PREOCUPAÇÕES  LEGÍTIMAS

Quando se debruça à janela é apenas para ver se a filha já se vê à esquina.
Preocupações de mãe, apenas. A filha é adulta, responsável, trabalha e sai com amigos para curtir a noite, como ela diz.
Perigos sempre os houve mas agora, parece-lhe a ela que os há mais...
Os jovens são aliciados para prazeres pouco saudáveis cada vez mais cedo.
Ela conversou sempre com ela com abertura e sinceridade. A filha está esclarecida quanto aos perigos mas...
Teme as saídas à noite porque é nessa altura que muitos se excedem. Os excessos tornam-nos irresponsáveis e desastres acontecem...

Adélia criou esta filha sem pai, com muita dificuldade.

É a filha mais nova de cinco irmãos duma família com uma educação muito severa. Os irmãos, assim que puderam, saíram de casa e foram trabalhar para a cidade. Ela ficou. Ficou revoltada, contrariada. Na aldeia não havia nada, nem trabalho nem horizontes. Não tinha estudado para além da Primária porque os seus pais nem podiam supor sequer que fosse para a vila, para o Ciclo.

O ritmo de vida a que os pais a obrigavam acabou por saturá-la: trabalhar na horta, tratar dos animais e ir á Igreja, sempre a Igreja com os seus tabus, os seus pecados e castigos!

Um dia seguiu para a cidade e foi ter com os irmãos. Um deles já estava casado e recebeu-a em sua casa. Arranjou trabalho na cozinha de um restaurante e logo a seguir aceitou namoro ao rapaz que servia ao balcão que lhe jurou amor eterno e que durou até que lhe disse que estava grávida e desapareceu de vista para sempre...
Não deseja isto para a sua filha mas os jovens de agora já estão mais esclarecidos do que estavam os de então.

E estarão mesmo?

Esta vivência repetiu-se e repete-se na pessoa de milhares de jovens ainda hoje.


Beijinhos,
Teresa Lacerda
Enviado por Teresa Lacerda em 21/10/2010
Código do texto: T2570549
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