O prazer da rotina
Nunca achei que a rotina fosse uma coisa chata. Quando criança, adorava acordar cedo todas as manhãs, tomar leite com Toddy, ir à escola, brincar com meu amigos, comer doces, salgados engordativos e tomar muito, muito refrigerante.
Voltava para casa e curtia o resto do dia. Maria preparava lanchinhos e eu ficava assistindo à televisão até dar a hora de dormir. As tarefas? Fazia na escola mesmo, porque adorava os exercícios que a professora passava. O que tinha de ruim nisso? Para mim, NADA!
Era maravilhoso. Eu comia muito e não me sentia gorda. Não tinha TPM e nem precisava me depilar todo mês ou pintar as unhas toda semana. Eu brincava na terra. Fazia desenhos ridículos e as pessoas me elogiavam. Acreditava em Papai Noel e em contos de fadas.
Na televisão passava desenhos fofos, com ursinhos e cavalos. Internet nem era muito conhecida e eu não dava a mínima para isso. Não perdia horas fazendo chapinha no cabelo e nem escolhendo uma roupa legal para sair. Podia rir alto, gritar e chorar. As pessoas só diziam: “criança é assim mesmo”.
Com o tempo a rotina foi mudando, mas me adaptei. Fui crescendo e conheci a menstruação e percebi que era o momento de ter responsabilidade e de gostar de garotos. Nunca tive sorte com nenhum dos dois.
Tentei ser responsável fazendo aula de inglês, pois pensei que seria bom para o meu futuro, mas detestei e parei depois de um ano de curso. Aos 13 anos resolvi fazer judô e “ficar” com meninos. Na época foi legal, mas precisei parar com as aulas, porque mudei de escola, e é claro que não parei com os garotos.
Já fiz aulas de violão, flauta, ballet, jazz, futsal e Kumon. Já odiei meus pais. Já disse “eu te amo” sem amar. Já fugi de casa. Já gostei de matemática. Já fiz simpatia e academia.
Atualmente, aprendi que rotinas não existem, pois todo dia aprendo algo bom ou chato. Acordo, brinco com o Toshi (meu cachorrinho bebê), depois dou comida ao Frajola (meu gatinho velhinho), aí tomo banho, me arrumo e vou trabalhar. Às vezes isso muda. Primeiro tomo café, dou comida ao gato e depois brinco com o cachorro. Quando acordo atrasada, não faço nada disso, só me arrumo e vou trabalhar.
Com ou sem rotina, é uma delícia viver. É bom acordar preocupada com os trabalhos da faculdade. É maravilhoso estar disposta, com raiva ou extremamente feliz. E assim, continuo vivendo. Com dias e noites iguais, mas com sensações e sentimentos diferentes.