O que é literatura? Uma perspectiva segundo José Veríssmo
VERÍSSIMO, José. . Que é literatura? E outros escritos. São Paulo: Landy, 2001. 291 p.
De acordo com Veríssimo (2001), várias são as acepções do que vem a ser literatura. Diversas definições do termo apontam, por exemplo, para caminhos distintos, sobretudo pelo fato de que há presunção de já se saber o significado que tal termo acompanha. Essa presunção possivelmente de desvaneceria se, ao seu turno, parássemos para classificar os livros por matérias, como também se fizéssemos esta distinção levando em consideração de uma forma criteriosa a separação entre ciência e arte.
Dessa forma, percebemos, por exemplo, as concepções diversas que apontam para caminhos distintos. Nesse ínterim muitos entendem literatura como: “conjunto da produção intelectual humana escrita; conjunto de obras especialmente literárias; conjunto (e este sentido, creio, nos veio da Alemanha) de obras sobre um dado assunto, ao que chamamos mais vernaculamente bibliografia de um assunto ou matéria”. (pg.23). A estas definições juntam-se outras, evidentemente. Dentre as que ainda não foi evidenciada está a que aponta para a produção de uma variedade de Arte que é a arte literária.
Veríssimo direciona suas reflexões, sobretudo para este último sentido. Chama a atenção para o processo bastante interessante de definirmos como arte a expressão de emoções por meio da escrita, da pintura, da escultura e da música. O sábio crítico responde à sua forma que esta definição admite, por nos comoverem, os artifícios da língua, as maneiras de dizer, de modos de contar ou exprimir a manifestação de juízos e sentimentos.
Para Veríssimo, há uma forma incontestável de compreendermos o que deve ser definido como literário e não-literário. A ausência e presença de generalidade no pensamento e na emoção nos permitem afirmar que a separação entre obras literárias e científicas se afirma aqui. Seria o caso de afirmarmos que as obras que apresentam a generalidade no pensamento possuem um aspecto científico sendo, portanto, não-literária. Já as que apresentam a presença de generalidade de expressão possuem, por sua vez, grande valor literário podendo, dessa forma, serem tidas como obras literárias.
Para fazer essa distinção, Veríssimo apóia-se no pensamento de Moniz Barreto. Este último afirma o fato de que “tomar por objeto um aspecto ou manifestação da Vida, e exprimi-los de um modo cabal, torna literário um escrito” (pg.30). De acordo com Barreto, a obra literária trata do conjunto de assuntos que, ao seu turno, devem estar relacionados a impressão que se tem da vida.
Numa visão de conjunto, Veríssimo chega a conclusão de que se torna bastante seguro o fato de concebermos essa definição por esse aspecto. Quer dizer, o poema nos suscita emoção, ao passo que esse não é o objetivo do tratado científico que da sua forma pretende suscitar inteligência e não emoção como aquele outro. “É a faculdade de provocar emoções que dá a um livro interesse permanente e conseguintemente condição literária”. (pg.31).
É por esse motivo que Veríssimo acaba por afirmar a permanência da obra científica e a não-permanência da literária. A primeira é duradoura por tratar da abrangência do pensamento, isto é, suscitar a inteligência, a segunda é transitória por suscitar emoção.
Apesar de todas essas definições aparentemente “incontestáveis” como disse o próprio Veríssimo, ele ainda assim questiona o posicionamento de Barreto. Para Veríssimo, a definição de Barreto é excelente, porém, não é cabal. A definição aceita de que a emoção seria o principal elemento da obra literária não mostra até que ponto vai para chegar a essa conclusão. Nesse ponto, Veríssimo questiona se não haveria na literatura obras descritivas e narrativas como as viagens e a história, e, também, as especulativas como a filosofia e a crítica, entre outras.
A definição, portanto, do que vem a ser literatura deve passar pela observação que os fatos impõem. Não há um elemento único que nos permitam afirmar o que é ou deixa de ser literatura.
VERÍSSIMO, José. . Que é literatura? E outros escritos. São Paulo: Landy, 2001. 291 p.