas pelas vezes que ficara bravo comigo, pois eu sempre queria imita-lo e as vezes fazer o que eu não podia, o que acabava limitando- o de fazer também. Me revelou que aquilo o fazia se esforçar ao máximo em ser o melhor exemplo possível para mim, e que tinha se tornado uma pessoa melhor. Olhou para mim com os olhos d'agua e com voz tremula, meio como se estivesse contando um segredo, me falou com carinho: ─ Meu ∞irmão∞, eu te amo. Não sei o que seria da minha vida se não fosse você. Nos emocionamos juntos. Eu sem saber a complexidade daquilo tudo mas, sem saber, sentindo o mesmo.

Quando voltei meus olhos a estrada apenas vi aquele motoqueiro, louco e bêbado em nossa direção, tentou desviar mas, sem qualquer chance de sucesso atingiu em cheio o lado esquerdo de nosso carro, onde dirigia meu ∞irmão∞. Olhei para o lado e vi aquela cena que meus olhos se negavam a olhar mas, que meus ouvidos, sem escolha alguma ouviam os gritos ensurdecedores da morte a chamar meu ∞irmão∞, os gritos de agonia, provocados pelas ferragens em suas pernas e os estilhaços de vidro em todo seu corpo. Dor que em poucos segundos se tornou irresistível, insuportável. Os ferimentos de meu corpo de nada doíam se comparados a dor em meu coração, minha decepção com a vida, ou com a morte, e até com meu próprio ∞irmão∞. Não conseguia olhar para o seu corpo, que costumava me lembrar agitação, agora imóvel. Seu rosto ainda com sua última expressão de dor era quase que impossível para meu entendimento inconsciente pois sempre vi meu ∞irmão∞ como uma espécie de super- homem por cada um de seus gestos e atitudes para comigo. Para mim ele representava a força e a inteligência, a coragem e a sabedoria, estava sempre pronto a responder qualquer dúvida que eu tinha, e foram tantas, que ele parecia já saber o que eu ia perguntar, sempre conseguia fazer tudo aquilo que minhas limitações físicas não me permitiam. Quase todas as noites eu o fazia afastar meu guarda- roupas e olhar debaixo de minha cama, me protegendo dos monstros de minha própria imaginação, toda noite eu explicava a ele, que havia um atrás do guarda- roupas, um debaixo da cama e outro atrás das cortinas, que só iam embora quando ele me dava boa noite, ele sorrindo dizia que sim. Lembrei- me naquele instante das estorias que ele já cansado mais não desanimado me contava, fazendo gestos e vozes, as vezes meio ridículos para me fazer rir. A morte agora, tinha um sentido diferente daquele das estorias que ele contava, pois quando um personagem morria, podia pedir a ele para que me contasse outra. O destino não atendeu a esse pedido.

Tudo aquilo tinha desabado bem ao meu lado, pela primeira vez vi meu ∞irmão∞ como um humano, na forma mais expressiva da humanidade, a morte. Não foi capaz de se defender do maior mostro de todos e que assombra a cada um de nós, não teve forças para ser maior. Meu ídolo caia, e com ele uma parte de mim.

- Encerro por aqui, pois as lágrimas já não permitem ao papel absolver a tinta da escrava de minhas ideias. -

Pádua Júnior
Enviado por Pádua Júnior em 02/03/2011
Código do texto: T2824803