A espera do Amor
O sol ao fim de seu expediente deixa as alterosas montanhas das gerais avermelhadas, e a esposa de banho tomado de frente a penteadeira, penteia os cabelos, se perfuma, passa batom e se faz ainda mais bonita do que naturalmente já é. Sua alma feminina ansiosa cutuca-lhe a mente que imagina a figura do marido que está para chegar ao lar tão esperado.
O corpo feminino, fresco e doce como às manhãs de primavera, se faz arrepiado de paixão e a mão vai ao peito onde toca o coração que palpita em ritmo às vezes frenético. Os olhos brilham vivos a cada barulho diferente no portão, ao latir das cadelas, à mudança nas cantigas vespertinas dos pardais. A brisa do poente adentra a janela e acaricia o rosto da mulher em sua inteireza feminina, cheia de amor e carinhos a ofertar. A brisa envolve seu corpo fazendo sentir uma mistura de devaneio e fantasia. Imagina-se, já nos braços do esperado a envolvê-la num movimento de calor e carícias. Até o cheiro da brisa é semelhante ao cheiro dele. O perfume natural que exala de seu ser sempre a inebriou, e a espera a faz sentir repetidas vezes esse cheiro pela casa. Um cheiro que a leva num arrebatamento sem igual para o território dos sonhos, da fantasia. Uma mão que não existe ali, toca seu corpo, contorna suas curvas, alisa seus cabelos, acaricia seus seios e a faz entrar em êxtase. Dança sozinha pela sala, embalada pelas lembranças que o amor lhe traz.
Mais um alvoroço canino e ela desperta de seu devaneio, corre à janela na ânsia de ver chegar ao lar àquele que tanto espera. Observa o portão inerte, e a amarga realidade da inexistência de quem o faça abrir, após longa distância no tempo e no espaço. Os olhos fitam a crueza da situação, num misto de lágrimas e brilho.
Debruça-se na janela, contempla o limitado horizonte do quintal, observa os passarinhos em coro e namoro, as cadelas em seu amistoso abanar de rabos, as flores que rodeiam o espaço em seu balançar. Respira fundo num desabafo de desesperança. O coração bate tristonho, o vento cálido do fim da tarde sopra forte em seu rosto, as cortinas balançam e o lusco fusco traz as sombras da noite enquanto uma lagrima desliza dos olhos da mulher que espera.
Gleisson Melo é natural de Santana do Jacaré/MG, e Passense desde 2007. Tem 02 Livros Publicados: “Cidade Menina” e “Deus me livre e outras histórias”.