VISITA AO MUSEU OSCAR NIEMEYER

História do Museu

No ano de 2002, um prédio localizado na Rua Marechal Hermes não mais estava destinado às secretarias de Esta¬¬¬do. O então Edifício Presidente Humberto Castelo Branco ganhou o anexo conhecido vulgarmente como Olho. Tanto o projeto de reformulação do edifício quanto o Olho foram propostos pelo famoso arquiteto brasileiro que emprestou seu nome ao atual museu: Oscar Niemeyer.

O orçamento para a concepção do Museu Oscar Niemeyer foi aproximadamente US$ 14 milhões, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Seu primeiro nome foi “Novo Museu”.

Atualmente, o acervo do MON conta com aproximadamente 2 mil obras, produtos de artistas como Alfredo Andersen, Theodoro De Bona, Miguel Bakun, Guido Viaro e Helena Wong, além de Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Ianelli e Caribé, e muitos outros.

A administração atual propagou o Museu Oscar Niemeyer como parte do roteiro das grandes exposições, outrora concentradas no eixo Rio-São Paulo.

Três novas salas expositivas, concebidas apenas para a exposição de fotografias foram instaladas na torre do Olho em 2004 (Torre da Fotografia). Ainda em 2004, a Reserva Técnica teve sua construção finalizada, lar das obras do acervo.

Hoje, o acervo, segue em crescimento. Obras dos artistas plásticos brasileiros Amélia Toledo, Emanoel Araújo, Francisco Brennand, José Rufino, Nelson Leirner e de Tomie Ohtake estão entre as peças adquiridas em doação.

Arquitetura

O Museu Oscar Niemeyer conta com 17.744,64 metros quadrados de área expositiva e está instalado em um complexo de 144 mil metros quadrados de área. De área construída, o MON conta com 35 mil metros quadrados.

A tecnologia utilizada por Niemeyer é a do concreto protendido, por possibilitar grandes vãos livres entre as colunas e a construção de grandes balanços. O arquiteto abusou de traços sinuosos e linhas finas no design do museu, além de rampas em curva e vários túneis de acesso. No piso térreo, o modernismo usado por Niemeyer se faz presente por meio de características como permeabilidade visual e volumétrica. Nas extremidades, encontram-se dois quiosques envidraçados. Ao norte, está a bilheteria, a loja e o café. Na parte sul, tem-se a entrada do Museu e o espaço para a montagem de um restaurante, freqüentemente utilizado para recepções em vernissages e eventos. Já o primeiro piso conta com nove salas mostruárias. Nele, o acesso é feito através de escadas, rampas e elevador.

No subsolo, encontram-se exposições permanentes de projetos, fotos e maquetes de obras do arquiteto, cujo espaço recebeu o nome de Espaço Niemeyer. Neste espaço também são ministradas oficinas e cursos, além de ser o lar do Pátio das Esculturas e da Reserva Técnica.

O arquiteto Oscar Niemeyer

O arquiteto considerado um dos mais influentes da Arquitetura Moderna internacional nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Em 1934, formou-se como engenheiro arquiteto, iniciando a profissão no escritório de Lúcio Costa – projetor do Plano-Piloto de Brasília. Niemeyer é famoso pelo o pioneirismo do uso do concreto armado, as curvas das edificações brasilienses e um estilo arquitetônico revolucionário. As seguintes frases são atribuídas a ele:

"De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa,ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte."

“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”

Entre as inúmeras obras famosas de Oscar Niemeyer, estão a Obra do Berço do Rio de Janeiro; o Grande Hotel de Ouro Preto; o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque; o Cassino da Pampulha; a Casa do Baile de Belo Horizonte e a Igreja da Pampulha de Belo Horizonte; o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro; o Memorial da Cabanagem de Belém do Pará; o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília; o Terminal Rodoviário de Londrina; o Sambódromo do Anhembi, em São Paulo; o Museu de Arte Contemporânea de Niterói; o Centro Cultural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, em Natal.

