Historieta: Um encontro com Deus às avessas... (Capitulo II)

Mas quem era esse tal Gabriel? Não tinha formação religiosa, o que lhe havia acontecido, por onde havia andado? Por que acreditou no amigo?

Vamos voltar no tempo... O ano 1925, um belo menino nascia filho de pais ricos com religiosidade de aparência, criado por babás, amamentado por uma ama-seca, a famosa mãe preta de leite, a lição mais poderosa que o pai lhe deu era que: “o dinheiro compra tudo, até as consciências!”

Sua mãe vivia ocupada com festas e recepções para angariar fundos para instituições beneficentes, com isso vivia em salões, bebia e fumava, pois isso era símbolo naquela época de mulheres fortes e liberais.

Assim foi sua formação familiar e quando esse atingiu a idade para ir ao internato, o seu pai disse:

_ Amanhã você embarcará para a Suíça.

Ele tinha 10 anos e já dominava três idiomas, além do português, mas sua alma estava vazia das lições grandiosas do amor.

Ao chegar ao internato percebeu a frieza que estava abrigada nas paredes do imenso castelo e que ela contaminava as pessoas que ali trabalhavam, não havia aconchego ali.

Naqueles dias frios dos Alpes sentiu a solidão e a ausência dos apertos de sua babá Antonieta que era o mais próximo do afeto que ele conhecia.

Chorou e quando foi levado a presença do diretor da instituição de ensino, ouviu dele a seguinte recomendação em bom francês, que era a língua da moda naquele momento:

_ Homem não chora. Você por acaso não é homem?

Engoliu em seco sua dor e limpou suas lágrimas e respondeu conforme as instruções:

_ Sou homem sim senhor!

_ Então retome as suas atividades e não me apareça mais aqui por motivo fútil.

Essa foi à recepção que recebeu do diretor da instituição. E nos dias que se seguiram descobriu que o caminho era o silêncio e a obediência.

Depois de três anos no internato retornou ao Brasil apenas por precaução, pois se iniciava a segunda guerra mundial, agora um jovenzinho com hábitos de leitura e reclusão.

A ama-seca pergunta ao jovem rei de retorno ao lar:

_ Por que não acompanhou seus pais a essa festa?

_ Eles me parecem estranhos.

_ Como estranhos? Eles são seus pais.

_ Eles nem me escreveram quando estive fora. Meu pai nem me abraçou quando cheguei. E minha mãe passa a maior parte do tempo dela nas festas e na cama. E quando sai com eles para aquele baile na casa do presidente do país, eles ficavam falando o quanto eu era inteligente e como seria um bom partido para as moças casadouras.

_ Eles só estão pensando no seu bem.

_ Nunca vi alguém querer o bem do outro sem perguntar o que o outro quer.

A ama-seca calou-se, pois viu que o jovem estava realmente magoado com seus pais.

A ama-seca de Gabriel era uma liberta (descendente de escravos) que fora educada por seus antigos patrões, que haviam morrido durante o surto da peste, foi ela então contratada pelos pais de Gabriel, a quem havia feito um pedido:

_ Senhor permita que eu leia para o menino durante a noite?

_ Acaso sabes ler? Foi à pergunta incrédula do pai de Gabriel.

_ Sim!

_ Então que assim proceda!

Riu-se de si mesma, pois durante anos devorou a biblioteca da casa e durante as noites lia para o pequeno e a sua babá Antonieta, que até já está alfabetizada.

O menino se apaixonará pelos livros graças às leituras de sua ama-seca, cujo filho havia nascido morto.

Ele sempre lia histórias para as duas e treinava as línguas fazendo-as escutarem várias vezes uma mesma frase, elas sempre foram o único público e as únicas a aplaudirem Gabriel em suas leituras.

Continua...