Fichamento do livro: “O que é literatura popular” de Joseph M. Luyten

LUYTEN, Joseph Maria. O que é literatura popular. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. 73 p. (Coleção primeiros passos)

O vasto mundo da cultura popular e alguns aspectos no Brasil

O autor começa o livro chamando a atenção para o fato de que a poesia ocupa pouco espaço “diante de outras manifestações literárias” (p.7), sobretudo, a partir do século XX. Isso ocorre porque há uma valorização da prosa e o espaço de antes reservado a poesia dá lugar a ela. Mas não é apenas esse motivo. Também compreendemos que as sociedades humanas ainda “iletradas” utilizam da memória para guardarem o que consideram relevante. É o caso de diversos ditados populares como, por exemplo, “água mole em pedra dura tanto bate q até que fura” que tem uma forma bastante poética.

Se tratando de elementos dominados e dominadores, elite e povo nas sociedades, observamos que as tidas “elites” são mais abertas a aceitação do novo, de elementos que estão fora de seu contexto habitual, ao contrário do que ocorre com o povo que tem uma resistência a aceitação do novo e por sua vez, só aceita-o a medida em que aos poucos vai precisando dele.

Temos também o fato de que “a cultura popular abrange todos os setores da vida de um livro de povo” (p.8). Geralmente essa cultura, de certa forma, acaba por se opor á cultura erudita, oficial.

Há casos no Brasil em que a poesia narrativa supera a prosa. Essa poesia é reconhecida como literatura de cordel. As manifestações desse tipo de literatura são tidas por muitos como as de maiores destaques dentro da literatura popular. Esse fato chega a ser tão acentuado que essa literatura é tida hoje no mundo todo como “ cultura popular do povo brasileiro” (p.13).

As origens da literatura popular

A literatura popular tem sua origem a partir do século Xll como manifestação independente do “sistema de comunicação eclesiástico”. Sua principal característica é a linguagem regional e não oficial, quer dizer, a linguagem da literatura popular era a falada no âmbito regional sem levar em consideração a língua oficial que era o latim. Assim, essa literatura popular medieval nasceu da oposição á oficial da Igreja Católica. Com o passar do tempo a cultura popular se fortaleceu e então começou a dar “lugar a focos de línguas nacionais como o italiano, o francês provençal e o português galático (p.17).

Entretanto, foi na passagem do século XVlll para o XlX que a literatura popular se consolidou. Tomou consciência de se própria. No início houve um distanciamento entre o popular e o erudito, mas com o passar de alguns anos começou uma tendência de aproximação entre a cultura popular e a erudita.

As relações entre os aspectos orais e escritos

É evidente que a literatura popular surge em sociedades dicotômicas, quer dizer, onde há elite e povo. Compartilha, por sua vez, de elementos comuns como língua, religião, composição étnica e assim por diante. Mas é na sua forma oral que á literatura oral se destaca. Isso ocorre porque é ela feita por pessoas analfabetas, semi-iletrados e assim sua principal marca é a oralidade, a memória, em outras palavras, a comunicação direta entre estas pessoas e seus semelhantes. Ressaltemos – nesse ponto – que as expressões “analfabeto” e “ iletrado” não quer dizer nada de uma pessoa “ignorante” ou coisa parecida. Para isso basta lembrarmos, como exemplo, das grandes civilizações como a asteca e a inca em que os elementos não ressaltavam a escrita e ainda assim constitui um vasto legado cultural como fonte inesgotável de estudo.

Na literatura popular e erudita temos dois aspectos significativos que são a poesia e a prosa. Por se tratar de pessoas comuns, isto é, sem um nível elevado de escolaridade – na maioria dos casos – a poesia passa a existir como um intenso exercício de memória através de fixação de idéias, relatos e exemplos, muitas vezes, sem se dar no nível público e em sua maior parte cantada.