Entre os prêmios recebidos, os mais recentes são a Medalha Ordem do Mérito Cultural, a medalha e título de Comendador da Ordem Nacional da Legião da Honra, concedida pelo governo da França; a medalha da Ordem da Amizade do governo da Rússia e a medalha Oscar Niemeyer do Partido Comunista Marxista-Leninista; em 2008, vieram o Prêmio ALBA das Artes, concedidos em conjunto pelos governos de Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua; em 2008, o XXXIII Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo: Se mostrando ainda jovem participou como pôde do maior evento realizado no ano pela FENEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo).

Exposição visitada: Burle Marx

Artista: Roberto Burle Marx

Assunto: “As costureiras”, 1941.

Material/Técnica: Óleo sobre tela.

Contexto histórico, social e cultural: Roberto Burle Marx foi paisagista, desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de jóias. Ele nasceu paulistano em 1909 e morreu em 1994, no Rio de Janeiro.

Burle Marx tem seu primeiro contato com a vanguarda artística na Alemanha, no fim dos anos 20. No país, ele se impressiona principalmente com as obras de Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Henri Matisse e Paul Klee. Na volta ao Brasil, Burle Marx estuda na atual Escola de Belas Artes da UFRJ.

Durante os anos 30, o artista participa da definição da Arquitetura Moderna Brasileira. Um dos projetos mais famosos é o terraço-jardim do Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. É a partir deste momento que uma linguagem orgânica e evolutiva passa a influenciar sua forma de conceber a arte abstrata, o concretismo e o construtivismo.

Nesta tela, pode-se observar um cenário simplório, com cores escurecidas. Na obra, existe um manequim nu e um pano jogado no chão. As duas mulheres da foto, uma menina mulata e a outra de tez de pele mais clara, aparentando cerca de 40 anos, claramente lamentam algum acontecimento.

O cenário escolhido por Burle Marx para suas costureiras aparentemente é uma casa de família de baixa renda. Esta interpretação pode ser adotada pelo fato de só haver um manequim, e ele estar nu (o autor teria desejado insinuar a escassez de recursos materiais). Há um pedaço de pano jogado no chão, o que pode sugerir desordem. Os tons de cores usados pelo artista, escuros e frios, ajudam a cimentar esta impressão.

As duas mulheres lamentam profundamente algum fato. Talvez não haja recursos o bastante para darem conta de suas encomendas. Ou será que elas não têm clientes para atender? Um destes fatores, ou os dois, estariam atrapalhando o gerenciamento do lar. Poderiam estar entre as questões problemáticas as contas atrasadas, maior sucesso da concorrência e falta de autoconfiança.

É possível observarmos um detalhe “racista”: a menina é negra, a mulher mais velha – possivelmente sua mãe – apesar de não ser efetivamente branca, tem a pele de tom mais claro. Seria a menina adotada? A julgar pela data da pintura – 1941, cerca de 53 anos depois da abolição da escravatura – pode sugerir que a garota é filha de algum ex-escravo. Isto pode inclusive refletir uma provável visão preconceituosa do autor.

À primeira vista, a pintura não prima pela beleza plástica. Roberto Burle Marx, o autor, aparentemente não se preocupou em retratar um ambiente “bonito”, o qual expressasse harmonia, volúpia, paz. As personagens da imagem não atendem aos requisitos presentes no inconsciente coletivo de boa aparência.

Os elementos da imagem não são muito detalhados. Parecem ainda brutos, como se faltasse acabamento ou sutileza. Mesmo as cores utilizadas não convidam para a apreciação.

Contudo, a obra é cativante por toda a interpretação a que dá margem, conforme citado. Pobreza material, remanescência da escravidão, sensação de melancolia. Todos os recursos utilizados por Roberto Burle Marx nesta obra, embora desagradáveis em um primeiro momento, tornam-se condizentes com a realidade sugerida pelo artista.

Exposição visitada: Burle Marx

Artista: Roberto Burle Marx

Assunto: “Dois peixes em travessa de barro”, 1933.

Material/Técnica: Óleo sobre tela.

Contexto histórico, social e cultural: Roberto Burle Marx foi paisagista, desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de jóias. Ele nasceu paulistano em 1909 e morreu em 1994, no Rio de Janeiro.

