Tragédia grega

A tragédia culturalmente conhecida pelo povo grego era uma forma de drama encenada para o público que, segundo Aristóteles, causava uma experiência catártica e, assim, costumava agradar a população. Entretanto, certamente a nação grega não está feliz com o drama financeiro que está experimentando e creio que, nem mesmo o povo que assiste atento à essa dramática 'encenação' da vida fiscal desse país, está contemplando o caso como uma catarse.

Na verdade, tenho por certo que a situação despertou um alarde entre os países que compactuam de uma condição financeira parecida, e, à semelhança desses países, cada cidadão que vive nessa aldeia capitalista agressiva também toma o momento para refletir sobre seus próprios gastos.

Embora seja, de fato, muito importante que planos finaceiros sejam traçados para solucionar o drama econômico da Grécia e de outros países, penso que é momento também para discutirmos a respeito daquilo que tem causado essa recorrência entre países e pessoas: o apelo pelo consumo, a vida sustentada pela extração dos recursos naturais, o gasto exagerado com serviços desnecessários - sobretudo para sofisticar a vida dos governantes -; enfim, a sociedade do prazer, regida pela sua vontade!

O deus Dionísio enquanto praticava suas orgias era cercado pelos seres meio humanos meio bodes, chamados sátiros, que em grego se escreve tragos, de onde surge numa mistura com outros nomes gregos a palavra tragédia. Não me espanta que na busca incessante pela complacência estejam já ao pé de nosso destino o caos das consequências. Nada poderia ser imagem mais perfeita do que têm vivido pessoas e nações com seus exagerados gastos e consumo.

A tão rica filosofia grega engendrou o pensamento ocidental e grande parte de nossa visão de mundo é produto de sua plataforma moral, assim pensava Martin Heidegger (1924). Entendo que o colapso comece com quem iniciou a mudança paradigmática de um tempo, mas é certo que aqueles que tomaram seus pensamentos como modelo também colherão os frutos. A França que o diga!

Sociedade do prazer em meio a um sistema puramente capitalista é uma bomba para a economia, para a autodisciplina e para a manutenção da paz. Sejamos claros nesse momento; é hora de redefinirmos nosso modelo de vida, não só nosso balanço orçamentário.