O VELHO PROFESSOR
 
     No terraço mal iluminado pela luz da lua, o velho professor recostado na cadeira de balanço, tendo à fumaça de um cigarro que se finda no cinzeiro, tal qual sua própria imagem que lança seus últimos exemplos para os que o cercam.
    Os cabelos mal ajeitados e que se desenham num floco branco, marcando acentuadamente os anos de árduos esforços na educação de uma geração mais culta.
     As faces já com a tez empalidecida e encarquilhada pelo tempo, retratando em cada ruga a preocupação de formar mais uma célula atuante na sociedade.
     O olhar que outrora fora raio transmissor de ânimo a quem quer que fosse, hoje só estampa a paz de alguém que cumpriu fielmente a sua missão.
     Sua voz penetrante e incentivadora que ecoou tantas vezes na alma de cada estudante, hoje soa roucamente quando conta aos seus familiares a sua vida de mestre.
     As mãos que tanto escreveram também estão constantemente trêmulas, os passos trôpegos, a respiração difícil, em suma todos os seus traços caracterizam uma existência de luta e de um fim prestes a chegar.
     Ali repousa solitário e esquecido alguém que foi companheiro e incentivador de tantos.
     Onde estarão aqueles rostos que o contemplavam admirados, talvez por sua cultura e pelo seu caráter? Onde estarão aquelas figurinhas marcantes pelo mau comportamento e que contribuíram de um modo mais ativo para o envelhecimento desse grande homem? Onde foram todos os componentes das numerosas classes, que dele receberam as sementes que hoje frutificam?
     Onde estarão todos? Lembrarão ao menos uma vez na vida desse mestre?  Ou será que é como se nunca ninguém o tivesse conhecido.
     As façanhas do mundo não permitem que os homens olhem para trás, por isso cochila no ermo de sua varanda esse homem valoroso, esse homem abandonado, o velho professor.