Marcas de um Natal que não passou

O Natal não me agrada muito. Parece desnecessário. Uma mesa com comidas geladas que não provocam nenhuma ânsia de gula, nem um pouco de apetite. Pessoas da família chegando, presentes a serem entregues, aquelas "luzinhas" piscando, aquela decoração linda. Sim,eu acho linda mesmo, mas somente isso. Algumas pessoas conversando, as crianças correndo pelo ambiente em que se encontram e comentando sobre o que ganharão do Papai Noel, quando dormirem. Mas que patético!

Para alguns, aquela noite não passa de uma noite diferente em que a família se reúne(isso seria “especial” se não acontecesse quase todos os finais de semana e feriados, mesmo sem um motivo específico). Outra parte, acima de tudo, está com um sorriso estampado de orelha a orelha, não quer saber nem o que realmente está acontecendo, afinal, é o seu primeiro dia de recesso.Para outros, é o dia que merece ser lembrado, sobretudo, como o nascimento de Jesus. Há ainda os que fingem que se importam com isso. Mas quanta hipocrisia! Outros são simplesmente indiferentes, talvez pelo fato de o dia 24 de dezembro não trazer boas lembranças.

Ouve-se que é dia de desejar tudo o que há de melhor ao próximo. Ah, todo dia é dia de desejar o bem a quem se ama. A sensação que dá é a de que só se deseja aquilo porque é Natal. Mas há algo divertido nisso tudo: a maioria da família desdenha daquela comida posta na mesa, mas parece que grande parte dessa maioria nunca esperou tanto que o relógio marcasse meia-noite, a hora da ceia. Depois desta etapa, é simples: comem, tomam vinho, ingerem outras bebidas, comem mais, bebem mais um pouco e vão dormir. Mas, calma, não é um dia relacionado a Jesus? E não são eles que dizem ter tanta fé e todo aquele blá blá blá? Por que palavrões? Por que cervejas, whyski e tanta bebedeira? Quanta contradição!

Sabe, não consigo ver motivo para a ocorrência de tudo aquilo que sempre se repete, sempre do mesmo jeito. No dia seguinte, as frutas que restaram do dia anterior são devoradas durante o café-da-manhã e, como o recesso já começou, o dia vinte e cinco torna-se mais um dia livre para mais bebida. Creio que não tenho tanto desprezo por esse dia quanto pareço ter, mas são exatamente essas as ironias que encontro nessa ocasião do ano. Talvez eu só perceba isso por causa dela, por ficar me questionando sobre tudo aquilo, enquanto pensativa.

24 de Dezembro de 1999. Ela estava lá. Aquela cama em que esteve pela última vez, aquele lugar onde esteve pelos últimos dias. Não estaria mais ali, nunca mais! Todos tentavam sorrir naturalmente, mas não conseguiam. Estava mal e era triste saber isso, porque sabíamos também que ela adoraria poder estar bem naquele dia que, para ela, tanto significava.

A partir daquele ano, a noite natalina não foi mais do mesmo jeito, ela não pôde mais ser a mesma. Naquele "último" Natal, não sabia como reavivar o brilho que houvera nos olhos dela, nas noites de 24 de Dezembro anteriores e também nas outras. No ano seguinte, para mim, que era uma criança, foi como se aquelas luzes tivessem passado a não mais piscar, como se a árvore de Natal fosse desmontada antes mesmo de ser montada, como se os presentes debaixo da árvore fossem desembalados antes do tempo. Foi (como se tivesse ido) embora a última noite de Natal da pessoa que mais gostava de toda aquela decoração, de toda a família reunida e de tudo o mais. Mas eu sei que isso só antecipou minha indiferença, ela iria aparecer, em algum momento.

Evidentemente, enquanto criança, não agia como se tudo aquilo tivesse perdido o brilho, afinal, eu ainda sofria influência da beleza daqueles presentes. Mas, com o passar do tempo, fui entendendo um dos porquês de tudo aquilo ter ficado, aos poucos, sem vida. Enfim, não gosto mais! É sem sentido para mim por si só. E, com certeza, o que torna esse dia mais sem sentido é a sua ausência. Dizendo de forma ainda melhor, é a presença do meu amor por ela, que me está presente e nunca foi embora. A verdade é que ELA era o sentido maior dos nossos natais, e talvez ainda seja o maior sentido de nossas vidas, enquanto uma família unida. E é disso que me lembro, é um dia que lhe dedico , em que predomina nos meus pensamentos. Não que seja triste, mas que precise pertencê-la, ou melhor, é como se precisasse ser meu aquele momento mais próxima dela. É por causa do meu amor eterno pela minha avó linda, sempre vivo.

Acira
Enviado por Acira em 23/01/2011
Reeditado em 24/12/2011
Código do texto: T2746501
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.