E daí que eu não passei no vestibular!

E daí que eu não passei no vestibular! Podem falar o que quiserem. Eu tenho meus limites, meus sonhos, meus desafios, meus medos e minhas conquistas. A culpa é de quem, então? É minha. Claro! O problema não é do governo, nem das instituições que oferecem poucas vagas, ou de qualquer outra coisa. A culpa é minha, mas isso não me torna incapacitado. Aqueles que dizem que eu não estudei o suficiente podem até acharem que têm razão, mas não passaram o que eu passei nos últimos cinco anos para tentar entrar na faculdade de medicina. Tem gente que acha que vestiba gosta de fazer cursinho. Santa ignorância! Eu quero mesmo é estar na faculdade, mas não consegui vencer meus concorrentes. Alguns vencem e a maioria fica para traz. Ah, mas eu também não me faço de coitado, conheço minhas habilidades e sei do meu potencial. É que às vezes demora um pouco para acreditar que você pode sim ser derrotado varias vezes. Meus amigos? Todos formados, ganhando dinheiro... Isso que importa, não é o que dizem? Pois eu não penso assim. Mesmo que os outros não reconheçam o meu esforço, eu sei o quanto tenho valor, o quanto aprendi e o quanto me dói permanecer no mesmo obstáculo. Durante esses anos de tentativas eu falhei muitas vezes nos estudos, mas na maioria eu cumpri com minhas obrigações. A cobrança é pessoal e a pressão está em todos os lados. Alguns me criticam, outros me apóiam, os amigos confortam, a família estraçalha, o ego diminui, vontade vai embora, o sonho vira lembrança e o destino vira a minha vida de ponta cabeça. Durante todos esses anos eu fui otimista, motivador de mim mesmo, mas hoje não sou mais. Pela primeira vez eu fui fazer uma prova sem ter a menor preocupação em acertar, eu apenas resolvia. Se tivesse em dúvida perguntava mil vezes ao meu inconsciente se teria alguma solução para me dar e ele nunca respondia. Pela primeira vez eu vou trocar o meu sonho, pela minha realidade, pelos meus defeitos e pela minha indisciplina quando estava na escola. Alguns estarão por perto para ver acontecer, mas muitos saberão que ainda nesta vida eu vencerei todas as batalhas que me faltarem até ter certeza que cumpri meu papel neste mundo. Não posso deixar de lembrar que algumas pessoas foram fieis investidores em mim e eu não consegui cumprir com as honras da vitória, mas serão guardados a sete chaves num lugar muito especial e haverá o dia em que retribuirei, ao menos em parte, toda credibilidade que a mim foi concedida. Hoje é o dia em que a minha vida tomará outro caminho, para que eu possa - mesmo mancando- continuar caminhando. A minha história ainda não acabou, porque ela ainda não teve um começo. Hoje eu quis fazer tudo num parágrafo, sem regras, ou coesão, nem indireto, nem dissertação, pois é assim que as coisas estão parecendo para mim.

Luiz Delfino de B Miranda Filho
Enviado por Luiz Delfino de B Miranda Filho em 06/12/2010
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