CIÊNCIA E SUBJETIVIDADE: A IMPARCIALIDADE NO JULGAMENTO DO OBJETO E AS IDEIAS

Pode-se conceber a ação do ser humano sem o uso da subjetividade? Qual a posição da ciência a respeito disso, quando julga um determinado objeto por algum ponto de vista? As ideias diversas seriam possíveis de acontecer na falta de imparcialidade?

Mais um dia normal e corriqueiro no tribunal, onde o juiz, após ouvir as partes interessadas e esperar a conclusão quase unânime dos jurados, que considerou o réu culpado pelo estrago daquela moto, bate o martelo e diz: está feito. O Sr. Antônio Marcos da silva Ribeiro será condenado a pagar os prejuízos sofridos pelo queixoso José Martins de Souza.

Já se passaram alguns meses desde a descoberta científica de que Plutão não mais seria considerado um planeta. Mais pareceria uma Lua, devido a seu status de tamanho em relação aos outros planetas do nosso sistema solar. Agora os livros didáticos informarão que nossa via láctea tem oito planetas, a invés de nove.

No Rio de Janeiro o Cristo Redentor representa um monumento importante e um belíssimo cartão postal aos visitantes do lugar. Quem saberia responder se a grande estátua está de costas para as pessoas, se os abraça e abençoa firmemente? Teríamos assim uma discussão interminável porque entraríamos no mérito da moralidade ou religião; alguns não discutiriam por julgarem bobagem; outros, porém, teimariam em suas hipóteses e haveria quem dissesse que o cristo não abençoa, fora a possibilidade de muitos cientistas se pronunciarem com seus pontos de vista, dizendo que a resposta não há, pois depende de quem olha e como se olha para o objeto em questão.

A AIDS não é contagiosa, pelo menos não como pensávamos antes. Isso afirmava os cientistas de uma época passada, dai ficou a crença de que um simples aperto de mão poderia ser perigoso. Também não morremos de AIDS. Quem se convenceu disso? Bem poucos e cada vez menos. O contato com os fluidos sexuais das pessoas contaminadas ou com o sangue também contaminado, por uso compartilhado de acessórios hospitalares pode bem ser a porta de entrada para o contágio. Morre-se por uma gripe mais simples, por uma ínfima bactéria. Não pela AIDS, que (apenas!) destrói o sistema imunológico da pessoa, o qual é responsável pela defesa do organismo.

O ser humano constrói seu mundo a partir das ideias. Tudo o que faz é pensado para melhorar as formas de viver (excluo o atentado do 11 de setembro e tantos outros, que ali os homens estavam se matando mesmo). Tais coisas acontecem porque aprimoramos nosso mundo através de experiências vividas ou relatadas. Experiência é aquilo vivido por alguém e repassado a outros para que aprendam e possa ter a mesma experiência, que será a mesma em conteúdo, mas diferente em sensações, pois cada um pensa de maneira diferente e por isso julga diferente. Tantas serão as opiniões quantos forem os observadores de um mesmo objeto. Assim, as possibilidades podem ser infinitas e os resultados podem ser desastrosos. Se, de um lado, uma opinião futura pode corrigir um erro, a mesma pode induzir a um pior que o anterior.

Como podemos saber quem foi o real culpado pelo estrago feito na moto, se não estivéssemos lá para ver? Como julgar se os dois vinham em direção oposta e se chocaram em alta velocidade? Quem dirige sem habilitação ou alcoolizado pode levar a pior nisso tudo. Não fomos nós que inventamos isso agora. Já foi inventado, criado por outros homens como regra e lei de sobrevivência e manutenção da ordem. Desse modo, seguimos conceitos e julgamentos feitos por outros, que podem estar certos ou errados, até que alguém mude tudo outra vez, e erre ou acerte de novo. Se todos os pensamentos fossem iguais, ou não erraríamos, ou não acertaríamos, porque não haveria erro e acerto, já que seria uma a ideia, uno o julgamento, e toda a dualidade de forças desapareceria.

Se é verdade que todo objeto observado poderá receber um julgamento diferente para cada espectador que contempla-o, como poder ter certeza de que um dizer científico, uma nova descoberta estará de fato correta e bem aplicada? Poderíamos dizer com precisão quando uma possível chuva de meteoros extinguiria a raça humana? Será que todos concordaram que plutão não é mais um planeta? E se outro olhasse a nossa lua e afirmasse ser um meteoro em órbita ou um planeta, ou simplesmente mudasse o padrão único e nosso planeta de chamar a nossa lua de lua e atribuir um nome qualquer, difícil de pronunciar, assim como as luas dos outros planetas? Negue a ciência uma verdade que ela mesma propaga: todo julgamento e toda ideia concebida parte de uma observação subjetiva.

Quem se importa se o Redentor vira de costas para alguém? Quem se importa com a ciência e suas teorias complicadas? Quem se incomoda ou se comove com esse texto, aparentemente sem lógica e sem função? Muitos se importam, outros nem pensam sobre essas coisas. É questão de subjetividade e até otimismo crer que Cristo está sempre de braços abertos. Ver claro ou escuro um objeto num dia de sol depende das condições de que vê. Ou acha que um cego veria da mesma maneira? Depende da maneira que olhamos o objeto. Isso é subjetividade. É pessoal e diferente, sejam tantos os observadores, sejam infinitos os julgamentos.

Está difícil desfazer as ideias errôneas sobre a AIDS. As pessoas custam a acreditar em outro raciocínio que não aquele propagado pela ciência tempos atrás. Uma ideia ou um rupo delas fez-se eco de verdade e foi aceito pela maioria, ou todos. Um erro de interpretação foi capaz de trazer consequências terríveis à humanidade. E não para por ai.

É possível julgar sem laços afetivos, olhar sem más pretensões, pensar livremente e dar opiniões. Impossível é não ser subjetivo, mesmo que seja um pouco. Se pensar é existir e o pensamento é fruto de uma subjetividade, então o julgamento pessoal diante de tudo o que há é vida. Fora disso. Só a morte, que por si mesma já dá o que pensar e assim, o que existir e viver. Nada mais.

damiaoaraujo
Enviado por damiaoaraujo em 27/01/2011
Código do texto: T2755179
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