Anjo

Abri os olhos e não consegui acreditar no que vi, era uma espécie de espuma que flutuava. Senti uma leveza em meu corpo, parecia que estava em meu corpo, parecia que eu estava flutuando.

Um barulho ecoava no fundo. Não, não era um barulho, mas sim uma música angelical, leve, gostosa, que me fazia feliz, alegre, mas ao mesmo tempo, eu me sentia estranha, confusa,...

Foi então que ouvi um estrondo, dava a impressão que ser um raio. Sinos se misturavam com aquele som grosseiro, que demonstrava uma certa autoridade.

De repente, meus pés começaram a flutuar. Senti que algo balançava em minhas costas, olhei para trás e via que dias enormes asas balançavam fazendo um movimento leve e sereno. Eu havia virado um anjo.

Sorri, sorri para mim mesma, aquela sensação de leveza era extraordinária. Os ventos faziam carinho em meu rosto. Eu estava feliz, de bem com a vida, se é que virar um anjo é estar viva. Isso era o que menos importava naquele momento, o que importava era, pela primeira vez, eu que sentia feliz, pois no meio de tanta desgraça na Terra era impossível me sentir feliz, era como se faltasse uma parte de mim. Crianças abandonadas, violência...

Fechei meus olhos e respirei profundamente, o cheiro de rosas entrou em meu corpo, dava a sensação de que aquele aroma purificava minha alma. Abri os olhos, tentei achar as rosas, não as encontrei. Elas não existiam, mas o aroma existia e purificava intensamente meu coração, a minha mente,...

Num instante, ouvi uma ópera ao fundo, então uma luz surgiu. Uma luz intensa, que me cativava, me hipnotizava.

A cada passo, o pulsa do meu coração acelerava mais. Senti um frio em meu ventre, uma sensação de desejo encobria meu corpo naquele momento.

A luz ofuscava meus olhos. Toquei-a, senti uma certa delicadeza, que aos poucos ia me envolvendo fazendo com que entrasse em um êxtase profundo.

Respirei fundo, pouco a pouco, o meu corpo ia se entregando à luz...

Agora meu corpo pertencia a luz, a luz que todos procuram achar em seus momentos de escuridão, de vazio, O desejo vencera novamente: não consegui me contentar, meus pés pisaram no terreno sagrado, no terreno em que a luz iluminava.

Agora, o cheiro de rosas havia sumido, como se alo quisesse esconder um sonho, um desejo, querendo trazer de volta o cheiro da realidade, um cheiro amargo e triste.

Um som soa ao fundo, um som grosseiro, que me deixara perturbado. As minhas asas estavam sumindo, meus pés estavam pesados, caí.

Tudo estava preto. Levantei-me, e comecei a rezar. Naquele instante tudo começou a ficar colorido, iluminado. Móveis revelavam que eu estava em meu quarto, na Terra.

Então, ouvi minha mãe me chamar. A alegria e a sensação de ser amada envolveram minha alma naquele momento.

O cheiro de rosas invadia meu corpo, mas desta vez, as rosas existia, e estavam na minha roseira. A brisa soprou em meu rosto, senti a sensação de liberdade, mas desde vez, eu não estava voando, mas sim, com os pés no chão, firmes na realidade. Tudo isso revelava que até mesmo na Terra é possível existir o céu. O céu que todos procuram, mas que está ali, na ponta do nariz de todos o prazer de viver, viver cada momento como se fosse o último.

Daniel Campos de Criptana
Enviado por Daniel Campos de Criptana em 21/02/2011
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