UMA HOMENAGEM A ALGUEM INESQUECIVEL

UMA HOMENAGEM A ALGUEM INESQUECIVEL

Marcial Salaverry

Durante toda nossa existência sempre existiram pessoas que de uma maneira ou de outra marcaram nossa vida.

Algumas por terem sido aquele alguém que julgávamos ser quem amaríamos até o fim, mas que foram breves episódios, mas mesmo assim deixaram certas marcas. Outras, por nos terem prestado alguma ajuda decisiva em certos momentos de nossa vida, ficaram para sempre registradas em nossa memória naquela cantinho das boas recordações.

Certamente houve algumas que nos fizeram algum mal, prejudicando nossa vida de uma forma qualquer. Quanto a essas, melhor esquecê-las, porque não vale a pena rememorar certas personagens desagradáveis. Más lembranças... melhor olvidá-las ...

Obviamente cruzei com todo tipo de pessoas em minha vida. De muitas, sequer recordo. Para que? Talvez para lembrar de algo a nunca ser repetido...

Contudo, de muitas outras, guardo lembranças muito agradáveis. São o que se pode chamar de "Tipos Inesquecíveis". Dentre essas, quero destacar uma figura, que posso dizer sem ferir quaisquer susceptibilidades, ter sido a grande responsável por eu ser hoje quem sou.

Seu nome é Rosina Pastore.

Foi minha professora no então "Quarto Ano Primário", e depois no "Curso de Admissão ao Ginásio". Anos de 1950 e 1951. Uma fase muito turbulenta de minha vida.

Por razões que não vale a pena lembrar, minha família estava desagregada. Cada qual estava por um lado. Morava com minha mãe e uma irmã 2 anos mais velha, num quarto de pensão na Rua Martim Francisco, em São Paulo, e estudava no Grupo Escolar Arthur Guimarães, na Rua Jaguaribe. Eu fazia parte de uma turminha "da pesada", com tudo encaminhado para cair na marginalidade. Como sempre fui grande e bom de briga, era o líder de uma turminha de micros marginais. Entre outras façanhas, costumávamos praticar pequenos roubos nas lojas do Largo do Arouche.

Numa dessas incursões, Dna. Rosina nos viu e, usando de sua autoridade, convenceu-nos a devolver as coisas para o lojista, e resolveu iniciar um longo trabalho comigo, por ter acreditado que meu futuro poderia ser bem melhor do que aquele que se estava delineando.

Jamais poderei esquecer as conversas que ela fazia questão de manter comigo após as aulas...

Foi essa a condição para não me expulsar da escola pelo que eu vinha fazendo. Nessas conversas, ela me mostrava a diferença entre ser uma pessoa de bem, e ser um malandro otário.

Fez-me entender que as possibilidades que se abririam com minha mudança de atitude, poderiam me proporcionar um futuro melhor.

Teve, enfim, toda a paciência e discernimento para me explicar uma série de coisas, dando-me lições de vida que jamais esqueci, cumprindo com sabedoria enorme o que ela resolveu se propor, ou seja, transformar-me em alguém na vida.

Aproveitei todos os seus ensinamentos. Devo a ela ser o que sou, pois naquela época, não poderia contar com minha família. Praticamente vivia por minha conta. Já estava pensando em parar com os estudos para ficar apenas "com a turminha". Num ligeiro preâmbulo, apenas acrescento que nenhum daqueles escapou. Todos viraram bandidos. Possivelmente esse seria meu caminho, não fosse a paciência e pertinácia de Dna. Rosina Pastore.

Jamais esquecerei sua figura, seu rosto doce e severo ao mesmo tempo, e nem tampouco de seus ensinamentos, e aproveito esta oportunidade para aqui render meu preito de homenagem a ela, e através dela a todos os professores e professoras que sempre procuram suprir junto aos alunos em que percebem algum potencial, as carências familiares, que por uma razão ou outra quase todas as crianças sentem... E que a sensibilidade e o carinho com que forem orientadas poderá traçar novos rumos em suas vidas.

E se, por acaso, algum descendente da mestra Rosina Pastore, ler este artigo, apenas digo que sinta muito orgulho desse figura para mim INESQUECÍVEL. Obrigado, querida Dna. Rosina.

Marcial Salaverry
Enviado por Marcial Salaverry em 08/06/2005
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