O que é literatura? Fichamento de um livro de Marisa Lajolo

FICHAMENTO DO LIVRO:

LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 10. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1989 98 p

CAPÍTULO l

A autora Marisa Lajolo começa o livro mostrando a divergência entre concepções do que venha a ser “literatura” e como ela interfere nas reflexões que envolve por um lado sua conceitualização e por outro os seres humanos, de uma forma geral. Para isso começa citando dois autores. O sociólogo norte-americano Marshal McLuhan e o professor Vítor Manuel de Aguiar e Silva. Para McLuhan os escritores são “os últimos sobreviventes em uma espécie em vias de extinção”, pois, “já não serve para nada escrever e publicar livros” (p.07). Na contramão Vítor Manuel afirma que “a literatura não é um jogo, um passatempo (...), mas uma atividade artística que, sob multiformes modulações, tem exprimido e continua a exprimir, de modo inconfundível, a alegria e a angústia, as certezas e os enigmas do homem” (p. 07).

Nesse ponto, Marisa ressalta o fato de que estes dois autores são intelectuais e por isso formam – cada um por si – um juízo culto. Entretanto, ainda segundo a autora, as perguntas e respostas sobre o que é literatura ultrapassa qualquer intelectualismo e na multidão de pessoas um e outro pergunta-se já obtendo uma resposta, também por si próprios sobre o que é literatura. Por isso, as “perguntas” são “permanentes” e as “respostas”, “provisórias”.

CAPÍTULO ll

“Será que é errado dizer que literatura é aquilo que cada um de nós considera literatura?” (p.10). Marisa passou todo o capítulo tecendo considerações sobre o que é literatura. Questiona se é literatura um simples poema que alguém escreve e mostra a um número reduzido e pessoas. Se é literatura um romance, história de bruxas, peças de teatro igualmente desconhecidas, como também algum dos livros conhecidos de Jorge Amado e Vinícius de Morais ou um texto escrito em spray em alguns dos muros de edifícios da cidade. “Será que tudo isso é literatura? E, se não é, por que não é? Para uma coisa ser considerada literatura tem de ser escrita? Tem de ser editada? Tem de ser impressa em livro e vendida ao público?” (p.14).

“A resposta é simples. Tudo isso é, não é e pode ser que seja literatura. Depende do ponto de vista, do sentido que a palavra tem para cada um, da situação na qual se discute o que é literatura” (p.15).

CAPÍTULO lll

Nesse capítulo a autora afirma, por sua vez, que “a obra literária é um objeto social” (p.17). É objeto social pelo fato de que nasce da relação social ou comunicativa entre autor e leitor. Entretanto, reflete com mais calma e envolve um detalhamento necessário para a devida compreensão sobre esse tema tão vasto e relativamente controverso. Nesse ponto, Marisa observa que mesmo afirmando que a literatura só existe por haver esse intercâmbio social, não podemos compreender a sua contextualização apenas por esse aspecto. “Para que um texto seja considerado literatura (e aqui talvez, alguns leitores gostassem de uma inicial maiúscula... Literatura) é preciso algo mais do que livre trânsito entre seu autor e um eventual leitor” (p.17).

CAPÍTULO lV

O que se entende por uma obra “clássica”? Inicialmente são obras produzidas em um determinado período da tradição literária. Autores, por exemplo, da Grécia, de Roma, do Renascimento, etc. Entretanto, o significado de “clássico” é hoje marcado visivelmente por um juízo de valor. Para Marisa esse juízo de valor pode conceber como clássico tanto a uma partida de futebol, quanto um livro. Para se referir a livros pode-se, portanto, conceber como clássico a uma obra definida por leitores ou estudiosos do assunto como uma certa produção que pode significar excelência, boa qualidade, etc. Nesse ponto um autor ou texto pode ser considerado clássico independentemente do tempo e do lugar. Na acepção dessa palavra basta apenas, portanto, que a obra seja considerada como “excelente”.

CAPÍTULO V

Posto tudo isso, podemos compreender que a questão sobre o que é literatura envolve, por sua natureza, uma série de significados, pois para a questão há várias respostas. Aqui é fundamental percebermos que não há verdades absolutas. “Não existe uma resposta correta, porque cada tempo, cada grupo social tem sua resposta, sua definição para literatura” (p.25).

Nessas tentativas para responder esta questão, diversos critérios são evidenciados. Assim, aspectos como “o tipo de linguagem”, “as intenções do escritor”, “os temas e assuntos de que trata a obra” (p.25), entre outros, são levados em consideração devida ou indevidamente pontuados.

Nesse ínterim, a autora esclarece o fato de que independente das conceitualizações estabelecidas, por quem quer que seja, o que cada um entende por literatura continuará tendo o mesmo significado criado por ele próprio.

CAPÍTULO Vl

Nesse capítulo a autora retoma suas reflexões a partir do significado da palavra latina litteratura. Consultando o Aurélio concebe-a como derivada de outra palavra latina que é littera que significa letra e que, por sua vez, também é considerada como sinal gráfico que representa os sons da linguagem. Se seguirmos a risca essa definição chegaremos a conclusão de que há um entrelaçamento da noção de literatura com linguagem escrita. Aqui torna-se perfeitamente visível o fato de que a valorização intensa da literatura escrita acaba por privilegiá-la com relação à oral.

