FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DE MATO GROSSO

A cultura é a essência de uma sociedade, que se manifesta através da dança, do canto, da literatura, do artesanato... Através dos hábitos, costumes e crenças religiosas. Um povo sem tradições vivas é um povo sem raízes, infeliz. É um povo que não consegue vislumbrar a felicidade. Por isso é tão importante manter as tradições vivas e sempre que possível expressá-la, mostrando-a para toda a sociedade, compartilhando-a com todos os povos. Mostrar ao outro o que nos faz únicos mesmo sabendo-nos iguais, cada um com suas especificidades e particularidades ímpares.

É isso que foi de extrema importância para Mato Grosso, e principalmente para Cáceres, a realização do FIFOLK/ MT - Festival Internacional de Folclore de Mato Grosso, realizado no período de 22 a 26 de setembro de 2010. Segundo dados que constam no site da Prefeitura Municipal de Cáceres, ‘músicos dançarinos, músicos e folcloristas de dois continentes se reuniram numa grande confraternização, com a intenção de levar a mensagem de paz, harmonia e integração entre os povos’.

Cáceres teve uma participação considerável no festival. Além do Grupo Meio Ambientalista e Cultural Chalana - um dos idealizadores do Festival - outros grupos puderam se apresentar. Entre eles estava o grupo Guató, pertencente a um órgão que procura estudar e resgatar a história e as tradições de mais de dois séculos de existência de Mato Grosso, e, que procura despertar interesse nos jovens de todos os níveis de escolaridade. É a UNEMAT, Universidade do Estado de Mato Grosso, que com o Projeto Guató vem insistentemente tentando proporcionar este resgate, para que nossas tradições não se percam, não sumam, não evaporem.

As tradições de Mato Grosso são representadas através de danças, músicas e festividades religiosas, foi possível observar, na apresentação que o grupo pertencente ao Projeto, realizou: a dança do Cururu, com toda uma beleza singular.

O Cururu nasceu da camada humilde e da região rural e retrata a sociedade típica formada pelos primeiros colonizadores do estado. É uma dança formada em círculos, geralmente em homenagem a algum santo, executada ao som de uma ou mais violas de cocho, acompanhadas de uma ou mais ganzás.

Depois de muito cantarem e dançarem, uma toada triste e sentimental, nostálgica e cheia de reminiscências, cada um mostra suas habilidades poéticas repentistas. Foi assim a apresentação do grupo. Vestindo-se de branco, os homens de chapéus claros e lenços no pescoço. Participaram tanto cururueiros idosos quanto jovens.

Já a Bolívia participou com a camada mais jovem. Membros do Centro Cultural Aires Bolivianos, que foi fundado em 1958, já participaram de diversos festivais pela América Latina, EUA e Europa. O Centro possui diverso acervo de trajes e muitos de seus trajes estão expostos em museus pelo mundo afora.

A dança apresentada foi a ‘Cueca’. Uma dança senhorial onde os casais dançam com lenços e essa dança denota o flerte realizado pelo par masculino na conquista do amor do par feminino. Compõe-se de três partes, sendo a primeira parte de conhecimento entre o casal, a segunda parte o flerte propriamente dito e a última parte, a conquista. A moça geralmente traz um lenço branco na mão, como realmente pudemos constatar, vestem ‘polleras’ – saias, e os homens vestem roupas indígenas ou citadinas.

Muita cor, muita alegria o grupo passou para o público. Jovens e alegres, os pares, bem ensaiados, e exibindo profissionalismo, demonstraram sua cultura de forma espetacular. Com cores fortes e vibrantes abrilhantaram o festival.

Outras formas de manifestações artísticas se fizeram presente. Na praça de eventos havia muitos artesãos da cidade. Expondo seus trabalhos, mostrando toda sua arte. A rica arte oriunda do pantanal mato-grossense. É muito interessante ver que, até nós mesmos, moradores da cidade de Cáceres, nos deslumbramos com os trabalhos feitos aqui. E penso realmente que este deslumbre seja necessário, até mesmo imprescindível para que nossa cultura permaneça, se consolidando cada vez mais, e tendo o mérito e o valor, que a mesma merece.

Tínhamos ali também, a disposição de quem quisesse [e pudesse] comprar, vários tipos de alimentos e bebidas. Não pude observar comida típica, apenas toda a sorte de lanches comuns a qualquer praça de alimentação. É penoso perceber que em época de festival, seja qual for, nacional ou internacional, as pessoas que trabalham no ramo alimentício superfaturam os preços de suas mercadorias culinárias. É triste fato este. Porque as pessoas presentes nos festivais, em sua maioria, são daqui da cidade mesmo, ou do entorno. Nossa renda não é em dólar, ou euro ou libras esterlinas. A realidade é outra. Mas isso já é outra história...

Foi muito bom participar deste evento neste momento das nossas vidas, cientes de sermos construtores de nossa história e a cada dia, sendo capazes de colocar mais um tijolinho na construção da nossa identidade enquanto acadêmicos e, principalmente, sermos capazes de exercitar nossa cidadania.

Faz-se necessário dizer também que, com o conhecimento que a Antropologia Cultural nos traz e com a interação que a professora Vivian nos possibilitou, naquela memorável noite, foi possível o diálogo entre a teoria e a prática.

Milena Campello
Enviado por Milena Campello em 14/10/2010
Reeditado em 14/10/2010
Código do texto: T2556482
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