Meu olhar sobre o outro...
Qual o seu olhar sobre o outro?
[Para responder esta questão proposta na aula de Antropologia Cultural foi necessário assistir a primeira parte do vídeo ‘Explorando a Amazônia com Bruce Barry'].
" O olhar não é neutro, ele me avalia e me atribui julgamentos de valores que são, ao mesmo tempo, verdadeiros e falsos, e por isso o outrem me constitui através de seu olhar". [Sartre]
Não há como responder esta questão de forma rápida, sucinta e objetiva. Isso porque é inequivocamente verdadeiro o fato de que nosso olhar está carregado de subjetividade. Portanto, quando olho o outro, todas as minhas crenças, a minha ideologia, a minha história vão perpassar pelo meu olhar. Por isso que cada um tem um olhar único, singular, privativo sobre o outro. Carregados de valores, verdadeiros ou falsos, como disse tão sabiamente Sartre. E é o nosso olhar que constitui o outro e vice-versa.
Geralmente ao olharmos o outro acabamos julgando, mesmo sem querer. É algo automático. Como se tivéssemos um dispositivo em stand by em nossos olhos, e, ao olharmos o outro, ele passa a funcionar. É isso que senti quando conheci os grupos indígenas Matis e Marugos. O dispositivo foi ligado... Por mais que eu tente não deixar que meus pré-julgamentos me turvem os olhos, meu olhar ainda é meio ‘torto’. Bem, mas como não dá pra fugir ao meu ‘olhar’, vamos lá!
O grupo Matis está tentando sobreviver. Sobreviver num mundo muito diferente dos seus antepassados, sobreviver às doenças desconhecidas para eles, trazidas pelos homens brancos, nós. Estão apáticos, vulneráveis, tristes e depressivos. Não vi manifestações culturais entre eles. Claro que deve existir, mas como eles, parece também estar morrendo.
Chego a pensar que não só um trabalho médico deveria ser feito com eles, mas também um trabalho a nível psicológico. Eles ‘estão’ no mundo, entretanto, parece-me que não estão conseguindo ‘ser’ do mundo. Ser significa, para mim, [ao menos] tentar perpetuar-se [através de sua cultura, por exemplo], e eles, talvez até por sua vulnerabilidade, pelas mortes recentes, não estejam conseguindo ser e, sim, apenas estar. Eles pediram ajuda ao mundo, espero que lhes seja dada essa ajuda, pelos órgãos competentes, e por todos aqueles que têm o poder de alcançar essa tribo.
Já o grupo Marugo ‘é’ do mundo. Estão enraizando seus valores naquela terra. Estão imprimindo no mundo a sua cultura. Formados por uma junção de sobreviventes de várias tribos, eles juntaram toda sua história, seus ritos e sua cultura como um todo, em favor da vida. Assim, formam um belíssimo caleidoscópio indígena, uma nova tribo. Em suas faces há vida. E cada olhar ali parece eternizar aquilo que veem, aquilo que fazem, aquilo que são. As manifestações culturais entre eles são ricas e podem durar dias.
Penso que vídeos como estes, embasados em pesquisas científicas, irão ajudar a mostrar ao mundo que os índios existem e co-existem harmoniosamente com a natureza e [tentam coexistir] com o novo, que lhes é apresentado. E há também a necessidade de tratá-los das doenças que esse ‘novo’ lhes trouxe.
Quando nos demos a conhecer, quando o homem branco chegou ao índio, isso gerou um grande dever: o dever de cuidar, ajudando no que for possível, sem tentar modificar ainda mais aquilo que já acaba sendo modificado apenas por nossa presença, por nossa visão aos olhos desses homens, também seres humanos, mas muito mais sábios e, até antes de nos conhecer, inalterados pela civilização ocidental.