Viagem
No ônibus cheio, em pé, ela segue sua viagem. Fecha os olhos para sentir o vento que vem da janela e imagina como seria se pudesse diferir o tempo, para que sensações como a brisa no rosto pudessem ser aproveitadas ao máximo. "Seria tão bom poder dominar o relógio", ela pensa. Talvez ela e o mundo, pois as pessoas vivem tudo tão rápido que parece que todos estão sempre muito atrasados para alguma coisa, que quase sempre é algum nada.
Tudo deve ser para hoje e para agora. É inaceitável esperar. Alguns ousam dizer que isto é o carpe diem de Horácio, mas ela não. Viver intensamente deve ser mais do que ter pressa. A pressa impede que as emoções se prolonguem. E essa com certeza não era a idéia do poeta.
Embora incipiente na vida, acredita que o tempo também escorre pelas mãos com a errônea concepção de que tudo deve ser para ontem. Se não pensasse assim, não sentiria prazer algum no vento batendo na face, mesmo desconfortável num veículo lotado.
"As horas infligem as pessoas, mas só me dão vontade de viver mais", ela conclui.
O seu ponto chega e ela salta do ônibus, mas sua viagem continua.