A esse respeito a autora cita como exemplo a produção literária do Trovadorismo. É evidente que a “canção de amigo e de amor” eram textos orais cantados e dançados. No entanto, estas manifestações orais só se transformaram recolhidas em Cancioneiros, portanto, escritas.

CAPÍTULO Vll

A linguagem sempre foi algo que fascinou o homem. Desde os primórdios da existência humana sua característica de nomear as coisas sempre esteve marcada por um processo de simbolização, sons e sinais gráficos. Nesse uso da linguagem há uma intensificação na relação entre homem e as coisas que o cerca.

Assim, o homem compreende que “os nomes não são as coisas” (p.35). E que a relação linguagem/mundo ora aumenta, ora diminui a “distância” e a “convenção” entre as palavras e as coisas.

Para Marisa, é nesse exato momento que nasce a literatura. Quer dizer, ela surge na manifestação mais radical da linguagem.

CAPÍTULO Vlll

Essa afirmação última de que literatura nasce da linguagem merece aqui uma informação mais específica. “Não é o uso deste ou daquele tipo de linguagem que vai configurar a literatura” (p.38). O que a configura (de acordo com a autora) é “a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação de produção e leitura que instaura a natureza literária de um texto” (p.38). Assim, não nos é possível falar em uma diferenciação que, por sua vez, separe, por exemplo, linguagem literária da linguagem coloquial. Portanto, o que torna a linguagem fundamento ou ponto de partida da literatura é a situação de uso da linguagem.

CAPÍTULO IX

Para falar de literatura devemos compreender também que a sua maior relevância não se dá na transmissão de informações. Muito pelo contrário. “Literatura não transmite nada. Cria. Dá existência plena ao que, sem ela, ficaria no caos do inomeado e, conseqüentemente, do não existente para cada um” (p.43). Para a autora isso ocorre porque a literatura tem a autonomia para nomear o que quer que seja independentemente de se a coisa nomeada tenha existência ou não. Portanto, literatura é a porta aberta para tudo possível, pois, não se limita ao real.

CAPÍTULO X E Xl

Nesses dois capítulos Marisa direciona a reflexão sobre o que é literatura para a Grécia antiga e Homero, Ésquilo, Eurípedes e Sófocles. Afirma, por sua vez, que nesse período grego surgem “as primeiras reflexões mais sistemáticas sobre aquilo que ainda hoje chamamos literatura” (p.53). Dessa forma, temos estas práticas literárias grega como o ponto mais alto para a literatura marcada pela poesia e pela tragédia ou o teatro.

Embora não usasse a palavra “literatura” também divergiam sobre ela, o que não é de surpreender. Discutiam, sobretudo, o que ela era e para que serve.

CAPÍTULO Xll

No período medieval o conceito de literatura passou a abranger distintas formas de expressão. Outros papéis lhe foram atribuídos e ela passou a interferir diferentemente na vida do “homem e da coletividade” (p.58). Essa interferência era marcada por um certo embate das tradições culturais do mundo grego com as da Idade Média. O fato é que diversas tradições gregas já disseminadas mundo a fora foi incorporada ao pensamento e a literatura medieval. O que permaneceu sendo aceito de uma forma bastante ostensiva tanto por uma tradição cultural, quanto pela outra foi a concepção de que a palavra era uma forma de “simbolizar o mundo e o lugar das pessoas no mundo” (p.58).

CAPÍTULO Xlll

Parece ser quase inquestionável o fato de que a literatura tenha um “poder transformador. Aqui cabe dizer que esse “poder transformador” está no ponto em que uma literatura ainda que produzida por uma elite e a ela destinada não se limita apenas a ela. Em casos diversos ultrapassa os limites, as margens e alcança as camadas marginalizadas que estão distantes dos “círculos oficiais da cultura” (p.64).

CAPÍTULO XlV

Diferentemente de uma literatura feita e destinada a uma elite, como foi o caso na Idade Média, no Romantismo as concepções do homem e da realidade no âmbito da literatura atingiu um público mais largo. Romances, por exemplo, foram publicados em jornais de grande circulação, por sua vez, alcançando um número maior de pessoas. Uma nova cultura e uma nova linguagem começou a serem retratadas no romantismo que, da sua forma, representava o homem, a natureza deste homem e o mundo que ele está inserido.

CAPÍTULO XV E XVl

Como processo de industrialização o romantismo foi murchando aos poucos. A linguagem foi tomando outras formas para retratar o homem a linguagem do momento. “A literatura começou a se pensar como documento, o retrato de uma sociedade que ela considerava injusta” (p.79).

É com esse pano de nasce o realismo. Era a intenção de descrever a realidade e difundi-la. Por isso renegam diversas concepções do passado e para isso afirmam essa nova forma de encarara a realidade.

CAPÍTULO XVll E XVlll

Com o fim do realismo/parnasianismo a linguagem que almejava transparência e neutralidade como a forma mais adequada de traduzir o mundo foi aos poucos perdendo essa característica precípua de distinguidora. “O fim do século foi também o fim da crença na neutralidade de uma linguagem literária” (p.91). Essa descrença é marca preponderante dessa distinta concepção de encarar a realidade e a literatura.

Marisa Lajolo conclui o livro afirmando que depois do advento da televisão a assertiva de que “não somos nem nunca fomos um país de leitores” (p.95), se intensifica tornando-se cada vez mais inquestionável. Nem mesmo a tradição escrita é característica do povo brasileiro.

LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 10. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1989 98 p

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 22/08/2010
Reeditado em 23/09/2020
Código do texto: T2452482
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