Burle Marx tem seu primeiro contato com a vanguarda artística na Alemanha, no fim dos anos 20. No país, ele se impressiona principalmente com as obras de Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Henri Matisse e Paul Klee. Na volta ao Brasil, Burle Marx estuda na atual Escola de Belas Artes da UFRJ.

Durante os anos 30, o artista participa da definição da Arquitetura Moderna Brasileira. Um dos projetos mais famosos é o terraço-jardim do Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. É a partir deste momento que uma linguagem orgânica e evolutiva passa a influenciar sua forma de conceber a arte abstrata, o concretismo e o construtivismo.

Esta obra apresenta uma mesa de palha, coberta com um pano de prato. Sobre a mesa há uma travessa de barro com dois peixes, aparentemente uma sardinha e um salmão. É um cenário bastante simplista, o qual sugere ser uma residência de pescador.

Roberto Burle Marx retrata o que parece ser uma casa de pescador, cuja atividade é possivelmente amadora. Esta interpretação se possibilita por meio dos elementos utilizados pelo artista para conceber a obra, como uma mesa de palha, um simples pano de prato, uma travessa de barro e somente dois peixes. Todos sugerem simplicidade e ambiente bucólico, localizado em uma zona rural ou mesmo cidade de interior. Apenas uma dupla de peixes talvez signifique que a atividade do pescador não é profissional, apenas para alimentação sua e de sua família.

Entretanto, uma análise mais amiúde pode atentar para outros detalhes: um dos peixes parece ser um salmão, uma espécie extremamente valorizada no mercado de pescados. Por que este pescador não faz uso comercial deste peixe? Talvez a simples sustentação familiar e o amor à atividade sejam suficientes para ele. A pesca tornou-se uma atividade tão prosaica e sustentável que o valor mercantil das suas extrações não mais importa. Estaria aí um grande paradoxo sugerido nesta obra de Burle Marx.

A pintura é detalhada o bastante para ser interpretada de diversas maneiras, conforme a percepção pessoal. Os peixes estão dispostos na travessa de forma apetitosa, sugerindo que logo estarão preparados para o consumo. A mesa de palha dá a impressão que o local é uma fazenda, uma cidade de interior, uma casinha à beira-mar ou à margem de um rio ou lago. Trata-se de uma harmoniosa simplicidade, que em nenhum momento sugere escassez de recursos ou pobreza material.

As cores utilizadas por Burle Marx são muito bonitas. O quadro prima pelos significados que sugere e também por transmitir paz visual. É uma obra de grande singularidade.

Exposição visitada: Carlos Alonso – “Hay que comer”

Artista: Carlos Alonso

Assunto: “Uno si, uno no”, 1975.

Material/Técnica: Técnica mista sobre papel.

Contexto histórico, social e cultural: Nascido em Mendoza, Argentina, em 1929, Carlos Alonso foi fortemente influenciado pelo período ditatorial argentino. A carne, um símbolo portenho, é muito ilustrada como forma de metaforizar o momento vivido no país. Muitas obras contêm peças humanas de carne penduradas como se estivessem em um açougue. Não apenas carne como produto alimentício, mas também figuras humanas envolvidas em contextos sexuais, atribuindo outro significado à carne. Drama e intensidade são constantes em suas obras, além da cor vermelha em muitas delas.

Esta obra se divide em dois desenhos distintos em duas folhas de papel. À esquerda de quem vê, está uma mulher nua e grávida, olhando seu ventre. Na folha à direita, o mesmo desenho, mas rasgado na transversal e remendado com fita crepe. A expressão facial da mulher também é diferente.

Carlos Alonso ilustra o que representa a geração de uma nova vida para a mulher. No desenho esquerdo, a expressão da moça é tranqüila, concentrada, sugerindo que ela faz planos para quando a criança vir ao mundo. Nela, a emoção transmitida ao leitor da obra é de paz, harmonia familiar, ternura.

