Alunos, Professores e Escola Face à Sociedade da Informação
(...) Vivemos hoje numa sociedade complexa, repleta de sinais contraditórios, inundada por canais e torrentes de informação numa oferta de “sirva-se com quem precisar e de que precisar” e “faça de mim o uso que entender”. O cidadão comum dificilmente consegue lidar com a avalanche de novas informações que o inundam e que se entrecruzam com novas idéias e problemas, novas oportunidades, desafios e ameaças. (Alarcão, 2001).
A sociedade em que vivemos, devido as transformações decorrentes do capitalismo, que mostra-se como propulsor da evolução humana, exige de nós competências de acesso, avaliação e gestão da informação.
Desta maneira as escolas tornam-se o local onde estas competências serão oferecidas, adquiridas e reconhecidas pelos que fazem parte desta. Seguindo este pressuposto, teremos pessoas preparadas para conviver na sociedade denominada como “era da informação”.
O autor afirma segundo o pensamento de Edgar Morin que, apenas o pensamento pode organizar o conhecimento, e que para conhecer é preciso pensar, de forma que se tenha uma cabeça “bem feita” .
Reconhece-se que não pode existir conhecimento sem aprendizagem, e que a informação não é condição suficiente, ou seja, se a informação não for organizada, não se constitui em conhecimento, não é saber, e não se traduz em poder.
Fica exposto que, na era da informação e da comunicação, a escola não detém o monopólio do saber – o professor não é o único transmissor do saber e tem de aceitar situar-se nas suas novas circunstâncias mesmo sendo mais exigentes.
Sendo necessários a aquisição de novas competências para se conviver na era da informação, afirma-se que não só “fatos”, “métodos”, “conceitos” e “princípios” façam parte do homem, mas que o fato de possuir capacidades de “saber o que fazer” e “como”, ter “experiência”, “contatos sociais”, “valores” o levem à atingir a plena sabedoria.
Para todo este acontecimento tornar-se real, Longwort cria uma representação, apresentada da seguinte maneira:
(...) A escala da informação, precursor de aprendizagem, desenvolve-se em degraus que, partindo dos dados, se eleva, através da informação, da compreensão e da visão até chegar à sabedoria. A representação traduz a gradualidade do percurso, mas também a dificuldade crescente dos vários degraus, representada pela gradual altura dos sucessivos degraus. (Alarcão, 1996, p. 97).
Porém , quando há o insucesso na obtenção da sabedoria, não se deve culpar, ou responsabilizar apenas a escola, mas sim, analisar as capacidades individuais, e a desresponsabilização da sociedade como um todo, assim, assegura-se que não venham a serem marginalizados pela sua falta.
Remetendo-nos à visão de saber, o que exatamente é competência a ser desenvolvida em nosso aluno ou cidadão, temos os escritos de Philipe Perrenoud, aos quais remetem a noção de competência como “àquela capacidade de utilizar os saberes para agir em situação, constituindo-se assim como uma mais-valia relativamente aos saberes. Ainda possuir competência é saber mobilizar os saberes”.
Desta forma, a competência não existe sem os conhecimentos. Elas reorganizam e explicitam a sua dinâmica e valor funcional.
Ainda segundo Perrenoud “a abordagem por competências não pretende mais do que permitir a cada um aprender a utilizar os seus saberes para atuar”.
Refletindo sobre seus escritos, chegamos à visão de que para os cidadãos assumirem o papel de críticos, devem desenvolver a competência da compreensão, a qual se apóia na capacidade de escutar, observar, pensar, e utilizar as varias linguagens que permitem ao ser humano estabelecer mecanismos de interação e intercompreensão.
Remetemo-nos desta vez ao posicionamento que os alunos devem manter nesta nova sociedade, a qual ser aluno é ser aprendente. (Tavares, 1996).
Desta maneira, ao passo do aluno se tornar um ser que busca o saber, segundo Demo (apud Carreira, 2000) a sala de aula deixa de ser um espaço onde se transmitem conhecimentos, passando a ser um espaço onde se procura e onde se produz conhecimento.
Para tais atitudes serem levadas ao êxito, o autor mostra o quanto é desconfortante o caminho a ser percorrido por ambas as partes, porém delineia que, na medida do possível são realizadas experiências, das quais são extraídas ótimos resultados, os quais levanto e sugiro que sejam seguidos por tantos outros que estão passando por este momento.
Estes estudos postos em questão seguem com a finalidade de desenvolver a capacidade de autonomia através da organização de atividades que os incitassem a serem aprendentes ativos, visando uma aproximação familiar entre a escola e a vida, o desenvolvimento da auto-aprendizagem e da auto-estima. (Vieira, 1998; Carreira, 2000, Gonçalves, 2002).
Como resultado deste projeto, os alunos passaram a definir seus próprios objetivos e a tentar alcançá-los, deixando de ser objeto de projetos alheios para se posicionarem como sujeitos ativos, alargando sua capacidade cognitiva e metacognitiva na medida em que foram capazes de se questionar.
Logo que é colocado ênfase no sujeito que aprende, pergunta-se qual deve ser o papel dos professores?
Para responder a esta questão levamos a crer que os professores devem ter a capacidade de criar, estruturar e dinamizar situações de aprendizagem e estimular a aprendizagem e a auto-confiança nas capacidades individuais para aprender, ou seja, de forma mais sucinta, devem ser estruturadores e animadores das aprendizagens e não apenas estruturadores do ensino.
O professor deverá então ser um timoneiro na viagem da aprendizagem em direção ao conhecimento. Para isto, “é verdade que, hoje, ele (o conhecimento) se encontra disponível numa diversidade de formas e lugares. Mas o momento do ensino é fundamental para explicar, para revelar sua evolução histórica e para preparar a sua apreensão crítica. (Nóvoa, 2002, p.252).
Enquanto estes acontecimentos permeiam o círculo educacional, vemos que a escola deve ter um caráter:
De uma maneira em geral, as escolas permanecem na atitude negativa de se sentirem defasadas, mal compreendidas e mal amadas, ultrapassadas, talvez inúteis. Quedam-se a espera que alguém as venham transformar. E não percebem ainda que só elas podem transformar a si próprias. Por dentro. Com as pessoas que as constituem: professores, alunos, funcionários. Em interação com a comunidade local. (Alarcão, 2001, p.25).
Ao passo de as escolas que já se situaram quanto estes acontecimentos, passam a funcionar como comunidades auto-críticas, aprendentes e reflexivas. O que é definido como:
Organização que continuamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo. (Alarcão, 2001, b: p.25).
O fato principal a ser destacado é que esta escola que pensou em mudar e agiu, partiu de estratégias interativas e que aceitou-se as emergentes. Houve ainda, visão, capacidade de liderança e aceitação de idéias que emergem do grupo constituinte da escola.
Caracterizando uma escola reflexiva, aquela que faz parte de uma comunidade de aprendizagem e sendo um local onde se produz conhecimento sobre educação.
O autor encerra seguindo o pensamento de Morin, ao qual remete a necessidade de organizar o pensamento para compreender e poder agir no interior da escola.