Atropelos da vida...
Sempre pensei que tinha exatamente a idade certa. Mesmo quando criança, nunca quis ser adulta, ser mais velha, nada disso. Sempre pensei que estava na melhor idade até que a proxima idade chegasse. Quando adolescente, continuava gostando de minha vida, e na verdade sempre me senti mais adulta que minhas colegas e as pessoas com a mesma idade que eu. Só que as vezes, ficava em dúvida de quantos anos mesmo eu tinha, a ponto de ter que fazer contas sobre o ano do meu nascimento, tipo, eu vou fazer 18 ou 19 anos? Achava estranho. Como alguém pode esquecer sua idade? Outro dia entretanto, me vi com a mesma dúvida. Vou fazer 26 ou 27? 27? não pode ser. Quase 30 anos? Juro, me assustei! Acho que porque por muito tempo fiquei com a vida quase que paralisada. Trabalhava na mesma profissão, meio em piloto automático, e devido a uma série de acontecimentos conjugais, também levava a vida da mesma forma, em piloto automático. Chegava em casa, conversava, as vezes brigava, as vezes e muitas vezes, sofria. Ai fingia que era tudo um teatro, que a minha personagem daria a volta por cima um dia. Esperava por mudanças que não vinham nunca e ao mesmo tempo sabia que não haveria tempo depois pra reviver. A vida não permite rascunhos, revisão literária e nem tão pouco correções no que se passou. O máximo que a vida oferece é a possibilidade de mudança para a página seguinte. Sim, eu vivi umas série de coisas que sonhei, como mesa com toalha em ponto cruz, um lugar simples, mas meu, onde eu me organizava e fazia pratos decorados, cuidava de uma horta. Mas hoje penso, eu vivi isso mesmo? Não, eu apenas incenei isso. Não havia alguém interessado em qual toalha estava na mesa, ou que notasse o tempo que levou pra decorar o prato. Eu que fingia que era desse jeito. Nunca houve paz, aquela que só se consegue quando existe amor. Quando isso acontece, quando há amor de verdade, mesmo existindo desintendimentos, existe paz, minutos depois, quando se abraça e se olha de novo nos olhos.
Então, hoje vejo que nunca vivi meu sonho. Tentei por pouco tempo, mas desisti. A vida é cheia de atropelos, vai colocando situações e quando você vê, 27 anos? Acho que parei nos 18, sim foi lá que parei minha vida, meus sonhos. Hoje Deus me deu uma chance perfeita de realizar tudo. Tenho a pessoa que faz meus olhos brilharem, que faz eu ter paz quando estou perto, que me conforta e me ama, como eu o amo, sem condições ou motivos. Tenho o homem que me mostra em seus olhos os netos que terei, e tudo o que sonho. Mas a vida segue um rumo que a gente traça, as vezes antes que tudo se concretize nos planos de Deus, porque ele nos dá o livre arbítrio. Hoje temo, que a vida de novo atropele meus sonhos, e peço a Deus, que exista tempo pra que ele se realize. Talvez seja esse o preço que tenho que pagar por ter permitido que minha vida parasse daquela forma. O preço de não viver mais o que já tinha que ter vivido, como se minha chance já tivesse passado? Mas será justo que esse preço seja pago por mais alguém? Não é justo que a pessoa que amo seja privado de parte dos seus sonhos ou planos por minha culpa. Temo ter que escolher, e temo não poder ter a paz que existe nele.
Que Deus me ajude!