Hume, o cético radical

David Hume, filósofo escocês, representa o tipo do empirista, o que leva suas idéias às últimas conseqüências. Hume, por ser considerado ateu, não conseguiu realizar seu tão almejado desejo de se tornar professor universitário de filosofia, porém exerceu funções diplomáticas e ficou muito conhecido como historiador. Criticava a noção de subjetividade de Descartes bem como o princípio da causalidade como princípio metafísico fundamental. Essas duas críticas são características de seu empirismo e deixam mais explícito seu ceticismo. Hume relativiza as impressões sensíveis que servem como provas para respostas empíricas, afirmando a existência do fator “eu”, por ele chamado de “self”, que influi em nossas percepções a partir das experiências de mundo. A exposição inicial da tese de Hume separa o conceito “ideia” do conceito “sensação ou impressão”, dizendo que aquela é apenas, em última análise, cópia desta. Mas o que podemos entender por cópia de sensação? A ideia pode trazer-nos instantaneamente à memória certas impressões de prazer e de dor, por exemplo, que já experimentamos ao longo da vida, no entanto nunca terá o mesmo efeito de uma sensação.

A priori, o pensamento humano parece ser mais ilimitado que tudo. Enquanto estamos presos a um planeta através do nosso corpo, nossa mente flui pelas mais longínquas galáxias e dimensões. Nada está além do poder do pensamento. Essa frase entra em contradição quando percebemos que a ilimitada mente humana depende, para a mínima ideia que for, de uma impressão. Podemos tomar Deus como exemplo. Deus é a junção de todas as qualidades humanas em um ser onipresente e onipotente, tais como a benevolência e a capacidade de perdoar ilimitadamente aumentadas. Então a frase bíblica se inverte: Deus é a imagem e semelhança do homem. Bastante pretensiosa a ideia, mas a isso tal contradição nos leva. Outro exemplo: Se a uma pessoa que viveu desde sempre numa civilização arcaica sem noções simplórias de astronomia for feita a seguinte proposição: “imagine um planeta”, ela não conseguirá formar em sua mente a imagem, pois não possui a simples noção de planeta. Mas a partir do momento que você mostra a ela uma laranja e diz “imagine essa laranja n vezes maior e na cor azul, esse é o planeta Terra”. Já que ela está vendo a laranja, basta apenas ter o conhecimento da cor azul, algo que deriva da experiência de qualquer ser humano, e pronto, a visualização é concretizada.

Não há dúvidas de que os pensamentos são conectados entre si. Um apresenta o outro sucessivamente, criando uma cadeia de idéias conexas que tem como objetivo um determinado fim. Mesmo em um diálogo de línguas diferentes constrói-se um nexo através das expressões, tons de voz e outros princípios universais. Um exemplo disso é a música: independente de você entender ou não a letra, a melodia traz uma determinada sensação (tristeza, alegria, euforia, paixão, esperança). Todos, de alguma forma, percebemos a conexão de idéia em nossa mente. Mesmo que seja algo involuntário, às vezes paramos para refletir sobre isso, principalmente quando nossa linha de pensamento cria teses extraordinárias. Bem, a conexão é fato, disso não há dúvida. Mas Hume fez algo mais. Ele classificou os princípios e associação da conexão do pensamento em: semelhança, continuidade no tempo ou no espaço e causa ou efeito.

Outro aspecto do ceticismo de Hume é a crítica à causalidade. De acordo com ele, não há experiência de causalidade como conexão necessária no plano real. O que ocorre na verdade são fenômenos regulares que acabamos caracterizando como a resposta absoluta através do costume e do desencadeamento dos acontecimentos. Segundo Hume, não é possível compreender a ordem conexa das coisas somente no plano dos pensamentos. É necessária, então, a utilização da experiência qual evento resultará daquele anterior. Mesmo com o experimento ainda não há certeza de que o processo seja regular e nem há autorização de criar uma regra geral para saber o desfecho de casos análogos. Sendo assim, a partir das impressões anteriores obtemos a idéia de conexão necessária. Para termos a noção do que foi dito anteriormente visualizemos o exemplo do jogo de bilhar: somente a partir do momento em que se dá a primeira tacada, consegue-se enxergar que o movimento da primeira bola está conexo com o movimento da segunda e assim sucessivamente.

Sinteticamente, o empirismo radical de Hume se apresenta de forma cética, enfatizando os conceitos de idéia e impressão conjugando-os em uma relação de dependência daquele a este. O ponto principal da tese de Hume é que o pensamento e a visualização imaginativa derivam de impressões decorrentes do cotidiano. Primeiro há o experimento, entende-se se ele é regular e toma-o como resposta. Enfim não há nada tão prazeroso e agradável para o ceticismo e para os céticos como Hume como a vulnerabilidade da capacidade humana e a limitação de sua razão.

Hellen Ferraz
Enviado por Hellen Ferraz em 29/08/2010
Código do texto: T2465850
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