Qual país queremos ser?
O Brasil vem ganhanhando, ano após ano, cada vez mais importância no cenário mundial. No campo econômico o país projeta-se como líder na américa latina; analistas vislumbram potencial para em alguns anos alcançarmos o status de quinta maior economia do mundo. Na área política, o país já postula uma vaga, como membro permanente, no Conselho de Segurança da ONU.
Em 2002, com a ascenção de Lula ao cargo máximo do país, vimos grandes mudanças no campo social. Certa vez, em um entrevista a uma rede de televisão brasileira o presidente disse: " Que país é esse que se diz capitalista, sendo que ninguém tem crédito?". Lula, nesse sentido, foi um revolucionário: distribuir a riqueza, não tanto quanto deveria para não desagradar os ricos; nem tão pouco que não satisfazesse os mais necessitados. Lula, numa jogada de mestre, fez o que nenhum advogado, médico, sociólogo pensou em fazer: dar o mínimo de crédito para a população mais pobre poder consumir. Lula sintetizou isso em uma frase: "Vamos fazer o simples, pois o complicado, é complicado." É terrível para pessoas que vivem na sociedade do consumo não poderem consumir.
Já que Lula fez tantas coisas boas, onde estão seus opositores? Antes de 2002, ter um carro ou um apartamento era sinal de "poder", ou seja, uma diferenciação dos demais. Poder viajar de avião era exclusivadade da classe média-alta brasileira. Roupas, tênis, eletrodomésticos de marcas conhecidas mundialmente eram restritos a uma pequena parcela da população brasileira. Como disse um "eminente jornalista", de uma filial da maior emissora de televisão brasileira, comentando acerca das mortes no trânsito: " Culpa desse governo espúrio, que facilitou o acesso ao crédito, fazendo com que pessoas tenham carros sem jamais terem lido um livro." Em suma, o pensamento do "jornalista" é o mesmo de uma parcela dos opositores de Lula. Perderam o status, hoje, para se diferenciar dos demais é preciso muito mais do que um carro de R$ 30.000,00, um tênis de R$ 500,00 ou um casa na praia.
Outra parcela dos opositores de Lula, essas sim com alguma ideologia, exigem que o governo não siga o modelo de desenvolvimento estadunidense. A resistente esquerda brasileira luta por uma país socialista, com igualdade de oportunidades para todos. Usam o exemplo dos países capitalistas, que desenvoleram-se com abundância, em troca de milhares de vidadas humanas, seja no Sudão, Afeganistão, Iraque, Angola. Em síntese, os habitantes da África, Ásia, América do Sul e Central pagaram a conta com trabalhos degradantes, em última análise com o sangue, a própria vida, o desenvolvimento da Europa e América do Norte.
No sistema capitalista, aparentemente, todos ganham. Entretanto uma análise simples do gráfico da diferença social entre países ricos e pobres, com a evolução temporal, revela uma realidade diferente. Com o passar dos anos, o abismo entre países ricos e pobres cresce cada vez mais, ou seja, os rico estão muito mais ricos do que eram; já os pobres estão evoluindo, mas de forma muito mais lenta do que os ricos. Como é sabido de todos: a riqueza não nasce em árvores. Não é possível um país crescer economicamente de forma exorbitante sem prejudicar outros, ou seja, sempre alguém terá que pagar a conta, e na nossa história sempre os mais pobres é que são penalizados com o ônus das contas.
Eduardo Galeano, grande conhecedor da América Latina, sobre o destino da região disse: " Eu não sei, mas sei qual é o desafio. O desafio é: Vamos nos converter na triste caricatura do norte? Vamos ser como eles? Repetiremos os horrores da sociedade de consumo que está devorando o planeta? Vamos ser violentos? E crer que estamos condenados a guerra incessante? Ou vamos gerar outro mundo diferente? Vamos oferecer ao mundo um mundo diferente? " O Brasil, como a América Latina, China, Índia passa por esse dilema: qual país queremos ser?