A Genética rompendo as barreiras do preconceito
Diante do terceiro milênio e dos avanços alcançados, o ser humano ainda não conseguiu quebrar as correntes do racismo, pois ainda assistimos justificativas para a diferença racial, grupos reivindicando seu papel na história e na sociedade e, além de tudo, discurso que preconiza que para combater o racismo, a sociedade deve criar mecanismos voltados ao atendimento de determinado grupo. São ações relevantes, sem dúvida, mas a genética parece nos indicar um outro caminho a ser percorrido, um refazer de discurso e, conseqüentemente, apresenta-se como uma divisora de águas nesse mar de “certezas”.
Embora o mundo seja compartilhado por diversas raças - muitas vezes essa diversidade numa mesma sociedade - encontramos explicações das mais diversas, de natureza científica à religiosa, expondo suas idiossincrasias sobre o assunto. De fatores ambientais a castigo divino, buscam o porquê de sermos “diferentes”, e o que vemos, com tristeza, é a incapacidade do ser humano de lidar com o seu semelhante e o distanciamento de se ter um discurso unificador das raças.
Além disso, nestes últimos anos, temos visto, com freqüência, a inúmeros debates que têm por um lado os defensores de cotas raciais e, por outro, os que defendem o acesso igualitário para todos. Carregam o discurso de séculos de subjugação e da falta de oportunidades produzidas, principalmente, pela escravidão. Situação que aprofundou as raízes do preconceito não só no Brasil, mas, principalmente, no mundo europeu.
Alguns representantes de segmentos raciais preconizam que para combater ou diminuir o preconceito é preciso a inserção desses grupos na totalidade de uma sociedade, desde o acesso à educação à representatividade na mídia, na arte, na política. Outros tentam impor uma educação, uma mídia, uma arte voltada para determinado grupo. Tais atitudes, embora louváveis, acabam contribuindo para a separação das raças e o aumento do preconceito; centralizar o debate em torno do ser humano seria o primeiro passo para combater o racismo.
É bem provável que todos esses discursos estejam perto do fim ou, pelo menos, que sejam refeitos. É o que podemos almejar depois de um caso recente publicado na mídia em que pais negros conceberam uma filha loira de olhos azuis. O episódio se torna mais complexo pelo fato dos pais não terem descendentes brancos, o que poderia justificar o acontecido. Cientistas ainda estão perplexos diante do fato e colocam a complexidade genética para tentar explicar o fenômeno, embora ainda sem respostas.
Independente de qualquer explicação ou justificativa para o fato, essa complexidade genética não nos aponta um novo caminho a seguir? O discurso racial seja dos que pregam e defenderam a superioridade racial e dos que defendem e combatem o racismo, não sofre um abalo com tal fenômeno? A natureza parece está apontando simplesmente que não há raças, mas a espécie humana, a raça humana. Talvez seja a hora de mudarmos nosso modo de pensar a questão do racismo, o discurso ideológico e muitas vezes irracional, que só legitima e aprofunda o preconceito e aumenta o abismo da desigualdade entre os homens para lançarmos numa tentativa de colocar a espécie humana no centro de qualquer debate.