Dois Extremos (Parte 2)

O veículo que transportava os recém-contratados agentes de coleta municipal, Eustáquio e Bruno (popularmente conhecido como “Portinário”), fazia o mesmo itinerário todos os dias. Saía da Rua José Munhoz, cobria toda a extensão da Avenida Henrique Munhoz Garcia e Rua Gabriel Monteiro da Silva, passava pela Avenida Lincoln Westin da Silveira, além das ruas Dr. Marcial Júnior e Alf. Domingos Vieira e Silva, bem como pela conhecida Avenida Afonso Pena.

Havia ainda o motorista, o seu Barbosa, um senhor contador de anedotas, e de carisma inconfundível. O mesmo era viúvo e tinha dois filhos. Sempre disposto a ajudar os seus amigos, nunca perdia a hora, e todos os dias no final do serviço, reunia-se num boteco, na Rua João Pinheiro, para jogar xadrez e contar suas estórias.

Eustáquio, apesar de sonhador, mantinha sempre os pés no chão. Mas por nunca ter constituído uma família, se achava um homem bastante solitário. Era um telespectador fervoroso de novelas e um leitor dedicado de grandes romances. Apesar de ter cursado apenas o 1º grau, se via envolvido com motores desde os 16 anos de idade, uma herança lhe deixada por seu irmão de criação, o Antônio, falecido na última primavera. Quando seus pais morreram, o Antônio foi morar com D. Clara, uma devota cristã conhecida da família, que prometeu criar-lhe com todo amor. Esta era amiga de D. Ana, ambas se conheceram na infância, quando estudaram juntas numa antiga escola pública de Alfenas.

Em pleno verão de 1997, após um longo dia de trabalho, o Barbosa é convidado para uma confraternização de aniversário do seu compadre Roberto, de Belo Horizonte, que hora visitava a aconchegante cidade do interior mineiro. Os dois companheiros de trabalho, o Eustáquio e o nobre “Portinário” são por ele cordialmente convidados.