Daí um livro a quem tem fome
“No começo era o verbo. E o verbo era Deus” (Jo 1, 1). A passagem bíblica em João nos apresenta a palavra (verbo) como uma entidade mística, que retoma ao início dos tempos e por meio da qual foi criado tudo o que existe. É mediante a palavra, oral ou escrita, que o homem se torna “senhor” de sua criação, capaz de possuir discernimento para transcender a obscura ignorância que lhe povoa e conhecer as múltiplas instâncias que o universo da palavra esconde.
Não muito distante dessa filosofia, o ensino de Língua Portuguesa também deve primar pela leitura e produção escrita como formas de fazer do indíviduo “criador do seu mundo”. Deve preparar o aluno para lidar com a linguagem em suas diversas manifestações, pois o domínio da língua materna revela-se fundamental para o acesso às demais áreas de conhecimento.
O desenvolvimento do saber linguístico implica leitura compreensiva e crítica de textos diversos, além da produção escrita como mecanismos de compreensão do mundo. Na sociedade vigente, a produção textual é de suma importância ao desenvolvimento crítico-cidadão do homem. Porém, a comunicação escrita representa, para grande parte do alunado, um obstáculo nas várias ocorrências do cotidiano. Desse modo, a atuação conjunta da escola e dos professores se torna peça chave para a resolução desse desafio.
Cabe ao ser docente favorecer a conquista da capacidade do uso da linguagem pelos alunos, formando cidadãos leitores e escritores de uma cultura em que a escrita é dominante. Precisa ensinar as práticas de linguagem que vivenciam em nossa língua materna. A escola, por sua vez, deve garantir a relação dos alunos com os livros e a leitura, como espaço que permite o acesso à cultura letrada. E, ainda, repensar sua concepção de ensino, focada mais nos aspectos estruturais e normativos da língua, deixando de lado as especificidades linguísticas e sociocomunciativas.
A partir desses pressupostos, entende-se que o ensino de Língua Portuguesa se dá na medida em que professor e aluno se percebem sujeitos de um processo espiral, em constante construção, do qual resulta uma experiência significativa para ambos. A relação entre idioma e falante precisa ser mediada pelas habilidades nas áreas de leitura e escrita. Eis aqui o alimento essencial para o ser humano matar sua “fome”. Porque está escrito: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”, dos livros, dos professores e de sua própria boca. Amém!