Antropologia cristã
No cristianismo o homem aparece como um ser conduzido pela providência divina. Nele se revela uma profunda dependência de Deus, numa relação de intimidade que difere muito em relação á concepção platônica de Idéia, e da de Aristóteles sobre o Primeiro motor.
O fato é que , ao contrário do que muitos defendem, o cristianismo não valorizou somente a alma do homem. Muitos pensadores como São Boaventura e Tomás de Aquino apreciaram a matéria.
Por muito tempo o platonismo foi a base da filosofia e antropologia cristãs. No Fédon encontram-se as bases para as idéias cristãs sobre a vida futura, céu e inferno, castigos e recompensas. Mas Aristóteles também influencia o pensamento cristão, e a partir dele se dissemina a concepção de alma como a forma do corpo.
O cristianismo tem por finalidade a salvação individual do homem concreto.Cristo veio salvar o homem, e não somente a alma. O homem é então um ser racional composto de alma e corpo. Durante muito tempo as concepções sobre o homem oscilaram entre o platonismo e o aristotelismo, com o risco de comprometer, pela concepção platônica, a unidade do homem, bem como a imortalidade da alma pela adoção da concepção aristotélica.
Santo Agostinho adota a concepção platônica. Para ele, o homem não é corpo nem alma, mas sim uma alma que se serve de um corpo. A alma é o homem. O corpo aparece numa relação de submissão com relação à alma.
Gregório de Nissa adota uma concepção aristotélica com relação à alma, e é combatido por Nemésio. Porém esta concepção de Aristóteles apresenta um problema: se o homem é formado de corpo e alma, sendo que nesta relação a alma é a forma do corpo, organizadora deste, quando o corpo morre, o que acontece com a alma? Não há mais o homem. O corpo é simples matéria em decomposição. E a alma?
Avicena, no século XIII, tenta uma síntese do pensamento de Platão e Aristóteles, e teve forte influência na filosofia cristã dos séculos XIII e XIV. Para Avicena, se falamos da alma considerada em si, adotamos Platão, já a alma com relação ao corpo pode ser entendida a partir de Aristóteles. Mas de tudo isso resulta uma constatação: a união de alma e corpo não está incluída na essência da alma, e o homem não é um ser em si, mas um ser acidental.
A solução vem com Tomás de Aquino. Para ele, a alma é forma que possui e confere substancialidade. Ela é incorpórea, mas não na substancialidade. O homem é, então, unidade de uma alma que substancializa seu corpo, e do corpo em que essa alma subsiste.
Tiago Nunes Soares