A história de Steven Mathman

Steven sempre se perguntava se seu erro, o qual ocorrera 30 anos antes, nos idos anos de 2030, deveria ter tamanha repercussão na mídia. Sabia, porém, que a escala numérica do erro era significativa, apenas isso explicaria todo o alarde.

Mesmo conhecendo quase todas as versões divulgadas pelos diversos meios de comunicação da época, continuou lendo a notícia pacientemente, como um bom físico que era, como se fosse pela primeira vez.

Era um livro de Geografia e atualidades datado de 2033 e a notícia tinha o título: "Erros nos cálculos de físico que provocaram mortes em marte". Já estava acostumado a ler títulos chamativos, porém gostou desse trocadilho no final desse último. Continuou a ler. No início, como era o padrão, uma introdução ao que a matéria propunha, falando algo relativo à importância de se realizar bons testes em experiências que envolvem cálculos complexos e, principalmente, pessoas. O texto foi até um pouco ofensivo, dizendo que o ensino de matemática ainda não era o suficiente para experimentos espaciais.

Quando chegou à citação do próprio nome começou a ler mais lentamente. Quando leu "Steven Mathman, um dos maiores físicos da época, errara nos cálculos que conduziam uma nave espacial que levaria suprimentos para a primeira população habitante de Marte, esse foi o fim do único projeto de exploração desse planeta".

Parou de ler. Seu único pensamento refletia a seguinte questão: "Por que nunca divulgavam a sua própria versão sobre o fato?". Nesse momento, relembrou algumas passagens daquela época.

Em 2028, quando recebera diversos prêmios de reconhecimento mundial na área de Física e Matemática, iniciou na equipe da Nasa responsável pelo grande projeto de povoamento de Marte. Foram mais de 18 meses de pesquisas teóricas, cálculos avançados e diversos testes (contrariamente ao que indicava a ideia do artigo). Participara de todas as etapas do projeto, inclusive nos cálculos iniciais que levaram a nave com as 100 pessoas dispostas a iniciarem vida em outro planeta. Tudo ia muito bem até o momento de levar a primeira leva de suprimentos...

Por algum motivo a comunicação entre o grupo em Marte e o da Terra foi interrompida, talvez por algum possível erro no sistema de radio, por isso, junto com os suprimentos estavam levando equipamento novo de comunicação. os cálculos de trajetória foram feitos novamente por Steven. Depois de terminado o cálculo, os dados foram introduzidos nos sistemas de computador da nave. Quando a nave já deveria ter chegado ao seu destino, não houve nenhuma resposta sobre o sucesso, pelo contrário, a resposta dada a base é que Marte não tinha sido avistada. Tudo indicava erros nos cálculos de Steven. A nave volta para a Terra e novos cálculos são feitos com as posições atuais dos dois planetas para salvar as pessoas que talvez ainda estivessem vivas, quando a outra nave chega em Marte, afirmando o pior: as 100 pessoas morreram por falta de suprimentos.

Foi feita uma comparação dos dados que Steven salvara no sistema com os que deveriam ter sido salvos. Realmente estavam diferentes. Steven sabia que não poderia ter errado nisso, já que o algoritmo utilizado foi o mesmo da primeira viagem. Comparou com suas anotações pessoais e estavam certos. Steven não errara nos cálculos, mas na replicação dos mesmos no sistema de computador da nave. Não poderia provar isso, apenas suas anotações eram a prova. Mesmo que pudesse, qual seria a diferença? As 100 pessoas haviam morrido.

Desde aquela época sua vida não fazia mais sentido, perdera seu prestígio e emprego como físico. Sempre que lia sua própria notícia, culpava-se e não encontrava forma de se desculpar para a humanidade. Dessa vez, porém, foi diferente: dia 09 de agosto de 2060, Steven Mathman se suicida com lado de um velho livro de Geografia.