Já na ilustração direita é possível perceber que Alonso carregou no traço, a fim de mudar radicalmente o semblante da mulher. Este desenho, apesar de ser o mesmo, é impactante visualmente pelo detalhe da folha rasgada e também pela nova expressão facial. O que o artista estaria insinuando? Talvez que a mulher se sente “rasgada”, destruída, partida, ao perder uma gravidez. Em um primeiro momento, a concepção de um ser vivo representa o apogeu da feminilidade. É a mulher realizada com a sua condição. Logo, a perda da gravidez representaria o caos. O inesperado, o fracasso do sexo feminino. A maior frustração de uma mulher seria não conseguir gerar a vida.

Ou esta pode ser uma gravidez indesejada, fruto de um abuso, ou de uma aventura sexual sem medidas preventivas. A mulher, neste caso, poderia pensar se é viável gerar um filho originado em um mau momento de sua vida. Entretanto, a questão abortiva representaria um cruel dilema: livrar-se de uma chaga em sua vida sacrificando outra inocente? Conceber uma pessoa que eternamente representará uma moléstia ou descuido?

Estes desenhos de Carlos Alonso, mesmo desprovidos de cenário, cores e estar tão bruto que a espiral de seu caderno ainda está nas páginas, a obra são dotada de extrema magia e beleza impressionantes. A dualidade da gravidez representada nas gravuras causa muito desconforto, sensibilizando em instantes o espectador, o qual se dá o direito de pensar: “assim se sente uma mulher grávida, como se estivesse entre a cruz e a espada?”. “Coitada, ela perdeu o bebê”. “Pobre mulher, essa gravidez deve ter sido por meio de estupro”.

Os desenhos dispensam completamente o já citado acabamento. Inclusive, ao olhar para eles, constata-se que a brutalidade artística contém exatamente o brilhante, chocante e até masoquista intuito de despertar ao espectador a sensação de piedade e lamentação. A beleza da obra e os ramos interpretativos são indiscutíveis.

Exposição visitada: Carlos Alonso – “Hay que comer”

Artista: Carlos Alonso

Assunto: “Las Leonas”, 1975.

Material/Técnica: Técnica mista sobre papel.

Contexto histórico, social e cultural: Contexto histórico, social e cultural: Nascido em Mendoza, Argentina, em 1929, Carlos Alonso foi fortemente influenciado pelo período ditatorial argentino. A carne, um símbolo portenho, é muito ilustrada como forma de metaforizar o momento vivido no país. Muitas obras contêm peças humanas de carne penduradas como se estivessem em um açougue. Não apenas carne como produto alimentício, mas também figuras humanas envolvidas em contextos sexuais, atribuindo outro significado à carne. Drama e intensidade são constantes em suas obras, além da cor vermelha em muitas delas.

Nesta página, estão desenhadas seis mulheres seminuas, trajando apenas o que aparentemente é uma cinta-liga. Elas estão abraçadas de lado, suas vestimentas são numeradas de 1 a 6 e suas cabeças são de leão. As expressões faciais das “leoas” aparentam irritação. Da mesma forma que os desenhos “Uno si, uno no”, (e da maioria das obras de Carlos Alonso), esta também é “bruta”, não possuindo cores ou ambiente definido.

As seis “leoas” seminuas e uniformizadas parecem prostitutas se apresentando aos clientes. Os trajes sumários, que na realidade nada ocultam, dão margem a esta interpretação. Mas então, por que será que o autor decidiu expressar irritação das moças? Talvez Carlos Alonso queira metaforizar o grau do poder feminino. Para o artista, a figura do leão representaria altivez, ímpeto, coragem, elegância, qualidades presentes nestas mulheres. Mesmo se tratando de garotas de programa, Alonso talvez queira sugerir que elas não precisam (ou não devem) serem mansas como gatinhas, mas arrojadas como leoas! Seria esta a magnitude do valor espiritual feminino. O possível fato de serem meretrizes não inviabiliza a sua condição humana, no tocante aos seus princípios e valores. E ainda que o artista não intencionasse retratar a prostituição, ele claramente exalta a formosura e o espírito femininos.

