Porque ainda acreditamos em príncipes

Das muitas frases, e-mails, brincadeiras, twittadas, etc. que presencio, a grande maioria destinada ao público feminino é simplesmente arrogante ou possui uma tentativa meio inútil de ensiná-las como se comportar ou não se comportar em um relacionamento. Com alguns pontos eu concordo, de outros simplesmente rio. Uma grande amiga me disse uma vez que não lia um determinado blog destinado às mulheres. Sua justificativa: “É muita realidade para os meus sonhos”. E, ultimamente, tenho concordado com ela.

Tenho sentido que o que tem acontecido é muito culpa desses novos tempos. Mais ou menos assim: As mulheres conseguiram sua independência (com a qual eu concordo plenamente), mostraram-se capazes de fazer muitas coisas que os homens fazem (exceto xixi de pé ou... deixa pra lá) e asseguraram um local de destaque no mundo que antes não tinham. Deixaram de serem as simples mães de família, cozinheiras, lavadeiras, mulherzinhas e passaram a ser donas dos próprios narizes. Isso é muito lindo, de verdade.

Mas houve uma falha no processo: em algum momento, o poderio de conseguir se equivaler ao homem fez algumas mulheres pensarem que não precisam deles. Amor deixou de ser requisito válido. Os homens passaram a ser todo um bando de palhaços sem a menor graça, que você usa, usa, usa e depois chuta com o salto fino.

E eles, claro, não aceitaram isso de bom grado. Começaram a tentar responder à altura, tentando colocar as mulheres em seu “devido lugar”, fazendo piadinhas, ofensas e outras cositas mais para novamente tomarem seu lugar de macho alfa e mostrarem a essas doninhas quem é que manda na parada, morou? E assim, as trocas de ofensas mútuas instalaram-se e entramos todos em uma grande batalha dos sexos.

Eu sinceramente não sei o que estava fazendo no momento em que passou a ser divertido dizer que “melhor que uma mulher, só uma mulher muda”. Fico meio zonza de ouvir alguém dizer que deseja um homem apenas musculoso (cérebro pra quê, né?), uma mulher apenas gostosona. Se alguém diz que precisa de amor para fazer sexo vira alvo de piada. O mundo em que a minha mãe vivia e tentou me ensinar, aquele em que alguém um dia viria somar e completar, ó... Escafedeu-se.

E nessas e outras as mulheres bem resolvidas viraram apenas mal amadas solteironas. E os homens machões viraram pegadores de balada. Não sei vocês, mas eu não vejo muita graça nisso.

Certa vez escrevi que as pessoas levam as coisas a pontos tão extremos, que se esquecem da simplicidade dos seus atos, da paixão que deles nascem. Não existe um livro de regras – pelo menos que eu tenha lido – dizendo que uma mulher bem resolvida, com um bom emprego e um salário decente, não pode render-se aos encantos de um homem. E eu nem quero que um dia escrevam um livro dizendo que abrir as pernas para qualquer um, à La Sex and the City, é super bacana.

Pois bem, desculpem todos vocês que tentam me enfiar goela abaixo as novas formas de viver modernamente, mas eu vou bater o pé e insistir em algo diferente. Eu ainda quero romance, flores, músicas de Chico, poemas de Drummond, jantares, beijo romântico, telefonemas de saudade, lágrimas de fim. Esse mundo tosco em que nos metemos só me deixa ainda mais desejosa do diferente. Ter alguém com os mesmos preceitos de vida que eu, faria de mim uma sortuda, felizarda, amada. Com licença, mas eu quero isso.

Sei que príncipes encantados não existem... Até porque, eles seriam imensamente chatos. Mas não é por isso que vou contentar-me com um vagabundo qualquer e agir como tal para chamar sua atenção. Enquanto eu tiver amor próprio, criatividade, inteligência e uma paixão inexplicável, prefiro não fazer essa dança estranha do acasalamento.

Eu não quero ter que abrir mão de agradar quem eu amo, fazer algo gostoso para ele comer, fazer-lhe uma massagem para aliviar o cansaço. E também não quero que ele não note meu corte de cabelo, que deixe de se encantar porque os olhos de nossos filhos têm o mesmo tom dos dele, ou que se esqueça da data do nosso aniversário.

Meus pais têm 31 anos de casados. Até hoje, andam de mãos dadas. Sonham com seus netos. Minha mãe contava histórias para eu dormir. Eu recebia mensagens de meu pai dizendo que era linda – e podia ser mais. Esse é o meu exemplo.

Há algum tempo li uma história, resumidamente assim: Um homem, ao pedir a mulher de sua vida em casamento, tomou um punhado de amendoins nas mãos, entregou-lhe e disse: “Gostaria que fossem esmeraldas”. Já perto da morte, ele lhe entregou um punhado de esmeraldas e disse: “Gostaria que fossem amendoins”.

Exceção? Sim, eu aceito. Obrigada.

Wisdom
Enviado por Wisdom em 12/09/2010
Código do texto: T2494335