A Importância do Livro no Brasil do Século 21
No Brasil, o advento da Era da Tecnologia, com ênfase para a Televisão, aliado à falência dos modelos tradicionais do ensino da leitura e escrita, contribuiu significativamente para que, a partir da década de 60, o livro diminuísse bastante a sua influência como meio de comunicação importante no processo de transformação do brasileiro. Já a partir de 1990, os computadores, em maior escala, entram em cena, atraindo milhões de leitores, especialmente os infantis, por sua linguagem ágil, decodificada e sem compromissos com a capacidade crítica. No entanto, ainda agora, no século 21, no meio das excessivas ofertas de comunicação tecnológica, o livro, comparado a outros meios de comunicação, tanto nos aspectos cognitivos e psicológicos do processo de ler, quanto nos aspectos referentes ao manuseio e emoção das histórias, continuará significando, a exemplo do que ocorre desde a “Bíblia de Gutemberg”, em 1456, o instrumento mais adequado para caracterizar o ato de leitura como deve ser: analítico, construtivo e estratégico.
Observamos que o ensino da leitura e escrita era, até 1960, muito centrado na prática diária de cópias, ditados e leituras de textos de livros e que, até esse tempo, também a maioria das regiões do Brasil dispunham muito precariamente de aparelhos de TV. Então, os jovens e crianças da época tinham na leitura de textos, impressos ou não, a sua principal fonte de informação e lazer visuais: livros didáticos, gibis, historinhas infantis, filmes legendados. O resultado é que eles liam e liam muito: para aprender e para se divertir! Por isso, a maioria dos cinqüentões e sessentões de hoje, que fizeram pelo menos um bom Curso Primário, possuem uma maior cultura geral e melhor capacidade de expressão oral e escrita, compreensão e memorização textual do que uma parcela significativa dos nossos jovens universitários.
O modelo tradicional do ensino da leitura e escrita começou a falir a partir da massificação do ensino preconizada pela Lei de Diretrizes e Bases de 1961, porque um contingente enorme de alunos egressos das mais diversas camadas sociais passou a ter acesso à Escola e aquele modelo não mais lhes podia atender. Nenhum outro modelo eficaz se lhes foi apresentado e enquanto caía a prática diária das cópias e dos ditados, a TV invadia os nossos lares, proporcionando informação e diversão áudiovisual rápida e confortável, dispensando legendas e o consequente esforço mental de interpretação. A leitura dos gibis e das historinhas infantis também foi ficando para trás.
Depois veio o cinema dublado e, por fim, a Internet, e a leitura do livro impresso caiu drasticamente, caindo também nesse mesmo nível a capacidade de expressão escrita. A expressão oral, que consiste muito mais na reprodução do vocabulário ouvido da TV e dos pais, ao contrário, melhorou. Criancinhas de cinco ou seis anos, hoje em dia, já dialogam ou manipulam palavras com maior desembaraço do que antigamente.
No entanto, desde Gutemberg, que a cultura dos povos se transmite, de geração para geração, através do livro. Enquanto a transmissão dessa cultura se baseou unicamente na tradição oral, muito da história das civilizações se perdeu na poeira dos séculos. Além disso, ao ler um livro, evoluímos e desenvolvemos a nossa capacidade crítica e criativa. Habilitarmo-nos à leitura do livro e transformarmos essa leitura em saudável hábito, nos parece, pois, condição indispensável não só para garantirmos a preservação da nossa cultura através dos tempos, bem como para superarmos a crise de construção do significado por que passam os nossos jovens atualmente.
No Brasil do século 21, a importância do livro em nossas vidas é tão grande quanto o era antes da TV e da Internet, haja vista que o que nos interessa mesmo não é podermos contar com gerações futuras de brilhantes papagaios, mas sim de cidadãos procurando e extraindo dos livros e de outros meios de comunicação as informações pertinentes ao exercício da sua cidadania.