Traidor

E volta o tal desprezível dono de vida perdida, de inimigos bons e de feitos ridículos.

Nada me intriga, pelo contrário, me convém. Ouvir horas de mentiras e dizê-las também.

Foi por isso que não funcionou. Apesar de estimulante, não consegui me orgulhar e nem obter respeito de viver só inventando verdades.

Quando eu estava triste, eu sorria. Quando eu estava feliz, eu chorava. A criatura era idêntica.

No dia do casamento, apostavam todas as fichas que daríamos certo. Mas estavam todos errados. O amor morreu por falta de sinceridade e até nos dias de hoje, duvido que alguma vez este tivera alguma existência.

Do mesmo modo que falava eu dos meus sentimentos da boca para fora, ele fazia.

Quando calados éramos um casal perfeito! Ainda sim, tínhamos neurônios para refletir. Os olhos mal encarados olhavam para algum lugar e ligeiramente desviam o foco de onde poderiam suspeitar de seus pensamentos. Se eu arriscasse qualquer palpite longe da expectativa, ele afirmava. Agora se era verdade, maldosamente negava.

Vez ou outra, ele gritava pela casa dizendo que me odiava. Eu chorava. Isto fazia de nós, um casal feliz. Mais tarde, eu sempre retribuía. Ele então me olhava decidido e aos beijos riamos de verdade.

Esquecer meu aniversário era forma de se declarar. O interessante era que ele nunca esquecia. Aguardava ansiosamente acabar aquele infernal dia para me abraçar assim como, me encher de presentes. Nunca consegui fazer igual.

O maior erro que cometemos foi jurar um ao outro que jamais nos trairíamos.

Na semana seguinte, contaram a ele que eu estava com outro e contaram a mim que ele estava com outra. Quanto o assunto é desgraça, as pessoas são tão verdadeiras! E essa era uma verdade.

Ingênuos, olhamos atentamente como duas crianças. Ele chorava ao mesmo tempo em que sorria, eu fazia a mesmo, aquela foi a ultima vez que nos beijamos. Minutos depois estávamos rindo, segurando as lagrimas. Pegamos nossas coisas e pela primeira vez, ele disse que me amava. Nunca soube se era verdade, mas penso que devido às confusões que naquele instante eu tinha, sentia o mesmo independente do que fosse. Não mentíamos com os demais, só um com o outro.

Aquele mês foi dificílimo, sentia muita falta. Aposto que ele sentia o mesmo. O sujeito era como meu clone, até o físico era meio parecido. Não parecia que acabaríamos assim! Eu com alguém sincero e ele também.

Estávamos completamente diferentes depois do ocorrido, mesmo assim, ainda agíamos do mesmo jeito. Continuávamos iguais, pois não havia nada que pudesse mudar nossos corações. Fosse por papel ou não, éramos casados. Só não admitíamos.

Agora, um tempo depois, somos supostamente amigos. Sentamos todos os dias debaixo daquela arvore, escondidos, para nos consolar.

Ele nunca se esquece de voltar, assim como nunca me esqueço de estar aqui, pontualmente, na hora de sempre. E ai vem ele.

Tatiane Sb

Taty Sbrugnara
Enviado por Taty Sbrugnara em 19/11/2010
Código do texto: T2624736
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