DEU NA IMPRENSA... [8]
(Matéria do jornal Folha de S. Paulo, neste domingo, 28/11/2010, sob o crivo do jornalista Euclides Santos Mendes, redator do “Caderno Ilustríssima!”)
Caderno Ilustríssima!, 28/11/2010 - 08h00
DICIONÁRIO ESMIÚÇA EXPRESSÕES POPULARES
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EUCLIDES SANTOS MENDES
DE SÃO PAULO
"Acatitar os olhos", "dar o couro às varas", "alçar a caganeta", "ter lacraia no bolso": estas e outras milhares de expressões populares, algumas de uso restrito, conferem à língua portuguesa um rico manancial polissêmico. Daí a origem do recém-lançado "Dicionário de Expressões Populares da Língua Portuguesa" (WMF Martins Fontes, 980 págs., R$ 98), do pesquisador João Gomes da Silveira. "O trabalho saiu tão extenso que não me detive especificamente sobre tais ou quais expressões. Ascende ao catatau de 22.500 [expressões]", diz Silveira.
Leia a seguir entrevista concedida pelo pesquisador à Ilustríssima.
Folha - Como surgiu o seu interesse por dicionários?
* João Gomes da Silveira - De um ponto de vista mais subterrâneo e longínquo, talvez a partir dos raros estudos que tive de filosofia, que nos tenta explicar as causas primeiras. Depois, com mais decisão, ao tentar estudar o inglês e o espanhol. Fiquei fascinado pela vultosa quantidade de expressões idiomáticas lá nesses dois idiomas.
Na sua opinião, quais são as melhores expressões catalogadas no dicionário que organizou?
* O trabalho saiu tão extenso que não me detive especificamente sobre tais ou quais expressões. Ascende ao catatau de 22.500 [expressões]. Mas as expressões ligadas aos significados de "morrer" (correspondente a "comer capim pela raiz", "dar o couro às varas" etc.) e "embriagar-se" (correspondente a "encher a cara", "tomar um porco" etc.) são piramidais.
E quais são as expressões mais engraçadas do dicionário?
* Esta sua pergunta se assemelha à anterior, quanto ao grau de dificuldade que tenho em respondê-las. Há inúmeras expressões deveras engraçadas; e aí o subjetivismo de cada um é que vai eleger esta ou aquela. O caro entrevistador --a quem agradeço-- já me auxiliou na difícil tarefa, a saber: "acatitar os olhos" (correspondente a "arregalar os olhos"), que só considero meio idiomática, e "alçar a caganeta" (correspondente a "ir embora"), mais autêntica, porém de origem lusa. Gosto de uma expressão registrada pelo mestre Aurélio: "ter lacraia no bolso" (correspondente a "ser mão-de-vaca", "usurário"). Em outro trabalho que concluí, bilíngue, no "Glosario Esencial del Español Popular", também há um mundão de expressões muito hilariantes.
Como uma expressão começa a fazer parte da língua, tornando-se popular?
* Em princípio, pegando o bonde do oportunismo. A expressão idiomática vem, inicialmente, como gíria ou tem vida fugaz, então se arrancha de malas e bagagem no idioma. O uso continuado dá-lhe o tom da popularidade. E tanto mais será uma expressão popular quanto mais seja repetida.
Por que há tantas expressões em português com aparente duplo sentido, sobretudo relacionadas a sexo?
* Quando se trata de algo relacionado a sexo, entram os preconceitos e as expressões viram como que um tabu. Daí os lexicógrafos já lhes acrescentam a pecha do "chulo". E elas assumem a polissemia; carecem de várias acepções. Depois, é preciso camuflar o socialmente feio com os tais eufemismos, os abrandamentos da linguagem.
O vocabulário básico dos falantes da língua portuguesa tem ficado menor? As expressões populares estão desaparecendo do cotidiano?
* Penso que o vocabulário erudito, e que também não é nada básico, contido lá naquela linguagem escorreita, que vai de Camões a Machado, de Gregório de Matos a José de Alencar, esse léxico mais formal certamente anda em baixa, sim; contudo, sem demagogia, ainda acredito muito na força e no poder do "expressionário" popular, que é apanágio dos falares do povo, particularmente nos meios mais simples da sociedade.
Em relação a outros países lusófonos, o Brasil seria aquele que mais usa expressões populares?
* Até pelo número expressivo de falantes, sem dúvida, acredito que sim. O Brasil lidera o "ranking" das gírias, no contexto geral das expressões. É indubitável que temos maior abrangência no campo do idioma. E os meios de comunicação modernos deram uma dimensão extraordinária ao surgimento dos inumeráveis modismos. No entanto, há que se ter muito respeito e distinção com o acervo dos lusitanismos.
Ilustrissima > Dicionário esmiúça expressões populares
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1. Helena Guedes (1) (12h22) há 6 horas
Antes de ler a entrevista, li a reportagem "O DNA da língua", na própria Ilustríssima, que fala com mais detalhes sobre a publicação do dicionário. E, como diz lá, há prazer em ler esse tipo de dicionário, tanto prazer como ler um romance. Eu acredito nisso, pois eu mesma já tenho um dicionário etimológico, não o que fala a reportagem, mas outro. Mas a nossa sociedade é tão pragmática que as pessoas querem encontrar "utilidade" em tudo. E não achei a entrevista nada maçante, pelo contrário.
2. Gilberto Guimaraes (2) (08h35) há 9 horas
A chamada para a reportagem é feita de forma que o internauta espera encontrar informações que esclareçam e mostre a utilidade da existencia do dicionário. O reporter não se preocupa em mostrar quem é o João Gomes da Silveira. Também no principio o reporter procura fazer com que o escritor demonstre o uso e a utilidade do que apresente. O escritor por sua vez, usando de vocabulos e expressões pouco populares torna a entrevista maçante e cansativa. Os dois podiam muito bem terem sido mais claros. “
(Nota de J. G. S.: Em respeito à sintaxe deste leitor, penso que ele não merece sequer uma resposta. Nem minha nem do redator da matéria, pois, como bem o disse Guimarães Rosa, “pão ou pães é uma questão de opiniães”, rsss)
[Fonte eletrônica: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/836938-dicionario-esmiuca-expressoes-populares.shtml]
Fort., 28/11/2010.