Nesse ponto é possível identificarmos a coexistência de dois tipos de poesia “fixa” e “ móvel”. A fixa, entendemos, ser constituídas por poemas e versos decorados e passado adiante pelas pessoas que constituem essa literatura. A outra expressão que definimos como “móvel” é os chamados “repentes” que são improvisações de poetas em sua maioria cantadores que dão ritimos e rimas a um determinado tema. Geralmente os repentes não são registrados e os versos se perdem. Entretanto, isso não é muito de lamentar, pois essa modalidade artística tem como característica uma fonte inesgotável de criatividade. Essa poesia repentista “para os poetas populares, é como bolhas de sabão. Sempre se fazem mais” (p.25).

A prosa engloba contos, lendas, teatros, etc. diversas lendas históricas populares são bastante conhecidas em várias partes do mundo como é o caso da “chapeuzinho vermelho”, “ a bela adormecida”, entre outras. Mas aqui observamos um fato curioso. É que muitas lendas e histórias populares é passada de uma geração para outra de forma oral e quando são registradas e publicadas sua tendência é enfraquecer ou desaparecer. O mesmo não acontece com a poesia que tende a perdurar independentemente de terem sido registradas e publicadas.

A literatura popular em outros países: África, Europa e América

Em países de língua árabe ou na índia há também contadores oficias de historia. “A pesar de existir poesias repentistas nestes países, é a prosa que predomina uma vez que tanto as línguas árabes como as indianas, são extremamente doces e cheias de termos “poéticos” já na comunicação diária” (p.26).

Na Europa embora a prosa seja muito bem representada é a poesia, que mais marca a literatura popular. Com a invenção da imprensa (1450) iniciou-se também as primeiras impressões de poemas populares. “É da península ibérica que vem o nome literatura de cordel pois os livretos eram expostos em lugares públicos pendurados sobre barbantes”(p.33).

É na America que encontramos o maior produtor de poesia popular de todo o mundo que é o Brasil. Enquanto as escolas literárias se voltaram para certos modelos europeus, a literatura popular já expressava a realidade e a cultura de todo o povo brasileiro. Essa produção é tão vasta que se torna muito difícil não dar ao Brasil o legado de maior produtor de poesia popular.

A literatura popular no Brasil: variedades e ilustrações da literatura de cordel

Há uma diferença entre prosa e poesia popular no Brasil. A prosa raramente é registrada e publicada. A conhecemos através dos escritos folclóricos e, em parte dos casos, não é acessível ao grande publico. Isso ocorre de uma forma bastante distinta com relação à poesia. Há diversos livros de poesias popular a qual chamamos de poesia de cordel com referência a Portugal e Espanha onde os livretos eram expostos no varal como roupas. Estes livretos, isto é, essa tida poesia de cordel se espalha por todo o Brasil. Esse tipo de literatura foi mais intensamente desenvolvida no nordeste.

Alguns grandes autores da poesia popular brasileira

*Leandro Gomes de Barros (Pombal, PB.19-11-1865 – Recife, PE,04-03-1918)

*João Martins de Athayde (Ingá, PB.1880-Recife, PE , 1959)

*Cuíca de Santo Amaro(Salvador, BA , 1910- Salvador BA , 1965)

*Rodolfo Coelho Cavalcante (Sergipe, 12-03-1919)

*Raimundo Santa Helena (Paraíba, PB, 06-04-1926)

*Franklin Maxado (...)

Urbanização e popularização da poesia popular

A literatura de cordel ao longo dos anos sofreu muitas mudanças não necessariamente na estrutura, mas na essência. Isso quer dizer que a temática abordada pelos poetas cordelistas aos poucos foi deixando anseios de paz, elementos das tradição de lazer para se concentrar mais no aspecto político e social ressaltando as dificuldades e os anseios das camadas populares não somente do nordeste , mas de todo o Brasil. Com o êxodo rural isso se intensificou. Não mais o campo dos camponeses – na maioria dos casos – mas a situação das favelas, dos marginalizados habitantes periféricos das grandes cidades do país , salvo exceções é claro.

Referência:

LUYTEN, Joseph Maria. O que é literatura popular. 2. ed São Paulo: Brasiliense, 1983. 73 p. (Coleção primeiros passos )

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 28/08/2010
Reeditado em 23/09/2020
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