Mais de Caracas...

15 de dezembro de 2013 – no quarto


Após passar o dia quase todo sentado numa cadeira na entrada do hotel, com o computador plugado na energia e acessando a internet, resolvi sair da rede mundial e voltar para o aconchego do apartamento 504, meu novo endereço até o dia 22 de dezembro. Agora são 19:20 em Caracas (21:51hs no Brasil). Tenho vontade de dormir, mas ao mesmo tempo sinto que ainda é cedo. Peguei o notebook para dar uma olhada no que tinha escrito no Word e tentar escrever algumas linhas a mais. Apesar de não estar nem um pouco inspirado, acho que talvez meus escritos possam ser corrigidos depois e incluídos em algum livro ou capítulo de livro que eu venha a publicar.


Refletir, refletir... Sempre é bom, mesmo quando nossa mente e estado geral de consciência não tem nada para refletir. Estou meio que desmemoriado, sem informações no cérebro, completamente abestalhado.


Faz alguns minutos a “Ama das Chaves” tocou a campainha e me entregou duas toalhas quentinhas. Depois me perguntou se queria água. Assenti e ela me pediu a garrafa, encheu e me devolveu. Aqui não tem frigobar, a única bebida é água numa garrafa, com pedras de gelo. Estou no quinto andar, de frente para a rua. Me lembra um pouco um hotel que fiquei em Belo Horizonte. A paisagem é meio parecida, mas o clima, a língua, a programação da televisão, é tudo diferente. Estou como que numa ilha. Entendo e falo um pouco e espanhol e isso me basta para sobreviver, ainda mais que não gosto muito de falar. Acho que sou um pouco autismo. O som das coisas, das palavras, de tudo, me deixa aborrecido. Ainda vou me aposentar por incapacidade total. Nunca tive forças para trabalho pesado, não tenho inteligência pra trabalho mental nem lábia para trabalho persuasivo. Não gosto de tratar com público nem gosto de rotina. Me resta a aposentadoria... Que venha logo. Mas pela “lei”, ainda devo trabalhar uns dez a doze anos. Se eu estiver vivo e em forma até lá, terei o gostinho de não sair de casa todo dia, e de não fazer mais nada neste mundo. Ai que delícia.


Estou deitadinho debaixo de dois cobertores, sem o ar condicionado, que não condiciona porra nenhuma, desligado, assistindo quase cem canais, em espanhol, na televisão. Botei o celular para carregar a bateria e meti a tomada do computador para não descarregar a bateria dele. Escrevendo bobagens, sem querer preencher o tempo nem querendo parar o tempo. Só estou aqui vegetando, aproveitando para ser um animal, verdadeiramente animal. Já comi uns dois pedaços de pizza ruim. Risos. Hoje, depois da fome que passei o dia todo, com preguiça de sair para comprar alguma coisa, esta pizza horrível está menos horrível. Bebi dois copos de água gelada e vou beber uns três mais antes de dormir. A fome faz o sabor da comida. Parecia algo especial. Até senti um saborzinho gostoso... o que não faz a fome...


Eu acho que nenhuma língua e nenhum conhecimento é melhor ou pior do que outro. Para se aprender uma língua, basta bombardear o cérebro com sons e associações com palavras. Neste caso, para alfabetizados.  Em relação a conhecimentos, basta treinos e mais treinos. Assim se fazem países, constituições, moedas, linguagens.


Hoje ouvi na televisão que caridade, solidariedade e outros “dades” não passam de trapaças dos humanos para sobreviver. Nada têm de desprendimentos desinteressados. É tudo uma forma de beneficiar a quem pratica, ou seja, não se direciona ao outro, mas sim a si mesmo. Em resumo, somos todos muito egoístas.


Estou pensando no café de amanhã, el desayuno. Após encher a pança com pão, manteiga, suco, café, frutas, vou sair pela cidade, pegar um ônibus e ir até o centro, circular, parar, comer algo diferente, tirar fotos, curtir a cidade de Caracas.

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 03/10/2010
Reeditado em 25/12/2013
Código do texto: T2535696
Classificação de conteúdo: seguro