Brinde
Escrever é para os homens tristes e solitários, assim como o vinho sobre a mesa de um bar em um sábado à noite, a taça esvaziando a cada minuto e cada gole descendo de modo a sufocar a angustia. Não quero mais beber, eu poderia estar acompanhado neste maldito bar, caminhos da vida, assim como eu poderia ser tudo que eu não sou, não queria ser esse homem solitário. Meus amigos, todos acompanhados nesta noite e então visto meu terno, me perfumo da cabeça aos pés, vou a um bom bar e peço esse maldito bom vinho na esperança de que uma hora surja uma companhia e sente-se nesta mesa. Ninguém se senta, semana após semana, nem esse perfume que acaba de passar por mim, vêm todas as noites aqui, desafogar as mágoas de seu emprego injusto, seu namorado cafajeste, merece algo, além disso, assim como eu, é tanta aflição, tanto desgosto que o vinho parece pesar sobre os nossos pés, ninguém se aproxima. Já penso em usar aliança e me dar por satisfeito com esta maldita solidão que me acompanha no mundo dos felizes, solidão que ocupa o espaço da minha maldita felicidade. Agora peço a conta ao garçom que sorri, ele é feliz, compro uma rosa e então a entrego a uma senhora qualquer que me chama de gentil e passo mais uma noite abraçado à solidão.