Historieta: A arte de educar... (Capitulo XIII)

Ana e Gustavo freqüentavam uma associação de familiares e amigos dos portadores da síndrome de down. Duas vezes na semana os pais e as crianças se reuniam para conversar e trocar idéias sobre os avanços que faziam juntos aos seus filhos.

Durante uma dessas reuniões os pais também prestavam seus depoimentos, ou seja, contavam as suas historias.

Armando era um dos pais de uma das crianças e naquela manhã o escolhido para contar a sua história.

_ Eu sou o único homem entre vocês, então me desculpem se eu ficar constrangido, certo?

_ Certo! Disseram todos inclusive dona Augusta a mãe de Armando e companheira na arte de educar o pequeno Carlos.

_ Eu namorei uma moça e ela ficou grávida, mas não me disse nada. Eu descobri por causa de uma tia que trabalhava numa instituição que cuida de crianças abandonadas. Assim que ela teve a criança e vendo-a portadora da síndrome acho que ela se apavorou e o deixou lá, quando minha tia soube quem era a mãe ela me ligou, eu fui lá e fiz os exames à criança era minha, então eu adotei meu próprio filho.

_ E a mãe?

_ Nunca mais procurei saber.

_ Por quê? Perguntou Ana.

_ Ora ela havia abandonado o próprio filho.

_ Mas será que ela não ficou com medo...

_ O que quer dizer com isso? Perguntou Armando.

E Ana contou a todos a história que Cláudia havia contado sobre a irmã que fazia cursos de forma desenfreada para fugir, falou de si mesma.

Todos ficaram em silencio depois do depoimento de Ana.

Então ela completou dizendo:

_ Não é fácil para muitos de nós que temos um filho assim e nós temos apoio, instrução, entendimento, e como será para os outros que muitas vezes não possuem nenhuma informação sobre o que vão enfrentar? Sobre o preconceito? As dificuldades? Que desconhecem os diferentes graus da própria síndrome provenientes da falta de estímulos? Com quem essas pessoas puderam contar no seu dia-a-dia? É difícil julgarmos sem conhecermos o outro lado da história? Além do que existe também a rejeição não declarada, aquela que camuflamos dentro de nós? É difícil julgarmos com precisão milimétrica o nosso irmão? Aconselho você, Armando a buscar saber o que houve com sua namorada antes de recontar novamente essa história para nós, já que sabemos hoje que há estudos sobre estados de depressão logo após o parto, desconhecemos as condições psico-emocionais dessa gestação, entende?

_ Sim! Obrigada.

Aquela fala de Ana havia despertado o interesse de Armando pela história de sua companheira do passado.

Mais tarde Armando buscou Ana e pediu para conversar com ela e perguntou se podia ser no fim de semana na casa dela.

_ Pode sim! Terei imenso prazer em receber você, sua mãe e o Carlinhos para um lanche no domingo. Pode ser assim?

_ Sim!

_ Então estou esperando vocês.

Despediram-se e saíram.

Continua...