Esta obra é fascinante, sem qualquer insinuação machista na expressão. Retratar a mulher como leoa remete à religiosidade egípcia, em que os leões foram venerados como divindades, além de seu porte e elegância inquestionáveis. Esta obra de Carlos Alonso, assim como na dupla e desenhos “Uno si, uno no”, retrata brilhantemente as nuances do gênero feminino.

Contudo, diferentemente das moças grávidas, este “Las Leonas” chama a atenção por metaforizar o arrojo espiritual presente nas mulheres. A ferocidade do semblante das leoas também desperta a curiosidade do espectador para, no mínimo, pensar o que Alonso quis dizer com seis mulheres quase nuas com cabeça de leão? Trata-se de uma ora de arte repleta de significados.

Exposição visitada: Joaquín Sorolla

Artista: Joaquín Sorolla

Assunto: “Joaquín”, 1911.

Material/Técnica: Óleo sobre lienzo.

Contexto histórico, social e cultural: Joaquín Sorolla nasceu em 1863, na Espanha, e morreu em 1923 no mesmo país. Sorolla começou a pintar ao ar livre incentivado por seu professor, Gonzalo Salvá, e depois pelo pintor Ignacio Pinazo Camarlench.

Seu estilo de pintura era carregado na tinta, possivelmente a fim de exprimir a vivacidade de cores dos personagens de suas obras. Sua técnica impressionista o tornou conhecido como “o pintor da luz”. O impressionismo é muito percebido na obras de Sorolla através da ausência de contornos nítidos e contrastes de luz e sombra obedientes às cores complementares.

A obra faz parte da tradição retratista espanhola, adepta dos recursos de iluminação lateral e sobriedade de tema.

A tela mostra um garoto vestido em trajes sociais, assim descritos por terno e gravata. O rapaz está dentro do que aparenta ser uma parte da sala de estar de uma residência. O ambiente é escuro e austero. A mesa do local está cheia de livros. A expressão do menino é firme e séria.

Joaquín Sorolla retratou seu filho, Joaquín Sorolla Garcia, aos 19 anos. Ao que tudo indica, trata-se de um garoto estudioso, sério, ambicioso, formal. A postura na qual o filho de Sorolla foi pintado – de frente, da cintura para cima – somado aos solenes trajes, sugere imponência, seriedade e vigor. As sombrias tonalidades combinadas pelo artista contribuem muito para o reforço dessa impressão. Uma sala de estar composta por uma escrivaninha cheia de livros, para o artista, seria um ambiente propício ao estudo e à concentração. Nota-se que Joaquín Sorolla provavelmente se orgulhava muito de seu filho.

Ou não. E se o rapaz de semblante firme e decidido for, na realidade, o próprio artista na juventude? Neste caso, ele retratou o filho como realmente gostaria que ele fosse – o que não necessariamente significa que tivesse sido – nada mais do que um alter-ego do próprio artista. Teria sido Joaquín Sorolla um pai dedicado e orgulhoso ou punitivo e frustrado?

O artista, por meio de seu filho – e caso a pintura tenha correspondido à realidade – poderia ainda ter exaltado, de forma simbólica, os benefícios da educação rigorosa que possivelmente era aplicada à juventude na época em que o quadro foi pintado.

A expressão facial do menino, ainda que sóbria, não é tão clara à primeira vista. Não fosse pelo jogo de cores escuras e o ambiente sóbrio os quais sugerem solenidade, a percepção da obra apenas através de seu personagem certamente seria diferente. O formato dos objetos, proporcionados através de maior ou menor demão de tinta, parece não combinar entre si. Examinando o quadro a posteriori, percebe-se que os detalhes são “embrutecidos”.

Entretanto, o conjunto da obra atrai olhares justamente pela seriedade extrema a que sugere. Nos dias atuais, o inconsciente coletivo não admite um garoto de 19 anos nessas condições de disciplina e método. O quadro evoca todo um choque cultural e de gerações de forma espetacular.

Exposição visitada: Joaquín Sorolla

Artista: Joaquín Sorolla

Assunto: “Dos sevillanas”, 1914.

Material/Técnica: Óleo sobre lienzo.

