Viva a bossa-sa-sa; viva a palhoça-ça-ça-ça-ça.

Na antiga sociedade romana, o imperador, a fim de inibir rebeliões futuras da população por causas dos problemas sociais advindos da escravidão rural e consequente migração para as cidades, adotou a política “panem et circenses” (pão e circo). Diariamente, promoviam-se lutas entre gladiadores nos estádios, como o Coliseu, e, nestes eventos, distribuíram-se alimentos, em geral pão e trigo. Era uma forma de distração do povo e, ao mesmo tempo, de dominação contra revoltas.

Este panorama da Roma antiga não diverge muito do Brasil atual. A sociedade brasileira é mantida sob domínio por meio desse sistema de entrega do pão (Bolsa Família, Bolsa Escola) e divertimento no circo (aventuras políticas no cenário nacional). Mas, no picadeiro da política atual, sempre existe um personagem ilustre que faz a alegria do respeitável público: o palhaço. Realmente, no ano de 2010, um palhaço ganhou visibilidade no campo político, ao ser eleito deputado federal em São Paulo. Seu nome é Tiririca.

Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, somou mais de 1,3 milhões de votos e inseriu-se na história da política brasileira como o deputado federal mais votado, ficando atrás apenas do lendário Enéas, do Prona. Com uma campanha irreverente e debochada, o humorista jamais explanou claramente suas intenções políticas, porém a espontaneidade de seu discurso acabou por torná-lo uma mescla de sucesso e polêmica, alvo de debates na internet e na comunidade social. O célebre bordão “vote em Tiririca, pior que tá não fica!” ganhou o gosto popular.

Piadas à parte, a grande discussão que circunda a eleição do palhaço Tiririca ao Congresso Nacional é se esse foi um voto de protesto da sociedade, em face ao sentimento de descaso que o Congresso permeou no povo, devido à série de episódios vergonhosos de corrupção. Por mais que o protagonista em questão represente uma parcela grande da sociedade e, de certo modo, espelhe a insatisfação social com os políticos atuantes, a sua candidatura em nada contribuirá para a melhoria da condição de vida das pessoas. A intenção é válida, contudo, pôr alguém (um palhaço!) sem nenhuma experiência política, ou mesmo sem propostas e perspectivas de mudanças para a população, como representante político ridiculariza ainda mais o sistema político brasileiro, já tão taxado pelas nações desenvolvidas. É aumentar ainda mais a “palhaçada” e ver o “circo pegar fogo”.

O verdadeiro protesto é aquele que nasce da consciência coletiva e é externado, com coragem e esperança, pela própria sociedade. A História é pródiga em apresentar exemplos. O movimento negro que, nos Estados Unidos, teve em Martin Luther King um impulso expressivo, na luta contra leis racistas que proibiam o direito de voto às minorias étnicas. No Brasil, O movimento Tropicalismo, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, convocou os jovens brasileiros a proclamarem a individualismo e liberdade sexual, num espírito de contestação político-cultural, em plena ditadura militar. O movimento “Diretas Já”, arrastou milhares às ruas, em passeatas, comícios e lideranças, para reivindicarem eleições presidências diretas no Brasil, em 1983.

É preciso que essas investidas feitas contra a estrutura político-social brasileira resultem em benefícios a todos. Se o povo está cansado de “pão”, que o representante da nação tenha capacidade de administrar os bens públicos para pôr na mesa do brasileiro arroz, feijão, carne, salada, um emprego decente, saúde, educação e segurança. Precisamos de governantes compromissados com o desenvolvimento do país, e não de figuras pitorescas que apenas ocupam assentos nas cadeiras partidárias e não contribuem para o crescimento do Estado e fortalecimento da democracia.

P.S. Essa redação atingiu nota máxima no site uol. Veja a correção na íntegra: <http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/ult4657u797.jhtm>

Saulo Sozza
Enviado por Saulo Sozza em 22/10/2010
Reeditado em 01/11/2010
Código do texto: T2571751
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.