Minha vida em 30 linhas

Estava nervosa. Finalmente faria meu primeiro vestibular, pediram que eu escrevesse uma redação sobre a minha vida, já havia acabado a prova e só faltava a redação e comecei:

“A morte de um ente querido abala muito. Mesmo depois de dois anos. Não aguentava mais ficar naquela bolsa, chutei, chutei, chutei. Ate que se rompeu uma luz forte veio ao meu encontro, e ouvi:

-Nossa Gabriela nasceu - exclamou a voz da minha mãe já exausta. Deram-me um tapa, dois, três. Respirei. O ar para mim era novo e tinha um gosto tão bom. Espera não era ar, era leite “Mmmmm” e era ótimo. Minha mãe exclamou quando fomos para casa:

- Quantas flores, e que lindo céu.

À noite conheci meu pai, avós, tios e primos. Eram todos muito estranhos. Menos mamãe. Ela era linda!

Esta era a primeira vez que eu me via: cabelos cacheados, claros como mel, olhos profundos e escuros como a noite e dentes de coelho pequeninos.

Quatro anos se passaram, e minha fase de bebê de colo também, hora de entrar na escola.

Primeiro ano no inferno: minha mãe me deixou numa tal de escola Seta, sozinha, chorando. Era uma sala cheia de crianças (também abandonadas por suas mães). A professora era Isabela. Ganhei amigos: Heitor, Carlos, Isabella, Bia Claro, Bia Godoy, Letícia, Gerson, Helena, Juliana, Felipe, Felipe Sansão, Breno, Claudio, Antonino, entre outros. Brincávamos feitos porcos, chafurdando na terra vermelha.

De repente, cheguei à 8ª série. Aquele primeiro dia no inferno está tão distante, que, agora é um paraíso. Tenho coxas de avestruz, olhos de jabuticaba, cachinhos dourados, cintura de manequim, pele aveludada e um sorriso cativante.

Feliz, animada, carismática, simpática, amiga, boa filha, boa irmã e extrovertida, são algumas das minhas qualidades. Amo animais e leitura, principalmente, sobre gatos.

Pretendo entrar na faculdade direto do terceiro colegial. Faculdade de Biologia. Casar, e ter duas filhas.”

Acho que foi porque eu contei minha história com vontade, que passei neste vestibular.