Contexto histórico, social e cultural: Joaquín Sorolla nasceu em 1863, na Espanha, e morreu em 1923 no mesmo país. Sorolla começou a pintar ao ar livre incentivado por seu professor, Gonzalo Salvá, e depois pelo pintor Ignacio Pinazo Camarlench.

Seu estilo de pintura era carregado na tinta, possivelmente a fim de exprimir a vivacidade de cores dos personagens de suas obras. Sua técnica impressionista o tornou conhecido como “o pintor da luz”. O impressionismo é muito percebido na obras de Sorolla através da ausência de contornos nítidos e contrastes de luz e sombra obedientes às cores complementares.

Apesar de a obra fazer parte da tradição retratista espanhola, de recursos de iluminação lateral e sobriedade de tema, esta pintura compara a espontaneidade e alegria dos habitantes de Sevilha frente à austeridade dos demais espanhóis da época em que o quadro foi pintado. Em 1911, Joaquín Sorolla fecha um contrato com a Hispanic Society de Nova York a fim de realizar uma grande decoração sobre as províncias espanholas, então conhecidas como Su visión de España. Foram aproximadamente oito anos viajando pelo país, buscando o mais peculiar em termos de vestimenta e costumes. Ao buscar novos caminhos para interpretar a luz, Sorolla passou a pintar de forma mais sintética, atendo-se ao essencial.

A obra retrata duas moças, em brancos trajes e penteados de coque, sentadas no chão de um aparente cômodo doméstico. Elas olham diretamente para o espectador, com semblantes entusiasmados. A porta do cômodo está entreaberta. Está um dia ensolarado, cujo reflexo é visto na obra através de raios de luz que transpassam o ambiente.

Joaquín Sorolla, com a figura das meninas, pode ter retratado a alegria esbanjada pelo povo sevilhano na época. A obra sugere uma cena em que as meninas estavam provavelmente esperando alguém, sendo que quem está prestes a adentrar o ambiente era justamente a pessoa aguardada. Seriam as moças garotas de programa esperando um cliente? Seus brancos trajes e o penteado em coque seriam uma apologia às gueixas japonesas? Talvez não. Mesmo que as meninas carreguem uma expressão alegre e até certo ponto, insinuante, ambas parecem ser também comportadas. Mais provável é que elas estivessem conversando enquanto aguardavam uma pessoa muito querida, para ser recebida com tamanha alegria. O ambiente no qual estão transmite paz, serenidade, leveza e harmonia. Isto se deve às cores claras, ao detalhe dos raios de sol e ao ambiente aparentemente doméstico.

O artista, para ter nomeado sua obra como “Dos sevillanas”, provavelmente intencionou exprimir todo o seu fascínio à cidade de Sevilha, utilizando para isso os raios de sol, a beleza feminina e a tranqüilidade sugerida pelo quadro.

“Dos sevillanas” é um quadro muito bonito. As simpáticas garotas convidam não apenas o “intruso” da situação sugerida no contexto da obra, como também o espectador, o qual tende a se fascinar pelo ambiente harmonioso e delicado. Todo o requinte aplicado na imagem, somado ao nome da obra, pode despertar algumas curiosidades no espectador: Terá sido Sevilha uma cidade romântica e charmosa da Espanha do início do século XX? Como será que a região é nos dias de hoje, terá perdido essa essência com o passar dos anos e o acelerado progresso?

Os raios de sol são um detalhe que, definitivamente, não estão na figura à toa. Eles certamente ajudam a solidificar a aura poética presente neste quadro de Joaquín Sorolla.

Nota: as informações na ficha do Burle Marx se repetem porque tanto na obra das costureiras como na dos peixes em travessa de barro, o contexto é o mesmo. As obras têm um quê bucólico em seu tema central, apesar de outros significados distintos.

No caso do Carlos Alonso, em que a carne é uma metáfora de pessoas penduradas em açougue e em situações sexuais, são recursos usados como crítica social à ditadura na Argentina. Os desenhos da grávida (Uno si, uno no) e o das moças-leoas nuas (Las Leonas), mesmo contando com significados distintos, a carne humana se encontra em situações intensas e dramáticas.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 02/12/2010
Código do texto: T2649812
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