Historieta: A arte de educar... (Capitulo V)

Antonia deixou a universidade com o coração oprimido e ao chegar ao carro, sentou-se ao volante e abriu sua bolsa pegando uma carteira de onde tirou uma foto de um jovem de 16 anos, as lágrimas rolaram grossas, soluçava quando Ana que saia da universidade a viu e então batendo no vidro da janela a chamará de volta a realidade.

_ Professora o que há?

_ Oh! Ana, eu fiquei sabendo que você está nos deixando. Disse Antonia saindo do carro para abraçá-la.

_ Mas não é por isso que choras?

_ Não! É pela tua coragem em abrir mão de tua carreira em prol de tua família. Coragem que eu não tive no passado.

_ Como assim?

_ Ana eu tive dois filhos, uma menina e um menino, eu estava em ascensão na minha carreira, meu marido era um empresário bem sucedido, dinheiro não era o nosso problema, então meu filho apresentou todos os sintomas da adolescência não direcionada, mas eu não podia abrir mão de me tornar doutora, nem podia abrir mão do estágio de seis meses em Paris... Antonia chorava novamente.

Ana abraçou-a e disse:

_ Vamos nos sentar a sombra daquela árvore, onde poderemos conversar um pouco, está bem?

_ Sim! Obrigada.

_ Deseja continuar a me contar sua história ou quer apenas um abraço?

_ As duas coisas! Disse Antonia agora sorrindo.

Abraçaram-se por alguns instantes e Antonia continuou:

_ Minha filha de 14 anos me disse que os amigos do irmão eram pessoas da pesada, perguntou-me “Por que eu deixei de ir ao cinema com eles? Por que não fazíamos mais as nossas refeições juntas? Por que eu precisava ir para Paris e deixa-los por um tempo sozinhos?” Ela tinha só catorze anos e me fazia um pedido de socorro que meu orgulho não me permitiu ver.

Ela fez uma pausa e continuou:

_ No aeroporto beijei meu marido, que me perguntou “Tem certeza que isso é o melhor?”. Claro! Foi minha resposta, acaso deseja que eu deixe minha carreira para ficar a sua sombra, ele entristeceu, mas calou-se. Abracei minha filha que chorou e eu lhe disse passa rápido, já estarei de volta. Meu filho olhou pra mim com uma tristeza profunda, ainda sinto aquele olhar penetrar a minha alma e rasgar o meu coração então eu lhe disse eu te amo! E ele me respondeu: “Então fica!” Não posso querido, mas volto logo.

_ O que houve depois? Interrompeu Ana.

_ Abracei a todos e embarquei. Seis meses passaram rápido e faltando dois dias para eu retornar liguei para casa e falei com minha família. Meu marido estava preocupado com nosso filho Andrei, que havia passado a se ausentar de casa por mais tempo desde que eu havia viajado. Senti nesta fala de meu marido uma acusação a minha pessoa então pedi para falar com nossa filha Alexa, que também se queixou de minha ausência, era apenas saudade, mas o meu orgulho não me permitia ver isso. Pedi para falar com Andrei que me disse assim: “E aí coroa quando tu ta voltando?” Que jeito horrível de falar filho! Disse eu reclamando e ele falou: “O que tu queres?” Quero falar com seu pai, fique com Deus filho... E antes que eu pudesse continuar ele disse um palavrão e passou para o pai.

Nova pausa e choro:

_ O que há com esse menino, Cláudio?

_ Não sei! Você é que é a especialista em comportamento. Diga-me você o que há?

Diante daquele ataque merecido, eu disse então está bem agora à culpa é minha... Mas antes que a conversa continuasse ouvi um barulho, um estampido, ouvi Cláudio gritando e ouvia minha filha em desespero...

Choro, soluços e Antonia continuou:

_ Meu filho suicidou-se. Voltei naquele dia mesmo em vôo fretado, quando cheguei em minha casa tomei conhecimento do diário de meu filho no qual ele sempre se dizia renegado e esquecido por mim. Fiquei sabendo que meu marido durante aqueles seis meses fora incansável em buscá-lo nos becos e nos hospitais aonde chegava sempre em estado lastimável. Eles lutaram, mas eu não estava lá.

_ Por que eles não te contaram com certeza você teria voltado? Não se culpe assim. Disse Ana.

_ A culpa é toda minha, pois eles tentavam e eu sempre minimizava a situação dizendo isso é rebeldia de adolescente.

_ A culpa não é boa amiga nunca, não se culpe! Repare esse erro arrumando as coisas com a sua filha e seu esposo.

_ Você não está entendendo todas as vezes que eu liguei de Paris eu discuti com meu filho, naquele dia eu o ignorei...

Pausa e lágrimas, continuando:

_ Depois do enterro, eu não conseguia seguir a diante entrei em depressão, voltei ao trabalho na universidade vinte dias depois, meu casamento ruiu, e na audiência a minha filha pediu para ficar com o pai, eu me vi só...

_ Seu esposo já se casou de novo?

_ Não! Ele nunca nem namorou ninguém.

_ E você?

_ Nunca.

_ Você o ama?

_ Sim! Ele foi o único homem em minha vida.

_ Então o busque. Depois recupere a confiança de sua filha.

_ Ela já tem vinte anos hoje.

_ E daí? O amor não tem idade.

Antonia abraçou Ana com força e sussurrou:

_ Obrigada!

_ De nada! Afinal eu ainda não cobro por conselhos. Ligue-me depois para contar-me o resultado. Risos.

Antonia estava com o ânimo recuperado e Ana saia do campos da universidade com a certeza de que fizera a coisa certa.

Continua...